Eduardo Campos não condenará Maduro


Roberto Lopes

Por mais que o pernambucano Eduardo Campos, do PSB, tente se apresentar como um legítimo opositor da presidenta Dilma Rousseff, há uma parte importante de seu programa de campanha que vem sendo preparado com base na mesma matriz de ideias utilizada pelo PT.

Exemplo disso é a plataforma de política externa da candidatura PSB/Rede. Sua divulgação irá revelar que, durante a campanha que se aproxima, Campos não cogita, nem de longe, apontar as afrontas à democracia perpetradas pelo governo Nicolás Maduro, na Venezuela.

O candidato pernambucano ainda não teve tempo para examinar, pessoalmente, as diretrizes programáticas que anunciará no campo das Relações Exteriores, mas será aconselhado a não pautar suas declarações por aquilo que seus assessores se comprazem em qualificar de “artigos irados da imprensa” nacional acerca da crise venezuelana. Assassinatos, prisões arbitrárias, cerceamento à imprensa, amordaçamento da classe política, submissão do Judiciário – nada parece importante nesse momento.

De acordo com a assessoria do neto de Miguel Arraes, não há por que ser “estridente” agora, e nem aproveitar os “slogans da direita” que, na opinião de militantes importantes do PSB – como o coordenador de relações internacionais do partido, Roberto Amaral –, predominam nos “jornalões” brasileiros.

Os assessores de Campos vão dizer-lhe que seu grupo político deve preservar sua capacidade/liberdade de ação para 2015.

Em conversas privadas, esses conselheiros  já concluíram que Maduro pode ser forçado a abandonar a Presidência venezuelana ainda antes de outubro – mês das eleições no Brasil –, o que só reforça a tese de que não se deve cutucar o desgastado herdeiro político de Hugo Chávez.

Já houve época em que Eduardo Campos se desfazia em loas ao tenente-coronel Chávez.

Isso aconteceu na metade inicial da década de 2000, época em que o líder do “Socialismo do Século XXI” prometia que a Petróleos de Venezuela (PDVSA) desembolsaria cerca de US$ 1 bilhão para ajudar a Petrobras a construir a refinaria Abreu Lima, em Pernambuco. Entretanto, o acordo “de camaradas”, firmado entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o falecido presidente venezuelano, dissipou-se no ar (como tantas outras promessas de investimento que o governo de Caracas anunciou para o Caribe, o Equador e a Bolívia).

Com o apoio de parte do staff diplomático do governo Dilma Rousseff, assessores de Eduardo Campos montaram uma cartilha para Eduardo Campos decorar antes de entrar no debate eleitoral.

Instado a se manifestar sobre o naufrágio da democracia venezuelana, o candidato deverá proferir, como se convicção pessoal sua fosse, a seguinte decoreba: “apoio e respeito à democracia”, “exortação à moderação”, “construção de um ambiente propício à condução do progresso” e “o Governo brasileiro sempre defenderá a integração regional, a estabilidade democrática e o progresso econômico e social”.

Maduro não será citado. A oposição venezuelana não será citada. As denúncias de um golpe em curso patrocinado pelos Estados Unidos, alardeadas pelo regime chavista, não serão citadas. Talvez, nem mesmo o nome “Venezuela” seja mencionado pelo candidato, porque é assim que trabalha a assessoria de Eduardo Campos em política externa: sem “emocionalismos”.

Como se o sentimento popular, o clamor das ruas, a indignação das minorias, a repulsa – enfim – da opinião pública, devessem ser tratados como desprezíveis “slogans da Direita”.

Afinal, a matriz é a mesma. São todos – os assessores diplomáticos de Dilma e os de Eduardo Campos – integrantes do mesmo Itamaraty lulista.

Nesse raciocínio sem “emocionalismos” existe, entretanto, um problemazinho. Não se sabe o que, acerca dele, pensa a (guerreira) ex-senadora Marina Silva.     
 

 
 

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