Operação Gota chega a áreas de difícil acesso da região amazônica

Major Sylvia Martins

Entre os dias 17 e 25 de agosto, aldeias indígenas do Vale do Javari, área de difícil acesso no estado do Amazonas, recebem a visita de equipes de saúde para a multivacinação. A chegada do serviço nesses locais, em plena época de seca dos rios, só foi possível graças ao apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), num trabalho coordenado pelos ministérios da Defesa e da Saúde, no âmbito da Operação Gota.

Para cumprir a missão de transportar as equipes e todo material necessário, foi utilizado um helicóptero H-60L Black Hawk, que levou a tripulação do 7º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação (GAv) da FAB, em Manaus, para Tabatinga, município do estado do Amazonas, que fica na fronteira com Peru e Colômbia.

Foram quase seis horas de deslocamento, até Tabatinga, necessário para cumprir o cronograma da missão, que engloba as regiões de: Alto Ituí, Alto Curuçá, Médio Ituí, Rio Branco, Itacoai, Jaquirãna e Médio Curuçá.

Dezoito profissionais de saúde, entre técnicos e enfermeiros do setor de imunização do Distrito de Saúde Indígena do Vale do Javari, foram capacitados para atingir a meta de levar 1.890 doses das vacinas do calendário anual de Saúde para adultos e crianças das áreas indígenas.

A coordenadora do grupo, Luziane Lopez, explicou que, na época da seca, com a baixa do nível dos rios, há dificuldade em fechar o esquema vacinal dessas comunidades para doenças imunopreviníveis, como meningite e pneumonia, principalmente, das crianças.

Para ela, o apoio da Força Aérea traz muitas vantagens. “O índio aldeado não precisa sair do seu local para fazer a prevenção de uma doença, os pais ou responsáveis pelas crianças não têm o ambiente estressor da cidade. Às vezes, a gente tem muita recusa de indígenas que não querem vir para cidade, devido à dificuldade de adaptação”, disse a coordenadora.

O sargento Cleto Cabral, mecânico, integrante da tripulação, é de Recife (PE), mas está no Esquadrão, em Manaus, há quatro anos. Essa foi a primeira vez em que trabalhou na Operação Gota. “Existem algumas missões que são de grande vulto, como esta e a do TRE (Eleições), com distribuição de urnas nas aldeias.

A gente costuma dizer que só participou de todas as missões do Esquadrão, quando participa de uma Gota e de uma TRE, porque as outras acontecem mais facilmente. E a Gota, eu nunca tinha participado. Sem o apoio da Força Aérea, a gente não estaria aqui na aldeia hoje”, disse o militar, formado na Escola de Especialistas da Aeronáutica.

Até o dia 25, serão atendidas aldeias de quatro etnias do Amazonas: Marubo, Mayuruna, Kanamari e Matis. No aeroporto de Tabatinga, a técnica Rosanete Rufino, de origem Marubo, que trabalha na Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde, esperava ansiosa o embarque no helicóptero para chegar a aldeia Bananeira. “A gente precisa alcançar as nossas metas, e, nessa época, precisa da Operação Gota, da Força Aérea, para fazer a cobertura vacinal”, reforçou Rosanete ao falar sobre a importância do apoio.

Aldeia Boa Vista

No sábado (19), a equipe de Saúde, militares da FAB e representantes do Ministério da Defesa chegaram na aldeia Boa Vista, da etnia Marubo, no Médio Ituí, e estiveram reunidos com o Cacique Pedro (nome adotado na língua portuguesa).

Nas ações de vacinação e atendimento nas comunidades indígenas, é preciso pedir autorização para iniciar qualquer trabalho, o que exigiu, nesse dia da Operação Gota, uma dose de convencimento sobre a necessidade da multivacinação do cacique por parte da coordenadora Luziane.

Miguel, de 14 anos, foi o primeiro a ser atendido, vacinado contra o HPV. Os idosos da aldeia também tiveram sua vez, como Joana, de 68 anos, que recebeu o reforço de Difteria e Tétano. Das 129 pessoas da aldeia, segundo o censo vacinal, 22 crianças menores de 5 anos foram vacinadas.

Enquanto a sala de espera da base da SESAI estava cheia, a técnica de enfermagem Perpétua de Oliveira falava por rádio com outras aldeias, para obter informações das cadernetas de índios que se encontravam na aldeia Boa Vista.

Em solo, o médico da FAB, também integrante da tripulação, tenente Felipe Marques examinou alguns aldeados, como Francisco, que queixava-se do ouvido. O militar, do quadro temporário da Força, foi um reforço ao trabalho da equipe de saúde no local.

Operação Gota

A Operação Gota teve início em 1993, como iniciativa isolada no Amazonas, após a notificação de surtos de sarampo em comunidades indígenas da região do Vale do Juruá. Daquele ano para 2017, as ações de multivacinação de populações em áreas de difícil acesso foram ampliadas.

Neste ano, o Ministério da Saúde repassou recursos ao Ministério da Defesa, com objetivo de conseguir apoio logístico para os estados do Amazonas, Pará, Amapá e Acre. Serão, ao todo, 16 missões, distribuídas em 157 dias e 488 horas de voo.

“Nessa reunião, tem representantes do Ministério da Saúde, do Ministério da Defesa, do Estado-Maior da Aeronáutica e do nosso Comando de Operações Aéreo Espaciais. Todas essas instituições, juntas, verificam a necessidade, a partir do Ministério da Saúde. Diante desses insumos, as pessoas, como a Luziane, por exemplo, que vão a essas reuniões, apresentam a necessidade das localidades. A partir daí, a gente faz um trabalho mais minucioso”, explicou o comandante do 7º/8º GAv e piloto mais antigo na missão, coronel Andrei Garcia Nunes.

Esse trabalho minucioso prevê a verificação das coordenadas geográficas das localidades, além da conferência de condições básicas, como os períodos e o clima favoráveis. Tudo planejado para utilizar o total de horas de voo destinado à Gota.

O coronel Andrei destacou que a Operação Gota vai além de levar cobertura vacinal as localidades. “Quando a gente leva esse povo lá, é um braço do Estado que alcança um pouco mais”, disse o militar. Ele lembrou que as Forças Armadas, muitas vezes, são a única presença do Estado em regiões remotas do País.

O versátil H60L

Na Operação Gota são utilizados helicópteros H60L, aeronave multifunção, que pode ser empregada na defesa aérea, em busca e salvamento e transporte de cargas. Trata-se de uma máquina versátil, capaz de aproximar e arremeter em regiões confinadas, como a aldeia Boa Vista.

Para um dos pilotos na missão no Amazonas, tenente Felipe Dutra, “é um helicóptero muito seguro, que possui redundância em todos os sistemas, com uma aviônica (engenharia embarcada) completa”.

A missão constitucional das Forças Armadas, além da defesa do País, inclui a execução de atividades subsidiárias que dão suporte a outros órgãos federais, na realização de ações que visam o bem-estar da população brasileira, onde quer que ela esteja.

Fotos: Assessoria de Comunicação Social Ascom)/ Ministério de Defesa

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