Santos nomeia políticos, generais e empresários para diálogo com Farc

Javier Casella
Reuters


 Para tentar resolver pela via do diálogo um conflito de quase meio século, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, apostou na diversidade. Ele escolheu um grupo amplo de dez pessoas – de empresários a ex-ministros, passando por generais considerados ícones da linha-dura – para representar o Estado nas negociações de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que se iniciam no próximo mês, na Noruega. O chefe da delegação será o ex-vice-presidente e ex-ministro do Interior Humberto de la Calle. E a primeira vitória, segundo analistas locais, foi a possibilidade de apaziguar os ânimos dentro do governista Partido de la U – rachado entre o apoio majoritário ao processo de paz e o bloco de aliados do ex-presidente Álvaro Uribe.

Uribe é um feroz defensor do fim das ações militares das Farc como precondição ao diálogo e o ideólogo de uma violenta política de repressão à guerrilha. Mas, ontem, apesar de reiterar suas críticas quanto às negociações, disse à Rádio Caracol "respeitar os dez negociadores". O tom baixou, em parte, segundo analistas, pela presença de dois nomes da equipe: o dos generais Óscar Naranjo, ex-diretor da Polícia Nacional, e Jorge Enrique Mora Rangel, um militar de carreira conhecido como implacável estrategista. Ambos donos de enorme influência sobre as forças de segurança, próximos a Uribe e experientes – uma vez que estiveram envolvidos nas últimas negociações, dez anos atrás.

– Isso me preocupa porque Mora Rangel nunca acreditou no processo de paz. Pode ser uma pedra no sapato. Ele foi uma pedra no sapato da paz. Tomara que as pessoas mudem e que ele também tenha mudado. O papel dos militares é muito importante neste processo – ponderou o ex-presidente Andrés Pastrana, que comandou aquelas negociações.

Irmão de presidente ficará na retaguarda

As críticas, porém, não abalaram a confiança de Santos. Ele reuniu alguns dos dez negociadores para fazer uma apresentação oficial, num pronunciamento na Casa de Nariño (sede do governo). Sob o comando do ex-vice-presidente Humberto de la Calle, de 66 anos, na linha de frente das negociações com a guerrilha estarão, ainda, o conselheiro de segurança nacional, Sergio Jaramillo, o ex-comissário de paz Frank Pearl e o presidente da principal associação industrial do país, Luis Carlos Villegas.

– Isso vai exigir muito trabalho logístico, diplomático e administrativo. Com esta equipe, o país pode se sentir mais do que tranquilo. Há experiência altíssima e um grande desejo de ir adiante de forma digna, séria, eficaz e sem intermediários – disse o presidente.

Santos revelou, ainda, que seu irmão, Enrique, que esteve à frente das primeiras etapas de contatos, seguirá participando "na retaguarda".

– Eles (a guerrilha) tinham muita confiança em Enrique e isso contribuiu. O caminho é difícil. Tem muitos obstáculos, muitos inimigos, mas se trabalharmos com confiança e vontade, vamos conseguir o que queremos.

A expectativa, agora, se volta a Havana. É na capital cubana que se reúne a liderança das Farc – e onde ocorrerá, mais tarde, uma nova etapa de negociações, após as conversas iniciais em Oslo. A imprensa estatal cubana faz mistério sobre a composição da delegação guerrilheira. Especula-se que Iván Márquez, membro do alto secretariado das Farc, seria um dos líderes da mesa. Em sua edição de ontem, o jornal "Granma" citava a presença de seis oficiais na ilha.

– Muitos participaram dos contatos até agora, mas não sabemos se vão continuar – despistou uma fonte diplomática cubana.

Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama expressou apoio ao processo. Segundo ele, Bogotá "demonstrou um compromisso com a busca de uma paz duradoura por meio de políticas de segurança e inclusão social".

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