O Exército Brasileiro e o cuidado com a saúde mental

Coronel Rodolfo Tristão Pina

A campanha intitulada “Janeiro Branco”, iniciativa do psicólogo mineiro Leonardo Abrahão e, segundo o próprio, inspirada no livro de autoria do Dr. Viktor E. Frankl, entrou definitivamente no calendário da Força Terrestre por intermédio de ações promovidas no âmbito do Departamento-Geral do Pessoal, em parceria com os Grandes Comandos.

Entretanto, cabe salientar que o zelo com o bem-estar emocional de nossos militares e suas famílias não é um compromisso novo na instituição, mas se traduz em uma das nobres atribuições dos serviços de assistência social das Regiões Militares desde sua criação.

O Sistema de Assistência Social do Exército (SASEx) tem mais de 70 anos de existência, e as Seções dos Serviços de Assistência Social (SSAS) das 12 Regiões Militares são os órgãos de execução dessa importante estrutura que atua em prol da dimensão humana da Força. De maneira distinta do que ocorre nos programas governamentais, nos quais a atividade de assistência social está vocacionada às ações de inclusão social e cidadania, no Exército Brasileiro, são estabelecidos projetos de escopo mais amplo, que permeiam outras áreas de atuação, como a saúde; os recursos humanos; a educação; o amparo ao cidadão, à criança, ao adolescente, ao idoso e à pessoa com deficiência; a habitação; a psicologia; a assistência jurídica; e a defesa civil; dentre outras, a critério do Comandante do Exército.

Voltando ao tema da saúde mental, percebe-se, ainda, tabus, desconhecimento e até preconceitos nas sociedades e instituições sobre o assunto. A comunidade científica também se divide, na medida em que há pesquisadores que creem na existência de uma excessiva “medicalização” do comportamento humano na atualidade e um número exagerado de diagnósticos de transtornos mentais. Por outro lado, há grupos que defendem que os grupos sociais passam por um processo contínuo de adoecimento mental sistêmico, por diversas razões ligadas ao estilo de vida pós-moderno.

A despeito do posicionamento dos especialistas, o fato é que percebemos uma fragilidade emocional maior no seio da família militar, principalmente nos grupos de pessoas mais jovens, o que tem sido comprovado pelo aumento dos casos de suicídio, tentativa de suicídio, ideação suicida e automutilação.

Sobre essa nova realidade que se descortina, é importante salientar que essas questões sempre foram temas caros às SSAS e que, no passado, muitos casos identificados ficavam restritos ao conhecimento dos profissionais de saúde. No entanto, o aumento de problemas de ordem psicológica envolvendo militares da ativa tem demandado a pronta intervenção e o envolvimento mais incisivo de outros atores nesse processo.

A profissão militar exige a incorporação de atributos afetivos como coragem, adaptabilidade, rusticidade, autoconfiança, combatividade e equilíbrio emocional, dentre outros, que dão suporte ao indivíduo em momentos de crise, nas situações da caserna ou mesmo no lar.

Sendo assim, a solução do problema passa, em certa medida, pelo trabalho incessante das lideranças, em todos os níveis, no exercício contínuo da comunicação e no desenvolvimento e fortalecimento daqueles atributos, de forma mais eficaz, nos subordinados. Avultam de importância, portanto, as ações de comando, nos diversos círculos hierárquicos, para que se possa conhecer os subordinados, seus pontos fortes e suas debilidades.

O propósito é poder explorá-las com mais eficiência para a melhoria do espírito de corpo e do ambiente interno, o que contribuirá sobremaneira para a maior disponibilidade da tropa e a produtividade no trabalho.

Nesse mister, as Seções do Serviço de Assistência Social das Regiões Militares são estruturas primordiais de apoio aos comandantes. Dispõem de profissionais com conhecimento técnico e capazes de contribuir na elaboração de estratégias que possam identificar vulnerabilidades individuais e situações de risco, favorecendo a sinergia de esforços em prol da operacionalidade das organizações militares.

Por fim, a adesão à campanha “Janeiro Branco” demonstra um grande passo do Exército na conscientização do seu público interno sobre a importância de se refletir sobre o tema da saúde mental.

Além disso, o tema levanta o debate sobre a necessidade do reforço da prática do exercício da liderança militar, oferecendo a mão amiga aos que apresentem dificuldades de adaptação e convívio, porém sem abrir mão dos padrões de desempenho individual e coletivo exigidos no âmbito da Força.

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