A Percepção da Ameaça Chinesa

Mísseis supersônicos desfilando na Parada da Vitória em Beijing, 03 Setembro 2025 Foto Agência Xinhua



Dr Reis Friede

Alguns autores, talvez pouco familiarizados com a dinâmica das relações internacionais e com o contexto de polarização de poder global, parecem ignorar o conceito geopolítico de “ameaça” e mesmo a concepção clássica de “conflito”.

  • “Conflito é um enfrentamento, por choque intencional, entre dois seres ou grupos de mesma espécie que manifestam, uns sobre os outros, uma intenção hostil, em geral a propósito de um direito, e que, para mantê-lo, afirmá-lo ou restabelecê-lo, tratam de romper a resistência do outro, eventualmente pelo recurso da violência, o que pode chegar ao caso do aniquilamento físico.” (Freund, 1995).

É por demais óbvio que Estados protagonistas – ou candidatos a esta posição – estão constantemente a buscar um certo grau de dominância ou centralidade no cenário global, o que não implica necessariamente um objetivo clássico de “dominação”, mas ainda assim um contexto de conflitualidade.

Dominância e dominação possuem sentidos diferentes, mas igualmente representam uma ameaça recíproca a Estados que disputam algum grau de preponderância geopolítica.

KAPLAN é um desses autores que parecem não entender essa assertiva, inerente à dinâmica das vinculações internacionais, ao afirmar que “a China não busca construir um império ou difundir sua ideologia, e sim focar no desenvolvimento interno para seu crescimento, e, portanto, não é uma ameaça” (Kaplan, 2013).

Porém, a verdade é que, ao mesmo tempo que a China representa uma ameaça a atual posição estadunidense, os Estados Unidos constituem um desafio às naturais ambições de Pequim. Da mesma forma, ambos os países configuram um obstáculo às aspirações russas de reconstruir seu império. E ainda que a Índia, em breve, possa se unir nesta disputa tetrapolar, o seu grau de empoderamento econômica e militar ainda não permite pretensões mais imediatas. Trata-se, destarte, da inerente dialética conflitual entre sociedades desenvolvidas com capacidade de projeção de poder global.

No passado, a unipolaridade norte-americana, configurada nos últimos estágios da Segunda Guerra Mundial (1939-45) e principalmente nos anos seguintes, possibilitou não somente o término das ameaças nazista alemã e imperial japonesa como também um incisivo processo de descolonização e, consequentemente, o fim das ambições britânicas e francesas de reconstrução de seus impérios. E, ainda que a ameaça soviética tenha sobrevivido por quase 50 anos – durante o período da Guerra Fria (1947-91) -, a dominância estadunidense, por fim, prevaleceu.

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