ROLDÃO ARRUDA – O Estado de S.Paulo
No Rio, a seção estadual da Ordem dos Advogados (OAB) prepara a instalação, em janeiro, de uma comissão que se dedicará a fornecer subsídios para a comissão nacional sobre uma questão específica: a análise das ações de juízes e promotores que deram cobertura legal a atos de violação de direitos humanos na ditadura. "Sabemos de casos de juízes que se negaram a conceder habeas corpus a prisioneiros políticos mesmo sabendo que estavam sendo torturados", diz Wadih Damous, presidente da entidade. No Paraná e no Rio Grande do Sul, organizações de defesa dos direitos humanos já articulam com parlamentares a apresentação de projetos para a criação dessas comissões, de alcance estadual. O exemplo de São Paulo, que tomou a iniciativa por meio de um projeto de resolução, em vez de projeto de lei, pode ser copiado nestes parlamentos. Mais simples. "O projeto de resolução é uma iniciativa interna da área parlamentar. É menos complicado na tramitação do que o projeto de lei e pode andar sem necessidade de sanção do governador", diz Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre. A Câmara Municipal de São Paulo já instalou uma subcomissão que acompanhará as atividades da comissão nacional que envolverem o município. Integrada por entidades de defesa dos direitos humanos, sindicatos e associações de profissionais liberais, ela não tem poder para convocar pessoas, como acontece com o grupo criado pela Assembleia. Mas pode auxiliar na busca de arquivos e depoimentos, segundo o autor da proposta da subcomissão, vereador Italo Cardoso (PT). Na semana passada, a Câmara de Recife realizou uma audiência pública que resultou na criação de um grupo semelhante ao da capital paulista. A principal diferença é que o grupo pernambucano pretende analisar mais detidamente o caso dos vereadores que tiveram seus mandatos cassados no período da ditadura militar. "Uma das pretensões da comissão é reempossar todos os cassados", diz a secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadão de Recife, Amparo Araújo. O que está acontecendo em todo o País, diz ela, é a implantação do 3.º Programa Nacional de Direitos Humanos, que tinha entre seus eixos principais o direito à memória e à verdade. "Um exemplo disso foi a criação do Dia Estadual dos Mortos e Desaparecidos, que aguarda a sanção do governador."
Grupo paulista quer articulação com o nacional
O líder do governo na Assembleia de São Paulo, Samuel Moreira (PSDB), disse ontem que a principal tarefa da Comissão Estadual da Verdade será apoiar a Comissão Nacional. "O projeto aprovado na quarta-feira deixa claro que as duas entidades irão trabalhar de maneira articulada", afirmou. "Nós apoiamos o projeto seguindo a orientação nacional do partido, que apoiou e ajudou na articulação da comissão aprovada no Congresso." Nas negociações com o PT de São Paulo, umas das principais exigências do PSDB foi a mudança do período a ser investigado. De acordo com o projeto original de Adriano Diogo, a comissão se debruçaria sobre o período entre 1964, ano do golpe militar, e 1985, quando assume o primeiro presidente civil. No texto final, porém, ficou estabelecido que a análise da comissão paulista termina em 1982 – ano em que o governo paulista passa para as mãos de Franco Montoro, peemedebista que depois se tornaria um dos fundadores e principais ideólogos do PSDB. |