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Interesses geopolíticos explicam apoio russo a regime sírio

A Rússia continua irredutível em sua resistência a apoiar uma resolução da ONU contra o governo sírio. "Sanções não são meios adequados", afirmou o embaixador de Moscou na ONU, Vitaly Churkin na terça-feira (31/01) em Nova York.

A Rússia não está disposta a apoiar no Conselho de Segurança da UNO uma resolução pedindo um fim imediato da violência e a renúncia do presidente sírio Bashar al-Assad. "Não compete às Nações Unidas decidir sobre o futuro de governos", disse Churkin na discussão do projeto de resolução apresentado pelo Marrocos.

Desta forma, a Rússia deixa claro que fará uso de seu poder de veto na condição de um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. A China se comporta de forma semelhante. Ambos os países já vetaram em outubro de 2011 uma resolução da ONU contra a Síria.

A proposta de resolução apresentada em dezembro pela Rússia, condenando ambos os lados do conflito na Síria, foi rejeitada pelos países ocidentais. A maioria dos países da Europa Ocidental e os EUA, assim como muitos países árabes, vêm exigindo de forma cada vez mais veemente uma ação mais dura das Nações Unidas contra o regime na Síria. Eles acusam o presidente Assad de agir de forma brutal contra a oposição.

Rússia não quer uma segunda Líbia

Enquanto o mundo árabe se distanciou da Síria, a Rússia se mantém fiel a um de seus mais importantes aliados no Oriente Médio. "Na minha opinião, o que é decisivo do ponto de vista geoestratégico é que, na perspectiva russa, a conexão com a Síria é extremamente importante", opina Günter Meyer, diretor do Centro para a Pesquisa do Mundo Árabe da Universidade de Mainz.

Rússia e Síria mantêm estreitas relações desde a era soviética. A Marinha russa mantém no porto sírio de Tartus sua única base fora da antiga União Soviética.

Apenas há algumas semanas o porta-aviões russo Admiral Kuznetsov havia ancorado no local. A Rússia, além disso, também vende armas para a Síria. Caso a ONU imponha um embargo de armas contra a Síria, a indústria bélica russa pode perder até quatro bilhões de dólares, na avaliação de especialistas em Moscou.

"Muito mais importante que o componente militar é o geopolítico", afirma Boris Dolgov, do Instituto para o Oriente da Academia Russa de Ciências. "Se a Rússia 'desistir' da Síria, como foi o caso da Líbia, a reputação da Rússia poderá ficar muito prejudicada", alerta.

Na votação no Conselho de Segurança da ONU sobre a proteção à população civil na Líbia, a Rússia se absteve. E acabou vendo como os insurgentes derrubaram, com o apoio da Otan, o ditador líbio Muammar Kadafi. Moscou agora quer impedir que a Síria se transforme em uma segunda Líbia", diz Dolgov.

Sem tropas russas para Damasco

Entretanto, a Rússia não forneceria apoio militar ativo para a Síria no caso de uma intervenção ocidental, na opinião de especialistas. "Essa internacionalização do conflito com a participação de tropas russas, acho que está fora de cogitação", descarta Günther Meyer, da Universidade de Mainz.

Esta é a mesma convicção de Margaret Klein, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (Stiftung Wissenschaft und Politik, no nome em alemão). Ela acredita que o o preço político seria alto demais para Moscou.

"Politicamente, os limites do apoio está no fato de que Moscou não quer se deixar levar pelo crescente isolamento do regime Assad na região", diz a especialista. É uma faca de dois gumes, de acordo com a analista. A Rússia quer assegurar a sobrevivência de um importante parceiro político, sem comprometer suas próprias posições, pois Moscou também se interessa em manter futuramente boas relações com os países do Oriente Médio.

A crise síria na campanha eleitoral

De acordo com muitos especialistas, há também razões políticas internas que levam Moscou a uma postura mais rígida no caso da Síria.

Em 4 de março será eleito um novo presidente na Rússia. Uma vitória do primeiro-ministro Vladimir Putin é considerada segura, mas sua popularidade caiu nas últimas semanas, depois dos protestos contra fraudes eleitorais nas últimas eleições parlamentares no final de 2011. "Neste contexto, Putin vai tentar combinar uma retórica antiocidental com uma autoconfiante política externa", prevê Klein.

Autor: Roman Goncharenko (md)
Revisão: Carlos Albuquerque

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