Por Ricardo Fan – DefesaNet
A Turquia alcançou um marco estratégico em sua indústria de defesa ao iniciar a produção em série do Tanque de Batalha Principal (MBT) Altay, desenvolvido nacionalmente. O evento, realizado na cidade de Kahramankazan, contou com a presença do presidente Recep Tayyip Erdogan e marcou também a inauguração da Fábrica de Produção de Tanques e Veículos Blindados de Próxima Geração da BMC — um dos pilares do programa de modernização das Forças Terrestres turcas.
O Altay, fruto de mais de uma década de desenvolvimento, representa a consolidação da capacidade nacional em engenharia pesada e sistemas de combate terrestre. A primeira fase de produção ainda utiliza componentes importados, mas o projeto já caminha para a integração completa do motor nacional BATU, desenvolvido pela BMC Power, o que eliminará gradualmente a dependência de fornecedores estrangeiros.
Um MBT de nova geração
Denominado “Yeni Altay” (Novo Altay), o blindado incorpora uma combinação de proteção passiva, reativa e ativa, incluindo blindagem modular avançada, sistema de proteção ativa com cobertura de 360° e sensores aprimorados.
As melhorias na torre e na arquitetura interna aumentam a sobrevivência da tripulação e a resistência em combate, alinhando o Altay aos mais modernos MBTs do mundo, como o Leopard 2A7, o K2 Black Panther e o M1A2 Abrams SEPv3.
Além disso, o carro de combate turco é equipado com um canhão de 120 mm de alta precisão, sistemas avançados de controle de tiro e uma suíte de eletrônica nacionalizada, desenvolvida em cooperação com empresas locais do setor de defesa. A variante Altay T1 já entrega proteção em múltiplas camadas, enquanto a T2, atualmente em produção, incorporará novos avanços em sensores, comando e controle.

Origem e evolução tecnológica
O programa Altay teve origem em parceria tecnológica com a Coreia do Sul, baseada no tanque K2 Black Panther, e foi concebido para atender às necessidades operacionais específicas da Turquia. A experiência adquirida em operações militares na Síria, no Iraque e em outras zonas de conflito moldou o design final do veículo, que privilegia mobilidade, resistência a artefatos explosivos improvisados (IEDs) e integração a redes de comando digital.
A indústria turca — em especial a BMC, Roketsan, Aselsan e MKE — consolidou um ecossistema de produção nacional capaz de sustentar todas as etapas de desenvolvimento, desde o projeto e montagem até a integração de sensores e armamentos.
Autossuficiência e projeção estratégica
A entrada do Altay em produção seriada representa um salto qualitativo para as Forças Armadas da Turquia, posicionando o país entre as nações com capacidade plena de produzir tanques de última geração. O programa é visto por Ancara como um símbolo de soberania tecnológica e independência militar, especialmente em um contexto geopolítico marcado por restrições de exportação de componentes ocidentais.
Com o motor BATU e a nacionalização crescente de seus sistemas, o Altay consolida o objetivo turco de alcançar autossuficiência em plataformas de combate terrestre e fortalecer sua indústria de defesa como vetor de exportação e influência regional.
O avanço do programa reflete a estratégia de Erdogan de reduzir vulnerabilidades externas e transformar a Turquia em potência militar de médio porte com base tecnológica autônoma — um caminho semelhante ao seguido por Coreia do Sul e Israel.

Análise DefesaNet:
O início da produção em série do Altay confirma o amadurecimento do complexo industrial de defesa turco e demonstra a eficácia do modelo de cooperação público-privada liderado por empresas como a BMC.
Mais do que um projeto militar, o Altay é um instrumento de política industrial e projeção estratégica, capaz de redefinir o equilíbrio de forças terrestres no Oriente Médio e abrir portas para futuras exportações a aliados da Turquia, especialmente no mundo islâmico e na Ásia Central.




















