Navio Doca Multipropósito “Oiapoque” é o quinto da Marinha do Brasil a ostentar esse nome

Entenda os fatores que contribuem para a escolha dos nomes dos meios navais brasileiros

Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Daniela Meireles

O HMS “Bulwark”, navio de guerra adquirido da Marinha Real Britânica em setembro deste ano para fortalecer a Esquadra brasileira a partir de 2026, já recebeu um novo nome: Navio Doca Multipropósito “Oiapoque”. Esta é a quinta embarcação da Marinha do Brasil (MB) batizada em alusão ao rio que traça o limite da fronteira Norte do País no Amapá. O navio segue a tradição da Força de homenagear as características geomorfológicas brasileiras.

Os quatro navios anteriores tinham proporções menores, adequadas à navegação fluvial, o que facilitava a passagem por canais estreitos e rasos. O primeiro, com propulsão a vapor e casco de madeira, foi construído em 1865 e participou da Guerra da Tríplice Aliança. Transportou tropas para o Sul do País e operou no eixo fluvial dos rios Paraná e Paraguai, contribuindo para o esforço logístico que impediu o avanço paraguaio sobre o território nacional. Naufragou três anos depois, na costa do Uruguai, na Praia de Santa Rosa.

Quanto ao segundo navio, um vapor fluvial incorporado à Flotilha do Amazonas, há poucas informações disponíveis. Sabe-se que serviu, por breve período, como Capitânia daquela Flotilha em 1891. 

Os dois primeiros navios da Marinha do Brasil nomeados como ‘Oiapoque’ foram navios mercantes de casco de madeira adaptados para uso militar”, explica o Chefe do Departamento de História da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), Capitão de Fragata (Quadro Técnico) Carlos André Lopes da Silva.

Aviso Fluvial “Oiapoque” tinha proporções menores, adequadas à navegação fluvial ‒ Imagem: DPHDM/ Marinha do Brasil
Incorporado em 1908, o Aviso Fluvial “Oiapoque”, foi o terceiro navio da Marinha do Brasil a ostentar esse nome ‒ Imagem: DPHDM/Marinha do Brasil

O terceiro navio, também com propulsão a vapor, mas equipado com hélice e casco de ferro, foi construído em 1907 e incorporado à Flotilha do Mato Grosso em 1908. Tinha comprimento de 40 metros, boca (largura) de 5,2 metros e calado (distância entre a quilha e a superfície da água) de 2 metros. Operou por 55 anos naquela Flotilha, realizando comissões de natureza militar, científica e humanitária. Prestou apoio contínuo às unidades do Exército na região e assistiu as populações ribeirinhas ameaçadas por inundações durante os períodos de cheia dos rios.

O quarto meio a ostentar o nome foi o Aviso “Rio Oiapoque”, da classe de avisos de transporte “Rio Pardo”, incorporado à Marinha em 1975 e permaneceu, por curto período, classificado como navio. Durante décadas, cruzou a Baía de Guanabara transportando pessoal para a Base Naval do Rio de Janeiro.

Entre todas as embarcações que ostentaram o nome, o Navio Doca Multipropósito (NDM) “Oiapoque” é o único com características apropriadas para navegação no mar. Por isso, tem dimensões maiores, como o comprimento de 176 metros, boca de 28,9 metros e calado de 7,1 metros. Sua principal função é transportar tropas, veículos e equipamentos, incluindo convés de voo capaz de abrigar até duas aeronaves de grande porte. Além da tripulação composta por 290 militares, pode acomodar mais 710 combatentes.

O NDM “Oiapoque” será o segundo maior navio da Esquadra brasileira, superado apenas pelo Navio-Aeródromo Multipropósito (NAM) “Atlântico”, antigo HMS “Ocean”, também adquirido da Marinha Real Britânica em 2018. Até então, essa posição pertencia ao Navio Doca Multipropósito (NDM) “Bahia”, comprado em 2016, proveniente da Marinha francesa. O navio classifica-se como transporte de carros de combate, viaturas, equipamentos e tropas.

A escolha dos nomes

A designação final dos navios de guerra brasileiros é prerrogativa do Comandante da Marinha. “É prática comum, em todas as Marinhas de Guerra, o batismo dos meios navais com nomes que remetem à identidade daquelas instituições e do próprio País. No Brasil, a Marinha identifica seus novos meios navais com nomes que vêm sendo utilizados para batizar os navios desde a formação da Primeira Esquadra”, explica o Capitão de Fragata (Quadro Técnico) Carlos André Lopes da Silva.

Dentro dessa tradição, explica o historiador da DPHDM, a MB tem seguido algumas orientações gerais. Uma delas é a vinculação do nome ao caráter nacional da Força Armada, em referência à história da Pátria, aos símbolos nacionais e às características geomorfológicas e psicossociais do País. A outra é a consagração de símbolos e denominações próprias das tradições do “homem do mar”.

Denominações como ‘Amazonas’, que remete ao maior rio brasileiro e também ao estado da Federação que leva seu nome; ‘Caboclo’, que representa uma identidade étnica brasileira; e ‘Barroso’, em homenagem ao Almirante Francisco Manoel Barroso da Silva, herói da Batalha Naval do Riachuelo, são exemplos da orientação que reforça a vinculação do navio com a Nação, seu povo e com a própria Marinha do Brasil”, esclarece.

Corveta “Caboclo” presta homenagem à figura do caboclo, símbolo da miscigenação do povo brasileiro ‒ Imagem: Marinha do Brasil
Navio Hidroceanográfico “Cruzeiro do Sul”, conhecido como “Leão dos Mares”, contribui para realização de levantamentos hidroceanográficos e coleta de dados ambientais ‒ Imagem: Marinha do Brasil

Outras nomenclaturas remetem à mitologia clássica, à fauna marinha e à astronomia. “Marinhas de outras nações utilizam com mais frequência esta orientação para nomear seus navios. No caso dos navios vinculados à Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil, é tradicional o uso de denominações ligadas à astronomia, como ‘Orion’, ‘Sírius’, ‘Canopus’, ‘Argus’, ‘Taurus’ e, mais recentemente, ‘Cruzeiro do Sul’”, afirma o Capitão de Fragata (Quadro Técnico) Lopes.

O batismo de um novo meio naval considera, segundo o Capitão de Fragata (Quadro Técnico) Lopes, aspectos como o significado do nome escolhido dentro das principais orientações, a valoração de determinada opção dentro da conjuntura atual e tradição ensejada por aquele nome através da trajetória dos navios que compartilharam a mesma denominação. O novo NDM “Oiapoque”, portanto, volta a destacar e reconhecer a importância estratégica da região Norte para o País.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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