Aumento das incursões de drones testa defesas e unidade da Europa

DefesaNet – Análise

O conflito na Ucrânia, descrito por muitos analistas como uma “guerra de drones”, já não se limita ao território ucraniano. Nas últimas semanas, multiplicaram-se incidentes envolvendo incursões aéreas em Estados-membros da União Europeia (UE), ampliando a percepção de risco e testando a coesão política e militar do bloco.

Incidentes recentes

Setembro foi marcado por uma série de violações do espaço aéreo europeu.

  • 9 de setembro – 19 drones, alegadamente russos, penetraram no espaço aéreo polaco. Quatro foram interceptados.
  • 13 de setembro – aeronaves semelhantes foram observadas na Romênia.
  • Semanas seguintes – voos foram interrompidos nos aeroportos de Copenhaga e Oslo após avistamentos de drones.
  • França, 21/22 de setembro – drones sobrevoaram uma base militar. Até o momento não está claro se se tratava de operadores hostis ou de amadores.
Drones russos abatidos por unidade ucraniana.

Risco permanente

Robert Garbett, fundador e diretor-executivo do Drone Major Group, considera provável o uso de drones de curto alcance, possivelmente sistemas híbridos VTOL operados a partir de áreas próximas. Ele ressalta, entretanto, que o perigo persiste mesmo sem ataques diretos:

“Podem transportar engenhos explosivos para serem libertados ou detonados por uma ação kamikaze. Estas incursões podem perturbar e danificar as nossas economias, recolher dados sobre as nossas infraestruturas nacionais críticas (CNI) e semear o medo e a divisão entre as populações ocidentais.”

Ambiguidade estratégica

A dificuldade em atribuir a origem destes incidentes é um dos principais fatores de preocupação. Christophe Gomart, eurodeputado francês e ex-diretor dos serviços secretos militares, apresenta três hipóteses:

  1. Interferências que provoquem perda de controle dos drones.
  2. Provocações deliberadas para testar reações.
  3. Avaliação das capacidades defensivas da Polônia, Romênia e, por extensão, da UE e da OTAN.

Implicações militares e políticas

  • Expansão do conflito – As incursões indicam que a guerra já ultrapassa os limites ucranianos.
  • Vulnerabilidade – Sistemas de defesa aérea tradicionais têm dificuldade em enfrentar drones de baixo custo e baixa assinatura.
  • Pressão sobre a coesão europeia – Estados na linha de frente, como Polônia e Romênia, exigem respostas mais firmes, enquanto outros membros podem adotar posições cautelosas.
  • Instrumento de guerra psicológica – Mesmo sem ofensiva direta, a utilização de drones amplia a percepção de insegurança e força o debate europeu sobre defesa comum e investimentos em sistemas antidrones.

Falta de visão estratégica no Brasil

O DefesaNet foi o primeiro portal de defesa brasileiro a destacar o fenômeno da “dronização” do campo de batalha, em análises publicadas desde 2011. Ainda assim, o Brasil mantém-se alheio a esse novo vetor da guerra moderna, deixando passar a oportunidade de desenvolver capacidades próprias.

A ausência de investimento nacional em sistemas não tripulados reforça a dependência tecnológica e doutrinária de outros países — um erro estratégico que compromete não apenas a soberania operacional, mas também a autonomia de decisões em cenários futuros.

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