DRONES – O desafio de criar defesas


Robert Wall
Wall Street Journal


A batalha de Captieux durou só alguns segundos e acabou com uma derrota decisiva para o possível invasor.

O drone inimigo, sobrevoando uma instalação militar francesa ao sul de Bordeaux, foi facilmente detectado pelo radar, uma câmera de vídeo integrada confirmou sua identidade e uma rajada de um bloqueador de radiofrequência ("jammer") interrompeu seus sinais de comunicação, desviando o aparelho de seu alvo.

Foi a primeira vez que um grupo de pequenas empresas inglesas demonstrou seu sistema de defesa contra drones em um palco internacional, diz Mark Radford, diretor-presidente da Blighter Surveillance Systems, fabricante do radar do sistema.

Num momento em que a Amazon Inc. e o Google Inc. estão estudando o uso de drones para tarefas que vão da entrega de pacotes ao fornecimento de serviço de internet rápida, reguladores e militares se preocupam com a possibilidade de que drones baratos, já amplamente disponíveis no mercado, possam se tornar uma ameaça à aviação comercial, a instalações vitais e até mesmo a tropas das forças armadas.

Esses aparelhos, também chamados de veículos aéreos não tripulados, ou Vants, tendem a ser menores e mais leves do que seus homólogos militares. Isso também os torna mais difíceis de serem detectados. Apesar de os drones terem usos legítimos em campos como a fotografia e a produção de filmes, sua rápida propagação e potencial de uso inapropriado abriram as portas para o surgimento de um novo negócio: o desenvolvimento de sistemas de defesa antidrones.

Uma série de incidentes nos Estados Unidos e na Europa ilustram o porquê disso. Uma ação recente do corpo de bombeiros de San Bernadino, na Califórnia, foi prejudicada por drones que sobrevoavam a área. Helicópteros usados para combater as chamas foram forçados a suspender temporariamente as operações devido a temores de uma colisão com os drones, informou uma autoridade da cidade.

Em agosto de 2013, um drone sobrevoou as instalações da BAE Systems PLC onde são construídos submarinos para a Marinha Real Britânica, no norte da Inglaterra. No mês seguinte, um minidrone atrapalhou um comício da chanceler alemã Angela Merkel.

Em janeiro passado, em Washington, um aficionado de drones acidentalmente derrubou um nos jardins da Casa Branca, provocando o fechamento da área por questões de segurança. E, em abril, depois de vários drones terem sido vistos sobrevoando estações de energia nuclear na França, o governo contratou equipes de pesquisa militar para desenvolver armas que a polícia e a força aérea possam usar para derrubar esses aparelhos, que são do tamanho de um pássaro.

A fabricante francesa de equipamentos de defesa Thales SA está trabalhando na construção de um sistema que usaria radares para detectar drones, uma câmera para identifica-los e sistemas bloqueadores sofisticados "para controlá-los", diz Dominique Gaiardo, vice-presidente da empresa e encarregado da área de sistemas de proteção. A firma espera ter um protótipo pronto no fim de 2016, diz ele.

O Laboratório da Ciência de Defesa e Tecnologia do governo britânico afirma que os drones poderiam ser usados por um inimigo potencial contra os interesses do país e que está estudando o problema. Ao mesmo tempo, a Agência Europeia de Defesa, que é sediada em Bruxelas e cuja missão é promover a cooperação militar na União Europeia, está  considerando se iniciativas de proteção contra os drones deveriam ter maior prioridade nos planos das forças armadas do continente.

As preocupações vão além das forças armadas. Aviões de passageiros já quase se chocaram com drones ao se aproximarem de aeroportos importantes, como LaGuardia, em Nova York, e Heathrow, em Londres.

"Um aeroporto estaria em seu direito se introduzisse medidas para combater os riscos causados por drones", afirma a agência do governo britânico que supervisiona a aviação comercial.

