INPE
06 Agosto 2025
Informações veiculadas pela imprensa nos últimos dias sobre a restrição de acesso global a dados meteorológicos suscitaram no debate público muitas questões sobre o impacto dessas medidas para o mundo e, em particular, para a sociedade brasileira. Nesse sentido, o INPE e a AEB elaboraram esta nota de esclarecimento para responder duas perguntas fundamentais que derivam das notícias, quais sejam:
1. Os satélites meteorológicos dos EUA deixarão de compartilhar dados meteorológicos sobre a atmosfera terrestre e os oceanos com o Brasil?
2. Quais seriam os impactos de uma decisão como essa para a Previsão Numérica de Tempo e Clima no Brasil?
Abaixo seguem as perguntas, com suas respectivas respostas estruturadas em tópicos.
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[1] Os satélites meteorológicos dos EUA deixarão de compartilhar dados meteorológicos sobre a atmosfera terrestre e os oceanos com o Brasil?
1. A comunicação de bloqueio ao acesso a dados de satélites meteorológicos foi feita para os dados dos satélites gerenciados pelas Forças Armadas dos EUA. Estes são os satélites do sistema DMSP, do inglês Defense Meteorological Satellite Program (Programa de Satélites Meteorológicos de Defesa).
2. O comunicado indicou que o sistema DMSP deixaria de compartilhar com o público (global) dados meteorológicos sobre a atmosfera terrestre e os oceanos a partir do final deste mês, 31 de julho.
3. O bloqueio não foi dirigido ao Brasil. O bloqueio foi comunicado para a comunidade global e atingiria também agências civis dentro dos EUA.
4. Os dados do sistema DMSP, processados pelo Centro de Meteorologia Numérica e Oceanografia da Frota da Marinha dos EUA sempre foram disponibilizados para instituições de pesquisa, centros de meteorologia, Organização Meteorológica Mundial (WMO) e para todo uso civil. Em vários centros de previsão do mundo estes dados são incorporados diariamente nos modelos de previsões meteorológicas globais. Eles complementam os dados de outros satélites meteorológicos e ajudam a tornar as previsões melhores.
5. No dia 29 de julho a NOAA emitiu uma nota de atualização na sua página (https://www.ospo.noaa.gov/data/messages/2025/07/MSG_20250730_0015.html), a qual também foi enviada diretamente para sua lista de e-mails de um grupo de usuários de centros de previsão global que fazem uso de dados de satélites meteorológicos (UKmet, ECMWF, MeteoFrance, além de centros do Japão, China, Índia, dentre outros), dando conta de que o Centro de Meteorologia Numérica e Oceanografia da Frota da Marinha dos EUA, responsável pelos satélites do sistema DMSP, havia anunciado planos para continuar a distribuição de seus dados após 31 de julho de 2025, com suporte limitado no horário comercial em dias úteis (8h x 5d). E o comunicado contém uma observação relevante: não haverá interrupção no fornecimento de dados do DMSP, no entanto eles devem ser considerados como “dados de oportunidade”.
6. Recentemente foi anunciado pelo Departamento de Defesa dos EUA que os dados Special Sensor Microwave Imager Sounder (SSMIS) continuarão a ser fornecidos até setembro de 2026 ou enquanto os sensores estiverem funcionando.
[2] Quais seriam os impactos de uma decisão como essa para a Previsão Numérica de Tempo e Clima no Brasil?
1. A NOAA usa os dados do sistema DMSP para a sua fase de assimilação de dados. A falta destes dados afetaria a qualidade da análise do Global Forecast System (GFS), um modelo de previsão do tempo do National Centers for Environmental Prediction (NCEP) dos EUA. Isto é o que nos afeta diretamente: a qualidade da análise do GFS. Isso porque o INPE utiliza as análises deste modelo para seus modelos de previsão global (BAM) e previsões regionais (ETA, BRAMS e WRF). Porém, como estes dados constituem uma fração pequena dos dados usados no processo, o impacto, relativo a uma eventual a ausência destes dados, neste momento, teria um baixo impacto para nossas previsões.
2. A falta destes dados afetaria também a qualidade das análises usadas nas previsões sazonais por conjunto e de diversos produtos importantes para diagnósticos da atmosfera e da superfície dos continentes e dos oceanos, como cobertura de gelo, umidade do solo, vento sobre o oceano, perfis de temperatura e umidade da atmosfera.
3. No caso de dados de satélites meteorológicos, de forma majoritária, usamos os dados da série GOES, satélites meteorológicos geoestacionários, controlados pela NOAA, organização civil, que não foram atingidos por este bloqueio.
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O INPE e a AEB seguem acompanhando os desdobramentos dessa situação, a fim de subsidiar o Governo Federal com informações atinentes a uma eventual descontinuidade de compartilhamento de dados meteorológicos de satélites dos EUA.





















