ONU aprova transformação da Missão Multinacional de Segurança no Haiti em força de combate a gangues

O Conselho de Segurança da ONU aprovou, nesta terça-feira (30), uma resolução que visa transformar a missão internacional de assistência à polícia haitiana, conduzida pelo Quênia desde 2023, em uma força mais robusta e com mais recursos. O objetivo é tentar conter a violência das gangues que continuam devastando o Haiti.

(RFI) A decisão ocorre às vésperas do fim do mandato da atual Missão Multinacional de Apoio à Polícia Haitiana (MMAS), liderada pelo Quênia. A criação da nova força, com o objetivo de conter a violência que assola o país, foi aprovada por doze votos a favor e três abstenções.

Entre os países que se abstiveram estão Rússia e China, que no ano passado se opuseram a mudanças na missão internacional de segurança. Desta vez, Moscou e Pequim expressaram dúvidas sobre a eficácia da força militar para resolver a crise e destacaram a necessidade de abordar as causas profundas que mergulharam o Haiti no caos.

Embora os detalhes exatos e o financiamento da nova força ainda não estejam definidos, ela deverá contar com mais recursos e pessoal para combater de forma mais eficaz as gangues. As facções criminosas controlam 90% de Porto Príncipe, capital do Haiti, e expandiram sua influência para outros dois departamentos do país.

A força antigangue não será uma missão de manutenção da paz. Ela terá um contingente que pode chegar a até 5.500 integrantes, incluindo policiais e também militares — o que não ocorria na MMAS, que nunca conseguiu reunir os 2.500 agentes previstos.

Um mandato mais ofensivo

Outra diferença importante é que essa nova força terá “um mandato muito mais ofensivo e não atuará apenas em apoio às forças de segurança haitianas”, explica Diego Da Rin, especialista em Haiti do International Crisis Group (ICG). O novo comando “poderá realizar suas próprias operações, o que lhe dará maior margem de ação”, detalha Da Rin.

O especialista também destaca que o financiamento será mais previsível. Embora continue parcialmente dependente de contribuições voluntárias dos Estados, ao contrário da MMAS, os recursos virão “em grande parte das contribuições obrigatórias do fundo de manutenção da paz da ONU”, informa.

“A adoção desta resolução oferece uma esperança ao Haiti. Uma esperança que se dissipou rapidamente à medida que as gangues expandiram seu território, estupraram, saquearam, assassinaram e aterrorizaram a população haitiana. Essa expansão traumática da violência colocou em risco a própria existência do Estado haitiano, com atividades que ameaçam transformar o país em exportador de crime, violência e drogas”, declarou o embaixador dos Estados Unidos na ONU, Mike Waltz.

No entanto, segundo o ICG, essa nova força antigangue não deve ser implantada antes de seis meses. O mandato atual da MMAS, por sua vez, termina oficialmente nesta quinta-feira, 2 de outubro.

Participação do Brasil

A participação do Brasil na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) foi uma das mais relevantes atuações internacionais das Forças Armadas brasileiras nas últimas décadas. Iniciada em 2004, após a queda do presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, a missão tinha como objetivo restaurar a estabilidade política, garantir a segurança interna e apoiar a reconstrução institucional do país.

O Brasil assumiu o comando militar da MINUSTAH durante todo o período da operação, até 2017, destacando milhares de militares em rodízios periódicos. Além das ações de segurança, os contingentes brasileiros realizaram obras de infraestrutura, apoio humanitário e projetos sociais, conquistando reconhecimento internacional pelo profissionalismo e capacidade de liderança.

A missão no Haiti consolidou a imagem do Brasil como um importante ator em operações de paz da ONU, ampliando sua projeção diplomática e sua experiência em cenários complexos de segurança internacional.

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