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Ecos da IIª Guerra Mundial – EUA recrutaram nazistas após 2ª Guerra, revelam documentos

Após a Segunda Guerra Mundial, a contraespionagem americana recrutou ex-oficiais da Gestapo, veteranos da SS e colaboradores nazistas em uma quantidade muito maior do que havia sido divulgado anteriormente, e ajudou muitos a se livrar da condenação ou a fugir, segundo a milhares de documentos antes confidenciais que foram divulgados no final do ano passado.

Com a União Soviética agindo sobre a Europa Oriental, "o ajuste de contas com os alemães ou colaboradores alemães parecia menos urgente e, em alguns casos, até contraproducente", afirma um relatório oficial publicado na semana passada pelo Arquivo Nacional.

"Quando foi revelada a história de Klaus Barbie, sobre sua fuga com a ajuda americana para a Bolívia, nós pensamos que não havia mais histórias assim, que Barbie era uma exceção", disse Norman J. W. Goda, professor da Universidade da Flórida e coautor do relatório com o professor Richard Breitman, da Universidade Americana. "O que nós encontramos nos registros é que houve um número razoável e que parece ter sido mais sistemático".

Em detalhes arrepiantes, o relatório também discorre sobre a estreita relação de trabalho entre os líderes nazistas e o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin Al-Husseini, que mais tarde afirmou ter se refugiado na Alemanha durante a guerra só para evitar ser preso pelos britânicos.

Na verdade, diz o relatório, o líder muçulmano recebia "a fortuna" de 50 mil marcos por mês (quando um marechal de campo alemão recebia 25 mil marcos por ano). Ele também disse ter energicamente recrutado muçulmanos para a SS, o comando militar de elite do Partido Nazista, e recebeu a promessa de que seria instalado como o líder da Palestina depois que as tropas alemãs expulsassem os britânicos e exterminassem os mais de 350 mil judeus da região.

Cáucaso

No dia 28 de novembro de 1941, dizem os autores, Hitler disse a Al-Husseini que a Afrika Corps e as tropas alemãs implantadas na região do Cáucaso iriam libertar os árabes no Oriente Médio e que "o único objetivo da Alemanha na região seria a destruição dos judeus".

O relatório detalha como o próprio Al-Husseini pôde fugir após a guerra com a Síria – ele estava sob a custódia dos franceses, que não quiseram se indispor com os regimes do Oriente Médio – e como os nazistas de alto escalão escaparam da Alemanha para se tornar conselheiros anti-israelenses e os líderes árabes "foram capazes de continuar e transmitir aos outros ideologias nazista e antissemitismo".

"Existe um contrato real entre os oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros nazistas com líderes árabes, incluindo Husseini, estendendo-se depois da guerra porque tinham uma causa na qual acreditavam", disse Breitman. "E depois da guerra, os verdadeiros criminosos nazistas – Wilhelm Beisner, Franz Rademacher e Alois Brunner – tornaram-se muito influentes nos países árabes".
 

Em outubro de 1945, diz o relatório, o responsável britânico da Divisão de Investigação Criminal Palestina disse ao adido militar americano no Cairo que o Mufti poderia ser a única força capaz de unir os árabes da Palestina e "acalmar os sionistas". "Claro, não podemos fazê-lo, mas ele pode não ser uma ideia tão ruim assim", disse, segundo o documento.

"Temos mais detalhes acadêmicos hoje das atividades militares de Al-Husseini durante a guerra, mas o arquivo da CIA indica que as organizações de inteligência dos países aliados reuniram uma parte saudável desta prova incriminadora", diz o relatório. "Esta evidência é significativa em função do tratamento indulgente a Al-Husseini após a guerra". Ele morreu em Beirute, em 1974.

O relatório, Hitler’s Shadow: Nazi War Criminals, U.S. Intelligence and the Cold War (A Sombra de Hitler: Criminosos de Guerra Nazistas, Inteligência dos EUA e a Guerra Fria, em tradução livre) surgiu de um grupo interinstitucional criado pelo Congresso para identificar e liberar arquivos antes confidenciais sobre crimes de guerra nazistas e os esforços das forças aliadas para conter os criminosos. Ele foi extraído de uma amostra de 1,1 mil arquivos da CIA e 1,2 milhões de documentos de contraespionagem do Exército que eram confidenciais até o grupo divulgar o seu relatório final em 2007.

*Por Sam Roberts

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