GANGUES – A Mara Salvatrucha: Ritos e Associações

 

Andre Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos.

 

A organização criminosa denominada Mara Salvatrucha ou MS-13 é atualmente a maior e mais violenta do mundo, ligada  ao narcotráfico e à prática de outras dezenas de crimes como homicídios, tráfico de armas, extorsão, prostituição, roubo, assaltos, sequestros, roubo de veículos e vandalismos. Calcula-se que tenha ramificações na Guatemala, El Salvador, Honduras, México, EUA, Canadá e Espanha, e conte com cerca de 70 a 100 mil integrantes, dominando diversos estabelecimentos penais destes países.   

O fenômeno de seu surgimento é extremamente interessante. Ocorreu nos subúrbios mais pobres da cidade de Los Angeles (EUA), nas décadas de 70/80, quando imigrantes salvadorenhos, fugitivos da sangrenta guerra civil que se desenvolvia naquele país, passaram a ser assassinados por gangues rivais norte-americanas e hostilizados pela população local. Como defesa, criaram um grupo com a designação de Mara Salvatrucha. Mara, que significa bando ou gangue de rua , e Salvatrucha, a designação do país de origem, embora muitos já fossem cidadãos norte-americanos descendentes de  salvadorenhos.  

O número 13 possui diversos significados. Além de uma homenagem a  Mexican Máfia,  que controla outras gangues hispânicas e domina os presídios do sul da  Califórnia, está relacionado com a idade em que o jovem pode ser aceito na organização além dos segundos  de espancamentos que  é submetido para  mostrar sua coragem perante os demais. 

Seu crescimento foi fomentado basicamente por duas decisões equivocadas das autoridades estadunidenses à época. A primeira, a de agrupar os presos  nas  penitenciárias por etnias, o que fortaleceu a identidade do grupo por questões de sobrevivência , além de  originar  outras facções também famosas por seu grau de violência como a Black Guerrilla Family e  a Arian Brotherhood.  O segundo, quando resolveu extraditar para El Salvador as principais lideranças da MS-13, as quais já possuíam fortes laços com os EUA, amplas conexões com a criminalidade local e conhecimento de como se processava o tráfico de drogas.  Encontraram um pais devastado pela  guerra e, neste ambiente, tiveram as condições ideais para crescer até se constituir  em um poder paralelo ao do Estado.

Inicialmente, seus membros eram identificados por determinados sinais e  tatuagens em todo o corpo, a exemplo de outras organizações como a  japonesa YACUZA. Com elas, abandonavam sua individualidade e assumiam o compromisso coletivo de fidelidade, sendo uma  demonstração de coragem e pré-disposição para correr riscos durante toda a vida. As tatuagens e seus significados mais conhecidos são o MS tatuado em  letras góticas, que era permitido apenas após o assassinato de um  membro de uma gangue rival. A tatuagem do Cifre no peito indicava a condição de grupo fechado. A lágrima, tatuada logo abaixo de um dos olhos, demonstrava  que seu detentor possuía algum familiar morto por rivais ou mesmo pela polícia. Atualmente, pela facilidade de identificação e prisão de seus integrantes, estas práticas foram abandonadas parcialmente, segundo afirmou um de seus ex-integrantes, que colaborou com as autoridades, mas acabou sendo morto pela gangue: “se você tem tatuagens e já matou alguém,não há mais como voltar atrás”.

 Estimativas de agências de inteligência apontam que estes grupos apresentam tendência de crescimento em todo o mundo levantando, inclusive, a hipótese  da possibilidade de infiltração de redes terroristas. Alguns cartéis mexicanos, como os Los Zetas, estariam oportunizando treinamento às gangues centro-americanas na selva da região de Péten, na Guatemala , enquanto o  Cartel de Texis aposta no recrutamento de membros da MS-13.
 
A obra de Tom Bruneau, “Maras: Gang Violence and Security in Central America”, é esclarecedora em diversos aspectos, inclusive sobre os motivos do uso contínuo das Forças Armadas no chamado Triângulo do Norte, composto por El Salvador, Guatemala e Honduras. “Quando se está imprensado contra a parede e a polícia não consegue mais resolver, então  apelam para os militares. O processo de aprendizado é tão difícil e, todavia, a necessidade é tão grande, que a colisão entre essas duas realidades geralmente resulta em erros em relação aos direitos humanos. Há ainda a possibilidade muito real, especificamente em El Salvador, de que as gangues de rua já não têm mais medo dos militares.”

Nesta conjuntura, e sem políticas claras para a segurança interna, as autoridades destes países optaram por acordos com o MS-13 e outras gangues, iniciativa condenada por muitos especialistas que acreditam que deva acarretar em maior fortalecimento dos Maras e suas conexões, com  ênfase  na  América Latina.

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