Especialistas dizem que a defesa contra drones apresenta vários desafios. Isso se deve, em parte, à forma como os sistemas de radar convencionais evoluíram. Por anos, os fabricantes de radares usaram software para garantir que pequenas aves não fossem registradas nas telas de radar, o que causaria confusão. Agora, engenheiros têm que criar algoritmos para identificar objetos desse tamanho e distinguir drones de pássaros.

Essa estratégia não seria viável em qualquer lugar. Muitos lugares onde o espaço aéreo é restrito, como arredores de instalações governamentais importantes ou estádios esportivos, estão em áreas habitadas, o que significa que derrubar um drone invasor não seria uma opção viável.

Nos EUA, algumas empresas estão desenvolvendo sistemas que usam microfones ou radares para detectar drones. As autoridades americanas já usaram esses sistemas para proteger prisões, eventos esportivos e edifícios públicos, segundo a Drone Shield LLC, fabricante americana de sistemas para a detecção de drones. É crucial que esses sistemas tenham custo baixo porque os próprios drones são relativamente baratos menos de US$ 1 mil até para modelos comerciais sofisticados.

Uma questão importante é quando seria apropriado derrubar esses aparelhos não tripulados. "Há muita discussão sobre quais são [os parâmetros] legais e os regulamentos. Isso ainda está sendo trabalhado", diz Radford.
 

Imagens de pistola colocada em drone dão lugar a investigação¹

Juntar uma arma de fogo semiautomática a um drone caseiro é possível e é caso para alertar as autoridades norte-americanas.

Adianta o Market Watch que a Federal Aviation Administration – regulador na área de aviação – abriu um inquérito ao vídeo que ficou conhecido na última semana, no YouTube, e que mostra como um destes aviões não tripulados se pode tornar perigoso quando alguém tem engenho que chegue para lhe juntar uma arma.

A proeza foi conseguida por um jovem de 18 anos, com a ajuda de um professor da Universidade de Connecticut.

Porém, o que terá começado como uma simples experiência científica já se tornou um caso de justiça, suscitando dúvidas sobre a falta de legislação sobre drones.

Google quer controlar o trânsito de drones nos céus²

A Google quer arrumar os céus, como arrumou a Internet. A empresa, e outras gigantes como a Amazon ou a Verizon, quer constuir um sistema de controle de tráfego aéreo para impedir colisões.

Com a proliferação de drones comerciais, prevê-se que os céus passem a estar bastante mais ocupados, aumentando a probabilidade de colisões em pleno ar.

A Google é uma das candidatas para gerir esta situação. As autoridades nos EUA pediram a colaboração e ideias das empresas para a criação de uma solução que permita fazer a gestão do tráfego de drones comerciais.

A NASA está a coordenar este estudo com a participação de 14 empresas, entre as quais a Google, a Amazon ou a Verizon. Há mais de cem outras empresas e universidades interessadas em participar na criação de um Unmanned Aerial System Traffic Management. Este sistema de tráfego será essencial para gerir a circulação de drones para entregas de bens, inspeção de linhas elétricas e de colheitas, explica a Bloomberg.

Ainda não se sabe se será apenas um sistema ou vários a terem a gestão do tráfego dos drones, nem se esses sistemas irão ser públicos ou privados. A ideia é que na próxima semana a NASA tenha uma conferência que lance as bases do pretendido e que as empresas colaborem no sentido de construir a melhor solução. Uma rede de computadores em terra a gerir o tráfego aéreo a evitar colisões no ar parece ser a melhor ideia. Neste sistema, os humanos têm o controlo total, mas têm de confiar nos computadores para tomarem as melhores decisões.

A PrecisionHawk, uma empresa da Carolina do Norte, já tem um sistema de controlo nos seus drones, exigido pelos clientes da área petrolífera e da agricultura. Os drones não voam em zonas classificadas como proibidas, como é o caso do espaço aéreo dos aeroportos, por exemplo. Este é apenas um caso dos muitos já existentes no setor. O desafio será encontrar uma solução que agrade a todos os intervenientes.
 

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¹ Notícias ao Minuto (PORTUGAL)
² Exame Informática (PORTUGAL)
Com clipping NOTIMP/ Agência Força Aérea (FAB)

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