SÃO PAULO — O ano da Copa do Mundo no Brasil deverá ser de grandes manifestações. Quem avisa são entidades de diversas áreas de atuação que, fortalecidas pela onda de protestos que conseguiu reduzir a tarifa do transporte público em várias cidades do país em 2013, prometem protestos em, ao menos, 12 capitais em 2014.
A programação de protestos será definida mais adiante, mas a articulação entre as entidades já começou. Até mesmo o mascote oficial da Copa já está em redes sociais vestido como manifestante.
Assim como nas manifestações de junho passado, a internet tem sido o principal canal para a articulação entre os movimentos. Na internet, sites e perfis em redes sociais mostram que a mobilização está a pleno vapor nas periferias.
O Movimento Passe Livre, que levou às ruas milhares de pessoas em 2013 para lutar contra o reajuste da tarifa de ônibus, trem e metrô, está nesse grupo de entidades chamado Comitê Popular da Copa. Ele está constituído nas 12 cidades-sede do campeonato e, além do MPL, tem movimentos por moradia e transporte e ONGs ligadas ao esporte e à cultura. Há alguns meses eles têm se reunido a cada 15 dias numa espécie de aquecimento para o próximo ano.
— A gente acredita que a Copa vai ser de grandes mobilizações. Esse movimento já começou neste ano e mostra que tem uma indignação geral — diz um dos integrantes do MPL Marcelo Hotimsky.
Integrante do Comitê Popular da Copa em São Paulo, a engenheira ambiental Talita Gonsales não antecipa a estratégia das mobilizações.
— O que podemos dizer por enquanto é que há uma tendência (de promover manifestações) diante de tamanha indignação das pessoas. Não tem como não ter um tom crítico diante do que está acontecendo —afirma Talita.
— Essas pessoas sempre ouviram que não tinha dinheiro para moradia, transporte e saúde.
Agora, estão vendo milhões indo para estádios e obras de transporte para turistas e estrangeiros. Ficou claro que isso é uma escolha política e não técnica. O MPL junto com todos esses movimentos quer trazer esse debate à tona — completou Hotimsky.
A temática da Copa sempre esteve, desde o início, nas manifestações de 2013, mas ocupou um papel secundário. Para o professor titular de Teoria Política da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e autor do livro “As ruas e a democracia", Marco Aurélio Nogueira, em 2014, o tema deverá assumir a linha de frente.
— A Copa pode no próximo ano o que foi o reajuste da tarifa neste ano. É combustível puro. São investimentos muito caros sendo feitos para a Copa ao mesmo tempo em que o país continua tendo problemas graves estruturais — avaliou o professor.
Para ele, o maior legado dos protestos ocorridos em 2013 foi a demonstração de que a
sociedade está viva e tem voz.
—Por outro lado, de forma geral, os governos não conseguiram responder a essas
manifestações de forma satisfatória — completou