Argentina produz primeiro colete à prova de balas para mulheres das forças de segurança

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Eduardo Szklarz

A Argentina começou a fabricar seu primeiro colete à prova de balas especialmente para as mulheres que trabalham nas forças de segurança do país.

O Colete Multiameaça Feminino 2.2, um dos poucos modelos femininos no mundo, foi projetado e fabricado 100% no país pela empresa estatal Dirección General de Fabricaciones Militares (FM) conforme exigências do Ministério de Segurança da Argentina.

“A proteção é multiameaça porque o colete é antibalas e antiperfurante. Ou seja: protege tanto contra os impactos de projéteis como os de armas brancas”, diz o Coronel Enrique Vizzo, diretor da Unidade Produtiva da FM em Fray Luis Beltrán, na província de Santa Fe, onde o colete é fabricado.

Até agora, as mulheres das forças de segurança usavam o tamanho pequeno do modelo masculino, o que era bastante desconfortável. O novo colete se adapta melhor ao corpo feminino, garantindo maior proteção e liberdade de movimento. O artefato também é mais leve – pesa entre 2,9 kg e 3,3 kg, dependendo do tamanho, enquanto o modelo masculino pesa 3,5 kg, em média.

“O colete foi pensado para proteger as mulheres das forças de segurança de forma mais eficiente e permitir a igualdade no desenvolvimento de suas aptidões”, diz o Cel. Vizzo. “Existem alguns coletes femininos [no mercado] que são somente balísticos e com taças rígidas – o que os torna muito mais incômodos do que nosso modelo.”


Trauma mínimo

A alta resistência do colete se deve à sua composição de poliamida com Kevlar, uma fibra sintética leve e resistente que impede a penetração da bala no corpo. Além disso, a espuma antitrauma garante um amortecimento que ajuda a prevenir ou minimizar a lesão.

O mecanismo é simples: ao ser atingido por um disparo, o colete detém a bala através da deformação das fibras do tecido e do próprio projétil. Essa deformação dissipa a energia do impacto em todo o colete e evita que a bala entre no corpo, minimizando a lesão.

O efeito é semelhante ao de uma bola de futebol que voa para dentro do gol. Quando a bola bate na rede, a energia cinética se transfere para toda a rede. Geralmente, o trauma ocorre quando o colete evita a penetração de um projétil, mas não consegue dissipar o impacto localizado, explica o Cel. Vizzo.

“Se o trauma for muito grande, o golpe pode quebrar um osso ou danificar um órgão importante e inclusive provocar a morte – mesmo que não haja perfuração no colete”, explica.

Embora esses casos não sejam comuns, o trauma sofrido por uma pessoa que usa o colete da FM está entre os mais baixos registrados no mundo. “Isto garante que as oficiais que receberem um disparo continuem de pé, controlando a ameaça ou repelindo o ataque”, diz o Cel. Vizzo.

Os Coletes Multiameaça FM podem suportar impactos de projéteis de armas de fogo como .357 Magnum e 0,9 milímetros, o que lhes confere um nível RB2 de proteção balística, segundo a norma do Registro Nacional de Armas da Argentina (RENAR).


Colete salva a vida de policial argentino

O subinspetor da Polícia Federal da Argentina Pablo Alejandro López está vivo graças à eficiência da versão masculina do colete.

Em 6 de agosto de 2014, ele foi emboscado ao perseguir criminosos pelos becos na cidade de Rodrigo Bueno, em Buenos Aires.

“Um bandido disparou em mim mais de meia dúzia de tiros a um metro de distância”, disse à agência de notícias Télam . “Na hora, não senti nada, mas meus companheiros me contaram que tiraram um dos projéteis da parte frontal do colete.”

A versão feminina do colete que salvou López será igualmente eficaz e proporcionará um maior grau de segurança para as mulheres que trabalham nas forças de segurança, diz o presidente da Fabricaciones Militares, Santiago Rodríguez.

“Mas também é um reflexo do avanço de nossa sociedade no campo da igualdade de gêneros, já que foi o próprio desempenho profissional das nossas agentes que tornou evidente essa necessidade”, completa Rodríguez.

Esforço conjunto

O projeto de fabricação de coletes à prova de balas na Argentina começou em 2012, quando a FM projetou o produto seguindo rigorosas diretrizes internacionais. No ano seguinte, a filial da FM em Fray Luis Beltrán iniciou a produção do Colete Feminino Multiameaça 2.2, que serviu de base para o modelo feminino.

Em maio de 2015, a FM firmou convênio com o Conselho de Segurança Interna da Argentina (CSI) para fabricar 55 mil coletes à prova de balas, que serão utilizados pelos policiais de 11 províncias, além da Polícia Federal Argentina (PFA), da Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA), da Prefeitura Naval e da Gendarmeria Nacional, que patrulha a fronteira. A iniciativa foi possível graças a um esforço de coordenação entre o Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTI) e os Ministérios da Segurança, Indústria e Desenvolvimento Social, além de seis cooperativas e empresas pequenas e médias que confeccionam as bolsas dos coletes.

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