A Rússia garantiu neste sábado (26/04) que está fazendo todo o possível para obter a libertação dos observadores internacionais feitos reféns por militantes pró-russos no leste da Ucrânia. Os separatistas, porém, recusam-se a libertar os enviados estrangeiros, os quais consideram "espiões" da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O governo ucraniano divulgou que pelo menos um dos reféns precisa de atendimento médico urgente.
Diante da tensão, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, disse por meio de nota que o Kremlin está "tomando medidas para resolver a situação dentro das possibilidades existentes", mas não especificou quais medidas são essas.
O esforço russo para resolver a questão também foi ressaltado pelo representante de Moscou na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Andrei Kelin, em declaração dada à agência russa de notícias RIA Novosti. "Essas pessoas devem ser libertadas o mais rapidamente possível. A Rússia tomará todas as medidas possíveis relativas a essa questão", disse Kelin. A OSCE enviou uma equipe para a região a fim de negociar a libertação de seus agentes.
Os observadores foram detidos pelos separatistas pró-Rússia na sexta-feira. O líder da milícia em Slaviansk, onde os reféns estão detidos, Vyacheslav Ponomarev, afirmou que tem sob sua custódia 13 pessoas: seis europeus, cinco soldados ucranianos, um tradutor e um motorista. Quatro dos seis observadores europeus são alemães, três dos quais pertencem às Forças Armadas.
Na sexta-feira, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, havia pressionado Lavrov para obter a libertação dos enviados. Steinmeier interveio junto a altos diplomatas da embaixada russa em Berlim, afirmou o Ministério alemão do Exterior. Washington também apelou pela libertação imediata dos reféns. Jen Psaki, porta-voz do Departamento americano de Estado, ressaltou ainda que existe "uma forte ligação entre a Rússia e estes separatistas".
Acusações de espionagem
"Estes homens são soldados de carreira, diferentemente dos integrantes da OSCE, com os quais eu tive uma conversa normal recentemente", afirmou Vyacheslav Ponomarev para a televisão russa. Segundo ele, os observadores detidos em Slaviansk estavam prestes a preparar atos de sabotagem, a mando de Kiev.
Denis Pushilin, outro líder separatista, afirmou à agência de notícias Unian que "há suspeitas de que existem espiões da Otan" infiltrados no grupo. Ainda assim, não há motivos para preocupações em relação à segurança dos detidos. "Garanto que os estamos tratando bem", afirmou.
As acusações foram feiras pouco após o grupo das sete maiores economias industrializadas do mundo (G7, que reúne Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) ter declarado que irá impor novas sanções à Rússia. Os EUA poderão aplicar medidas já a partir de segunda-feira. O G7 considera que a Rússia não se esforçou para implementar o acordo de paz na região, acertado na semana passada com a Ucrânia, EUA e União Europeia.
"Dada a urgência em garantir a oportunidade de uma votação democrática bem-sucedida e pacífica nas eleições presidenciais da Ucrânia no próximo mês, assumimos o compromisso de agir rapidamente para intensificar as sanções e medidas, a fim de aumentar os custos das ações por parte da Rússia", afirmou o grupo por meio de um comunicado. Os países ressaltaram, porém, que a "porta continua aberta a uma solução diplomática para a crise".
No dia 25 de maio, a Ucrânia realiza eleições presidenciais antecipadas para escolher um novo governo, que substituirá o governo interino montado após a queda do então presidente pró-russo Viktor Yanukovytch, em fevereiro.
Aviões russos sobre a Ucrânia
O primeiro-ministro interino ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, afirmou neste sábado que aviões da Força Aérea russa violaram o espaço aéreo ucraniano pelo menos sete vezes durante toda a noite. "A única razão para isso é provocar a Ucrânia e nos acusar de iniciar uma guerra contra a Rússia", disse o primeiro-ministro, que se encontra em Roma.
Durante visita ao Vaticano, Yatsenyuk foi recebido pelo papa Francisco, a quem ofereceu uma fotografia da Praça Maidan, no centro de Kiev, na noite de Ano Novo, dizendo-lhe que ali é onde "os ucranianos lutaram pela liberdade, por seus direitos, e pelo de milhões de pessoas".
Francisco disse que fará "tudo o que for possível" para que seja obtida a paz na Ucrânia. O papa presenteou Yatsenyuk com uma caneta, com a qual ele espera que o premiê ucraniano "escreva a paz". Yatsenyuk retorna a Kiev neste sábado, um dia antes do previsto, e não assistirá à cerimônia de canonização dos papas.