Sniper infiltrado nas forças sírias mata militares americanos em Palmira e expõe fragilidades de segurança pós-EI

Por Redação – Análise de Segurança Internacional

Um ataque letal ocorrido no sábado (13), na região desértica de Palmira, na Síria, reacendeu alertas estratégicos sobre a persistência do Estado Islâmico (EI) e, sobretudo, sobre a vulnerabilidade institucional das forças de segurança sírias. Três cidadãos americanos — dois soldados e um tradutor civil — foram mortos em uma emboscada atribuída a um atirador de elite que, segundo autoridades sírias, integrava oficialmente as forças de segurança do país havia mais de dez meses.

De acordo com uma fonte do aparato de segurança sírio ouvida pela agência AFP, o autor do ataque, identificado como Noureddine al-Baba, era membro da Segurança Geral, órgão subordinado ao Ministério do Interior.

O sniper havia servido em diversas cidades antes de ser transferido para Palmira, área estratégica e historicamente instável, anteriormente controlada pelo Estado Islâmico.

Infiltração extremista e falha de contrainteligência

A revelação de que o atirador fazia parte das forças estatais sírias confere ao episódio um caráter particularmente sensível. O porta-voz do Ministério do Interior informou que al-Baba seria formalmente expulso da corporação neste domingo (14), em razão de suas “ideias islamistas extremistas” — uma decisão tomada, segundo Damasco, antes do ataque, mas não executada a tempo.

Após o atentado, onze membros da Segurança Geral foram detidos e encaminhados para interrogatório, sinalizando uma investigação interna sobre possíveis falhas de supervisão, radicalização silenciosa ou conivência operacional.

O caso expõe limitações graves nos mecanismos de triagem ideológica, monitoramento interno e contrainteligência de uma força que opera em ambiente permeado por redes jihadistas resilientes.

O ataque e a reação dos Estados Unidos

O Pentágono informou que os militares americanos estavam em missão de apoio às operações em curso contra o Estado Islâmico quando foram atingidos por um “atirador isolado” em uma emboscada. Três outros soldados americanos ficaram feridos, segundo o Comando Central dos EUA (Centcom).

O EI, embora derrotado territorialmente, mantém células ativas na região central da Síria, especialmente em áreas desérticas como Palmira.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou a área como “uma zona muito perigosa da Síria, que não está totalmente controlada” pelo governo de Damasco e prometeu uma “séria retaliação”.

A declaração sugere a possibilidade de ações militares pontuais, seja contra alvos remanescentes do EI, seja como demonstração de força para reafirmar a presença americana no teatro sírio.

Contexto político e implicações regionais

O atentado ocorre em um momento politicamente delicado. Trata-se do primeiro ataque desse tipo desde a chegada ao poder, há cerca de um ano, de uma coalizão islâmica liderada por Ahmed al-Sharaa, ex-jihadista que vem buscando reaproximação com Washington.

O episódio, portanto, tem potencial de tensionar essa incipiente relação e colocar em xeque a capacidade do novo governo sírio de garantir segurança a forças aliadas em operações conjuntas.

O governo sírio condenou oficialmente o “ataque terrorista”, informou que dois de seus agentes também ficaram feridos e apresentou condolências às vítimas, ao governo e ao povo americano, segundo a agência estatal Sana.

A postura diplomática, contudo, não elimina a percepção de fragilidade estrutural e de risco de infiltração ideológica no aparelho estatal.

Forças militares americanas estão presentes na Síria em apoio a operações contra grupo Estado Islâmico.

Avaliação estratégica

O ataque de Palmira evidencia três vetores críticos:

  1. Persistência operacional do Estado Islâmico, agora operando por meio de ações assimétricas e infiltração institucional;
  2. Fragilidade dos mecanismos de controle interno das forças de segurança sírias, ainda em processo de reorganização após anos de guerra civil;
  3. Risco elevado para forças estrangeiras atuando em áreas “liberadas”, mas não plenamente estabilizadas.

Para Washington, o episódio reforça a narrativa de que a missão antiterrorismo na Síria permanece inacabada. Para Damasco, trata-se de um teste decisivo de credibilidade interna e externa.

A resposta de ambos os lados — militar, política e institucional — determinará se o ataque será tratado como um incidente isolado ou como um sintoma de um problema estrutural mais profundo no pós-EI sírio.

Com informações da RFI/AFP.

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