Por Redação DefesaNet
A Marinha do Exército de Libertação Popular (PLAN) alcançou um marco histórico com a entrada em serviço do porta-aviões Fujian, o primeiro totalmente projetado e construído na China, inaugurado oficialmente em cerimônia realizada em Sanya, na ilha de Hainan, com a presença do presidente Xi Jinping.
A ocasião simboliza mais do que um avanço tecnológico: representa um movimento calculado de poder no tabuleiro geopolítico do Pacífico e uma clara mensagem à hegemonia naval dos Estados Unidos.
O símbolo da autossuficiência militar chinesa
O Fujian é o terceiro porta-aviões chinês, mas o primeiro inteiramente autóctone — livre de influência direta soviética. O Liaoning, primeiro navio do tipo, foi adquirido da Ucrânia e reformado; o Shandong, segundo da classe, seguiu o mesmo conceito. Já o Fujian nasce como o emblema de uma nova era de independência tecnológica e ambição global.
Com 80 mil toneladas de deslocamento e equipado com catapultas eletromagnéticas (EMALS) — tecnologia de ponta que rivaliza com a dos navios da classe Gerald R. Ford da Marinha dos EUA — o navio simboliza o salto qualitativo que a China busca em sua estratégia de modernização militar até 2035.
Seu convés pleno, agora capaz de operar caças furtivos J-35 e versões aprimoradas do J-15T, garante à frota chinesa uma capacidade de projeção de poder inédita.

Uma mensagem à ordem marítima liderada pelos EUA
No xadrez geopolítico do Indo-Pacífico, o Fujian é mais que uma peça de dissuasão; é um movimento estratégico calculado. Com ele, Pequim demonstra intenção de romper o cinturão marítimo que se estende do Japão a Taiwan e às Filipinas, conhecido como “primeira cadeia de ilhas” — um conceito central da doutrina naval americana desde a Guerra Fria.
Segundo Greg Poling, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), “os porta-aviões são fundamentais para a visão chinesa de projetar poder além de suas águas costeiras”. De fato, o Fujian aproxima a China da capacidade expedicionária norte-americana, embora ainda enfrente desafios de alcance e logística, como a ausência de bases ultramarinas e propulsão nuclear, que conferem autonomia quase ilimitada à frota dos EUA.
Impactos estratégicos e a questão de Taiwan
A introdução do Fujian amplia o espectro de opções militares chinesas em torno de Taiwan, ilha que Pequim reivindica como parte de seu território. O Pentágono, em relatório recente, reforçou que a China é “o único rival capaz de remodelar a ordem internacional”. Um bloqueio naval ou operação de intimidação aérea conduzida a partir do Fujian seria um instrumento poderoso para pressionar Taipé — e, por consequência, Washington.
O navio, baseado em Hainan, permite rápida projeção para o Mar do Sul da China e o Estreito de Taiwan, áreas já marcadas por disputas territoriais e demonstrações militares. Com isso, o Fujian consolida-se como uma plataforma de poder regional, mas com aspirações globais evidentes.

Um novo capítulo na rivalidade sino-americana
Apesar de ainda possuir uma frota numericamente inferior (três porta-aviões contra onze dos EUA), a China avança com velocidade. A modernização tecnológica, combinada à expansão de sua infraestrutura naval e satelital, busca reduzir o tempo de resposta e aumentar a autonomia operacional em cenários de combate de longa duração.
A entrada em serviço do Fujian não altera imediatamente o equilíbrio de poder, mas marca uma inflexão histórica: a China deixa de ser apenas uma potência continental e assume o papel de aspirante a potência marítima global. O recado é claro — Pequim pretende disputar o domínio dos mares, não apenas defendê-los.
O lançamento do Fujian é, ao mesmo tempo, um ato de afirmação nacional e uma peça no jogo de contenção estratégica no Pacífico. O navio projeta a imagem de uma China confiante, tecnicamente autossuficiente e politicamente assertiva.
No tabuleiro do poder marítimo, onde cada movimento ecoa em escala global, o Fujian é mais do que um porta-aviões — é o símbolo flutuante da nova ambição chinesa, e o prenúncio de um rearranjo geopolítico que redefinirá o equilíbrio no Indo-Pacífico nas próximas décadas.





















