China afirma buscar ‘relações amistosas’ com Talibã após tomada do Afeganistão

O governo chinês anunciou nesta segunda-feira (16) que pretende manter “relações amistosas” com o grupo Talibã, que tomou o poder no Afeganistão durante o fim de semana. Os países são vizinhos e compartilham 76 quilômetros de fronteira.

A China "respeita o direito do povo afegão a decidir seu próprio destino e futuro e deseja seguir mantendo relações amistosas e de cooperação com o Afeganistão", declarou à imprensa a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying. "Os talibãs indicaram várias vezes a esperança de desenvolver boas relações com a China", afirmou a porta-voz, antes de garantir que a embaixada chinesa em Cabul, capital afegã, "continua funcionando normalmente".

A China já havia se pronunciado sobre a situação do Afeganistão nas últimas semanas e classificou como "irresponsável" a saída repentina dos Estados Unidos do país, o que poderia desencadear uma guerra civil. Em setembro de 2019, o governo chinês iniciou um diálogo com os talibãs, chegando a receber uma delegação na China.

Em 2016, Pequim incluiu o Afeganistão em seu projeto de infraestrutura, as "Novas Rotas da Seda". No entanto, por falta de segurança, os investimentos chineses foram modestos no país: 4,4 milhões de dólares em 2020, de acordo com o ministério do Comércio. Já o Talibã afirma que busca o diálogo.

Mohammad Naeem, um dos porta-vozes do grupo, falou com a agência de notícias Al Jazeera sobre a situação. "Pedimos para que todos os países e entidades se encontrem conosco para resolvermos qualquer tema. Nós conquistamos o que queríamos, que é a liberdade para o nosso país e independência para nosso povo. Não achamos que as forças estrangeiras vão repetir sua experiência fracassada no Afeganistão mais uma vez."

Biden e Johnson planejam reunião do G7 sobre o Afeganistão (EUA)

O presidente americano, Joe Biden, e o premier britânico, Boris Johnson, conversaram nesta terça-feira sobre a crise afegã e concordaram em organizar uma reunião de cúpula virtual entre os líderes do G7 sobre o assunto, anunciou a Casa Branca.

"Eles concordaram em fazer a reunião na semana que vem, para discutir uma estratégia comum", expressou o governo americano, após a tomada do Afeganistão pelos talibãs.

Na conversa, Johnson e Biden "saudaram a cooperação dos Estados Unidos e do Reino Unido" nas operações de evacuação, de acordo com um boletim de Downing Street.

Eles também observaram "a necessidade de uma cooperação estreita entre aliados e parceiros democráticos" na questão afegã, informou a presidência dos Estados Unidos.

É a primeira conversa de Biden com um chefe de Estado ou de Governo desde a queda de Cabul, após 20 anos de intervenção militar de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, na qual o Reino Unido desempenhou um papel importante.

A decisão de Biden de retirar os últimos soldados americanos do Afeganistão até 31 de agosto e a maneira como Washington administrou a operação foram abertamente criticados no Reino Unido.

'Impactante': veteranos dos EUA não escondem sua amargura com a queda do Afeganistão

Um soldado americano está em frente à seção do cemitério de Arlington, perto de Washington, onde estão enterrados soldados que morreram no Iraque e no Afeganistão.

Dez anos depois de voltar do Afeganistão, Marc Silvestri queria apenas uma coisa: que seus companheiros também pudessem ir para casa. Mas assistir à retirada caótica dos EUA deixou este veterano do exército americano em choque.

"Os últimos dias não foram fáceis", disse à AFP Silvestri, agora com 43 anos e chefe dos serviços de veteranos em Revere, Massachusetts.

"Nunca imaginei que, com todo o treinamento e dinheiro que investimos no exército afegão, eles simplesmente largariam as armas e entregariam as chaves do país. Isso tem sido impactante para mim", disse ele.

Para os soldados da guerra mais longa dos Estados Unidos, o retorno repentino do controle talibã no Afeganistão trouxe consternação, raiva, resignação e preocupação, tanto pelos aliados afegãos, quanto pelos compatriotas que participaram das operações.

Em apenas alguns dias, o exército e o governo afegãos entraram em colapso. No domingo, Cabul caiu sem lutar quando os talibãs entraram na cidade e o presidente, Ashraf Ghani, fugiu do país.

Para o militar Chad Fross, a retirada das tropas norte-americanas, decidida pelo presidente republicano Donald Trump e confirmada por seu sucessor democrata Joe Biden, "sempre seria um desastre", independentemente de quem a tenha feito, devido à falta de compreensão do Afeganistão.

"Muitas pessoas vão perguntar 'Por quê? Foi inútil ir para lá. Assistir meus amigos morrerem, serem mutilados ou enlouquecerem'", disse Fross. "Mas, ao mesmo tempo, me pergunto o quão mais inútil seria continuar lá quando seria o mesmo resultado daqui a 20 anos."

– "Muita raiva" –

Os veteranos estão particularmente preocupados com o destino das mulheres afegãs sob o controle do talibã. Quando governaram, entre 1996 e 2001, os extremistas islâmicos minaram os direitos das mulheres, proibindo-as de sair ou receber educação.

A invasão americana melhorou a situação de meninas e mulheres no Afeganistão, especialmente nas áreas urbanas, mas esses avanços agora podem ser perdidos.

"Esses ideais que pensamos que iríamos garantir lá são o que eu acho que incomoda muitas pessoas", disse Chad Fross. "Me incomoda também".

Biden, que disse não se arrepender de encerrar a missão no Afeganistão, prometeu evacuar "milhares" de cidadãos americanos e afegãos que colaboraram com as forças americanas.

Essa promessa é talvez a mais valorizada pelos veteranos. A ideia de deixar seus irmãos afegãos sozinhos em face do medo "muito real" de retaliação dos talibãs é insuportável para eles.

"Eles nos ajudaram e estamos deixando-os em apuros. Acho que isso está errado", disse Fross, resumindo o sentimento de outros veteranos entrevistados pela AFP.

A Associação de Veteranos Americanos do Iraque e Afeganistão (IAVA) pediu às autoridades que redobrassem os esforços para evacuar os auxiliares afegãos das forças armadas dos EUA.

“Devemos cumprir nossas promessas àqueles que se sacrificaram tanto por nós”, disse Tom Porter, representante desta associação, em um comunicado.

Porter disse à AFP que sentiu "muita raiva" de parte dos veteranos, não por causa da retirada das tropas em si, mas por causa "da forma desordenada e caótica" como isso foi feito.

Nas redes sociais, os paralelos se multiplicaram entre as imagens infames das forças dos EUA deixando o Vietnã e as do Afeganistão.

 

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