Colômbia espera que acordo de paz acabe com ressurgimento das FARC

John Otis

O ano de 2012 terminou bem para o governo colombiano e para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), engajados em diálogos de paz em Havana, o que pode pôr fim à última guerrilha da América Latina.

Em agosto – no meio de sua gestão de quatro anos – o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, anunciou que os dois lados iniciariam as negociações após uma cerimônia inaugural em Oslo, Noruega.

“As FARC não acabaram”, de acordo com uma análise do instituto Insight Crime, de Bogotá, ressaltando que o grupo terrorista “ainda opera em áreas de plantio de coca, de onde pode obter um lucro tremendo, aumentando cada vez mais sua participação no tráfico da cocaína processada.”

Os dois lados começaram a se reunir em Havana há vários meses para realizar diálogos preliminares que envolveram o irmão do presidente, o ex-editor de jornal Enrique Santos.

“Nós decidimos por Cuba por motivo de segurança e, acima de tudo, porque nos garantiria confidencialidade”, escreveu Enrique Santos no jornal de Bogotá El Espectador.

Começo difícil dos diálogos de paz de Cuba

Santos informou que uma das maiores dificuldades que surgiram durante os diálogos preliminares foi convencer o líder rebelde Jaime Alberto Parra Rodríguez a viajar para Cuba. Santos disse que os rebeldes receavam a saída de Parra da selva em um helicóptero do governo.

“Foi muito difícil convencer as FARC a … aceitar colocar [Parra] em um helicóptero fornecido pelo governo”, escreveu Santos. “No momento de pegá-lo, ele apareceu protegido por mais de 50 homens armados até os dentes. No fim, houve choro das guerrilheiras e uma cerimônia de despedida. Essa foi a primeira conquista: levar Jaramillo a Havana.”

Em uma coletiva de imprensa em outubro, após a cerimônia inaugural em Oslo, o negociador líder das FARC Iván Márquez não pediu desculpas pelos crimes de guerra das FARC.

Humberto de la Calle, negociador líder do governo, respondeu que se as FARC pensam que têm todas as respostas, seus militantes deveriam desarmar-se e testar suas ideias concorrendo a eleições. Ele ressaltou que muitos ex-rebeldes seguiram esse caminho, incluindo os presidentes de Brasil e Uruguai, assim como o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro.

Analistas dizem que a cartada final das negociações será convencer as FARC a se desmobilizar e formar um partido político, uma medida que os rebeldes já se recusaram a discutir anteriormente.

Anunciado cessar-fogo

Em 19 de novembro, Márquez anunciou um cessar-fogo unilateral de dois meses. Entretanto, autoridades colombianas disseram que, desde então, as FARC continuaram a atacar as tropas do governo e que quatro soldados foram mortos e 22 foram feridos em atentados rebeldes.

O presidente Santos se recusou a retirar as tropas do governo por achar que uma trégua daria às FARC tempo para ser recuperar e preparar uma nova ofensiva. Em seu discurso de fim de ano, o presidente defendeu seu recorde e disse que o número de rebeldes abatidos, feridos ou capturados subiu 18% no ano. O ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, ressaltou que as FARC agora possuem menos de 8.000 combatentes, enquanto outro grupo rebelde menor, o Exército de Libertação Nacional (ELN), que também pode juntar-se aos diálogos de paz, conta com menos de 1.500 militantes.

Santos também deu a entender que cancelaria os diálogos de paz caso não haja avanços até o fim de 2013.

José Roberto Leon Riaño, diretor da Polícia Nacional colombiana, recentemente disse a repórteres: “Nós temos visto [as FARC preparar explosivos e] adquirir equipamento militar como uma garantia para uma onda de terrorismo quando a trégua acabar”.

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