Prof. Dr. Vinícius Mariano de Carvalho, especialista em Comunicação Estratégica e Defesa, avalia como positivas as campanhas institucionais da Força
Por Segundo-Tenente (RM2-T) João Stilben – Brasília, DF
Uma das mais renomadas pesquisadoras brasileiras em Comunicação, a professora Margarida Kunsch, afirma que “já não existe mais espaço na sociedade para uma comunicação meramente instrumental, técnica e tática”, e que o diálogo entre as instituições e a população deve ser mantido através da interação.
Nesse contexto moderno, de uma comunicação veloz, com diversidade de plataformas e públicos, a Marinha do Brasil (MB) tem buscado se aproximar, cada dia mais, da sociedade brasileira, por meio de campanhas interativas, como as que ocorreram no ano passado, em 11 de junho, com o Dia da Marinha, e em 13 de dezembro, com o Dia do Marinheiro. O diagnóstico positivo é do professor do Mestrado em Comunicações Estratégicas do Departamento de Estudos de Guerra do King’s College (Reino Unido), Dr. Vinícius de Carvalho.
“É fundamental que as Forças Armadas e a Marinha, em particular, sejam capazes de manter um canal de interlocução com a sociedade brasileira, em todos seus aspectos e nuances. E entendermos que a MB não está falando simplesmente para um público-alvo, mas também interagindo, como outras pessoas e entidades que são produtores de conhecimento e comunicação”, afirmou o pesquisador, durante entrevista à Rádio Marinha.
Segundo ele, o caráter de diálogo assumido pela Força, nos últimos anos, demonstra que ela se adaptou ao conceito moderno e necessário de se comunicar, onde não somente “se fala”, mas também se “deixa falar”. “Esse é um ponto muito importante, que o Centro de Comunicação Social da Marinha conseguiu estabelecer: não simplesmente emitir mensagens ou querer convencer as pessoas de alguma coisa. Nós não estamos mais em um mundo desse tipo de convencimento, mas num mundo de interlocução”, avaliou.
Confira a seguir trecho da entrevista do Prof. Dr. Vinícius de Carvalho
Rádio Marinha – Como podemos desenvolver uma Comunicação para que ela seja estratégica, de modo a melhorar a defesa do País e promover uma melhor percepção da sociedade sobre as Forças Armadas?
Prof. Dr. Vinícius Carvalho – Eu diria que a gente não tem que se preocupar com a imagem da Força. Ela já tem uma imagem consagrada na sociedade brasileira e a tarefa da comunicação estratégica está muito além disso. O fundamental é que a comunicação estratégica seja capaz de demonstrar para todos aqueles atores nacionais e internacionais qual o papel das Forças Armadas para o Brasil de hoje. Quais são as ameaças que o País enfrenta e que, necessariamente, requerem forças capacitadas para responder a elas, sejam de caráter mais amplo, levando em conta tanto as relações entre os Estados, como também ameaças que ocorrem dentro dos países, com atores não estatais, em particular o crime organizado transnacional.
Rádio Marinha– A respeito da mentalidade marítima, preocupada com a Amazônia Azul, com a importância do mar para a nossa economia e aos mais de 20 milhões empregos que dependem direta ou indiretamente do mar, o senhor acha que o Brasil tem se aproximado dessa percepção?
Prof. Dr. Vinícius Carvalho – Bom, farei uma pequena comparação com o Reino Unido, onde moro, e onde existe uma grande tradição naval. O Reino Unido não se define como a ilha que é, mas como uma nação marítima. No contexto brasileiro, em virtude de um território tão grande e vasto, é muito fácil esquecermos também da vastidão do mar. Devemos entender essa vastidão não apenas geograficamente, com milhões de quilômetros de mar territorial, mas como o mar é fundamental para uma identidade nacional e para uma economia nacional.
O processo de construir essa consciência será longo e demorado, obviamente, a despeito de termos sido sempre uma nação marítima, por todos os eventos históricos que tivemos que viver desde o processo colonizatório português, até os processos de independência e de consolidação do Estado Nacional, que tem uma vinculação gigante com o mar. Temos que entender que essas consciências tem que ser constantemente cultivadas. Não podemos esquecer do mar nesse sentido.
E a MB tem trabalhado esse conceito (da Amazônia Azul), chamando a atenção para o potencial que o mar tem para o futuro, e também a importância que ele tem no presente. Esse diálogo é importante se pensamos em estratégia: olhar para o passado, olhar para aquilo que foi a história até hoje, e ter uma visão clara de como nós queremos chegar. Ter essa consciência no futuro.
Rádio Marinha – E o senhor considera que essa relação entre passado, presente e futuro dentro da comunicação estratégica da Marinha tem ocorrido?
Prof. Dr. Vinícius Carvalho – Tem e, mais do que isso, a comunicação tem chamado a atenção ao combinar essas duas datas – 11 de junho e 13 de dezembro – como um processo comunicativo único. A MB chama atenção para um fator muito preponderante e específico do Brasil: além de todo esse grande mar da nossa Amazônia Azul, temos uma grande capacidade fluvial e uma grande necessidade fluvial, com a bacia do Amazonas e a Bacia do Prata em particular.
E é bom lembrar que a Batalha do Riachuelo foi uma batalha fluvial, aconteceu nos domínios fluviais do País. Então a gente mostra muito bem que, essa vinculação de uma Marinha que é requerida para as águas interiores, para as bacias – Platina, no caso da batalha do Riachuelo, e hoje, com uma presença gigante nos nossos rios da Amazônia, na Bacia amazônica –, também se conecta com esse outro lado, com a data do Dia do Marinheiro.
A população começa a olhar para uma outra Marinha, que está no mar, presente nessa Amazônia Azul, fundamental para garantir a segurança e a Defesa nacionais.
Fonte: Agência Marinha de Notícias