O tom da Casa Branca mudou no último final de semana, adotando uma retórica mais dura com o governo da Síria – partindo do pressusposto de que as mortes observadas em vídeos divulgados na semana passada foram causadas por ataques químicos perpetrados pelo governo de Bashar al-Assad.
Nesta segunda-feira, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que as cenas vistas na Síria na semana passada – que não puderam ser verificadas de forma independente – "desafiam qualquer código de moralidade".
"A matança indiscriminada de civis (…) com armas químicas é uma obscenidade moral e, apesar de desculpas fabricadas por alguns, é inegável", disse Kerry.
Antes disso, um comunicado da Casa Branca menosprezou o gesto do governo sírio de permitir o acesso de inspetores da ONU ao local do ataque. A nota argumenta que as provas do que ocorreu já teriam sido destruídas por bombardeios.
Ao presidente americano, Barack Obama, foram dadas diversas opções militares como resposta. Ele também falou com os líderes de França e Grã-Bretanha, seus aliados-chave.
Três navios de guerra americanos estão na região, e um quarto está a caminho. Muitos congressistas americanos defendem que essas embarcações realizem um ataque com mísseis.
Todos esses elementos parecem apontar na mesma direção.
Possível ofensiva?
Em entrevista à BBC, o chanceler britânico, William Hague, disse que Reino Unido e seus aliados podem intervir militarmente na Síria mesmo sem ter o aval de todos os membros do Conselho de Segurança da ONU.
Jornais britânicos sugerem que ainda nesta semana possa haver uma ofensiva de retaliação à Síria, mas pode haver um exagero da imprensa quanto à possibilidade de conflito.
Obama, por sua vez, tem sido cauteloso e relutante em agir. Agora, porém, terá dificuldades em recuar sem perder sua credibilidade. A não ser que algo mude.
Uma pergunta ainda permanece sem resposta. Enquanto o fato de um governo usar armas químicas contra seu próprio povo ser uma afronta e demande reação internacional, parece óbvio que, do ponto de vista dos EUA, um horror maior seria o fato de essas armas serem usadas contra seu próprio povo ou contra aliados.
O grande temor, desde o 11 de Setembro, é o de armas como essas caírem nas mãos de grupos que o Ocidente tacha de terroristas. Considerando que um dos principais grupos de oposição na Síria se declarou aliado formal da al-Qaeda, essa é uma possibilidade real.
Seria de interesse dos EUA obter o controle dessas armas e inutilizá-las. Mas temos visto poucas discussões relacionadas a essa opção.
Rússia
É importante lembrar também que diplomatas americanos e russos devem se encontrar nesta semana na Holanda para discutir a pacificação da Síria – e um ataque perpetrado pelos EUA reduziria suas chances de sucesso no diálogo. Ameaças, por sua vez, podem aumentá-las.
Ainda que Obama possa ignorar as advertências russas, o argumento central de Moscou reverbera: os russos dizem que, se os EUA entrarem na guerra civil síria, estarão repetindo os erros do ex-presidente George W. Bush no Iraque.
Esse perigo certamente passa pela cabeça de Obama.
As Forças Armadas americanas já fizeram diversas advertências de que a Síria é um nó difícil de ser desatado – mais do que a Líbia -, e derrotar seus sistemas de defesa aérea exigiria muito esforço.
Seria surpreendente se Obama agisse sem tentar obter o máximo de apoio internacional – e isso provavelmente significa dar mais tempo para a ONU tomar uma decisão.
É possível que as conversas sobre a eventual guerra ganhem força e volume, mas, por enquanto, as armas ainda não foram sacadas.