Reflexões acerca dos movimentos irregulares e a Guerra de 4ª geração

 

André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos e consultor
de organizações internacionais.

Um movimento irregular, tratado pelos modernos doutrinadores como guerra de 4ª geração, é baseado na violência, conduzida por grupos radicais que atuam no meio urbano procurando pela surpresa e pela propaganda de seus feitos, desgastar as forças legais e o poder constituído e cuja arma psicológica é de extrema importância.

Trata-se de um antigo movimento ainda dos tempos bíblicos  mas que no início do século XX, foi acrescido da ideologia como elemento provocador, multiplicador e fomentador dessa forma de violência, de baixíssimo custo. Busca como condicionante, a exploração da juventude idealista facilmente envolvida por quem apresente possibilidades de solucionar problemas do país, de maneira rápida e com a participação destes, havidos por soluções ao alcance de suas mãos. Assim, jovens estudantes, desempregados e delinquentes são, em geral, uma vasta massa de manobra.

A atuação, inicia-se exatamente por pequenos confrontos com forças de segurança para testá-las, com atos de vandalismo e depredações. O primeiro objetivo, é fixar-se as zonas que serão convertidas em base de apoio, conhecer o meio e estabelecer vínculos. Posteriormente, conforme a evolução dos movimentos e o comportamento dos governos, partem para ações mais agressivas como a sabotagem e o terrorismo.

Uma característica importante destes movimentos, talvez a mais fundamental, é que não há interesse que a população tenha suas aspirações atendidas. Por este motivo, é necessário  informações sobre a conjuntura do país para adaptarem seus próprios programas ou “bandeiras” e sabotar os esforços do governo constituído, se este for sensível aos desejos de sua sociedade. Com as novas tecnologias de comunicação on line e as redes sociais, esta possibilidade de coleta de informações sobre o país alvo foram enormemente facilitadas.

Outra característica marcante é a de que em suas ações, desaparecem as regras. As normas vigentes nada significam pois são fruto do poder dominante ao qual querem extirpar ou enfraquecer.
Historicamente, existiam quatro linhas ideológicas distintas, adotadas por movimentos desta natureza. A linha Chinesa, seguindo o pensamento de Mao Tsé Tung, pregava ações armadas preponderantemente no meio rural. A linha Trotskysta, apregoava o uso da violência por grupos armados no ambiente urbano. A linha ortodoxa russa,  adotava a linha pacífica, ou seja, sem uma luta armada direta mas baseada no movimento de massas atuando no ambiente urbano com ações de violência.  A cubana, inicialmente pregava a luta armada em ambiente rural mas por influência de Fidel Castro, migrou para áreas urbanas como resultado da revolução de 1951. 

Na década de 80, uma nova linha surgiria com o radicalismo islâmico, o que hoje deriva os grupos terroristas internacionais. Muitos dos movimentos irregulares da atualidade, combinam aspectos das diversas linhas ideológicas, conforme o ambiente de atuação.

Muitos analistas apontam os movimentos irregulares como um novo desafio para as democracias, com tendências ao recrudescimento nos próximos anos em função do que Niall Ferguson chama de a grande degeneração. Diferentemente dos grupos surgidos na década de 60 a 80, os atuais não necessariamente desejam o poder, mas tem potencial para influenciá-lo, de acordo com seus interesses, forçando o poder governamental a adotar políticas que os beneficiem. Entre estes, incluem-se as organizações ligadas ao narcotráfico e ao crime organizado como patrocinadores. 

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