Entrevista com Major Oscar Filho, membro do Corpo Docente do Instituto Meira Mattos (IMM)

APRESENTAÇÃO: O Major Oscar Medeiros Filho é oficial do Quadro Complementar. Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, possui mestrado em Geografia Humana (2004) e doutorado em Ciência Política (2010) pela Universidade de São Paulo (USP).

Tem experiência na área de Geografia, Geopolítica e Segurança Internacional. Lecionou Geografia, Antropologia, Sociologia e Política na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) (1996-2010). Foi professor das Cadeiras de Relações Internacionais e Geografia da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) (2011-2012). Atua na área de defesa como professor e pesquisador nos programas de pesquisa e pós-graduação do Instituto Meira Mattos da Escola de Comando Estado-Maior do Exército (IMM/ECEME).

EBlog: Como foi o convite para participar do Corpo Docente do Instituto Meira Mattos (IMM)?

Maj Oscar Filho:  Estou convencido de que o convite é fruto da minha trajetória acadêmica, em que mantive estreita relação com a ECEME em virtude, especialmente, do meu objeto de estudo. Realizei meu mestrado no Departamento de Geografia da USP entre os anos de 2001 e 2004, tendo como foco central a análise do cenário geopolítico sul-americano. Esse período coincide com a criação do Centro de Estudos Estratégicos (CEE) e do Programa de Pós-Graduação da ECEME (PPG/ECEME) que dinamizaram o debate acerca de temas como geopolítica e defesa nacional naquela Escola. Na ocasião, muitos dos trabalhos desenvolvidos na ECEME foram considerados na minha pesquisa de mestrado.

Entre 2006 e 2010, realizei doutorado no Departamento de Ciência Política da USP tratando das percepções militares na América do Sul. O tema me aproximou ainda mais da ECEME. Comecei a estabelecer contato com instrutores, realizei entrevistas com alunos, especialmente com Oficias de Nações Amigas (ONAs), participei de seminários, de banca de defesa de tese, além de realizar algumas co-orientações. No final de 2010, fui transferido da EsPCEx (Campinas-SP) para a AMAN (Resende-RJ), o que me permitiu estar fisicamente mais próximo da ECEME.

Como professor de Relações Internacionais e Geografia, tive a oportunidade de realizar visitas à ECEME, o que nos rendeu algumas oportunidades acadêmicas, como a coordenação de simpósios temáticos em encontros de defesa e a inscrição de ambas as Escolas, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Assuntos Estratégicos de Interesse Nacional (Pró-Estratégia) onde temos estudado temas como vigilância nas fronteiras e guerra cibernética. Fruto dessa trajetória, no início de 2012, fui oficialmente convidado a participar do Corpo Docente do IMM, o que muito me honrou.

EBlog: Qual o propósito do IMM?

Maj Oscar Filho: O IMM foi criado com o propósito principal de agregar mais qualidade teórica e metodológica às pesquisas realizadas na ECEME, sem prejudicar os cursos regulares tradicionalmente desenvolvidos naquela Escola. Para tanto, congregou pesquisadores – civis e militares, de origens multidisciplinares – com o intuito de dar suporte às atividades de ensino, pesquisa e produção de conhecimento desenvolvido. Além de formar profissionais – incluindo civis – aptos à pesquisa e ao assessoramento no campo da defesa, o IMM tem possibilitado à ECEME o reconhecimento por parte das agências de fomento à pesquisa dos seus cursos de pós-graduação.

EBlog: Como foi o processo de criação do IMM?

Maj Oscar Filho: O IMM é fruto de esforços realizados ao longo dessas duas últimas décadas pelo Departamento de Ensino Pesquisa (DEP), hoje Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), que tem buscado adequar o ensino ministrado nas escolas do Exército – que por sinal é de excelente qualidade – às novas demandas do século XXI.

Destaco aqui a importância recentemente dada pelo sistema de ensino de Exército a alguns aspectos, como a busca pelo autoaperfeiçoamento e o incentivo ao estudo de temas como a Estratégia e a História Militar. Já citei algumas ações realizadas na própria ECEME que antecedem a criação do IMM, como a criação do CEE e do PPG no início da década passada. Portanto, a criação do IMM resulta de um conjunto de medidas tomadas pelo Exército visando a qualificar ainda mais o seu ensino no nível de pós-graduação.

EBlog: Qual o papel do IMM no processo de transformação do Exército?

Maj Oscar Filho: A educação é um dos principais vetores do processo de transformação do Exército. As novas demandas do século XXI exigirão das Forças Armadas a capacitação de seus recursos humanos que, com base em novas competências e habilidades, os possibilitem se adaptar rapidamente às mudanças tecnológicas e doutrinárias impostas às instituições militares. Nesse sentido, o IMM assume um importante papel no processo de transformação do Exército na medida em que propicia as condições necessárias para a capacitação de recursos humanos na Escola de mais alto nível do Exército.

EBlog: O que representa, para o meio acadêmico, a implantação do IMM?

Maj Oscar Filho: O tema defesa tem conquistado, nos últimos anos, cada vez mais espaço no meio acadêmico. Esse aspecto resulta, de um lado, do esforço de acadêmicos e agentes do Estado que percebem um descompasso entre a estatura geopolítica brasileira e os investimentos em defesa no País. Por outro lado, é fruto de alterações na conjuntura internacional que têm ampliado a importância geoestratégica do Brasil no cenário internacional.

A tendência é que, à medida que o País amplie sua participação no “tabuleiro internacional”, o tema defesa ganhe mais espaço no meio acadêmico. Muitas iniciativas nesse sentido têm sido tomadas. Destaco a sinergia entre militares e acadêmicos observadas nos encontros nacionais realizados anualmente pela Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED).

Nestes, temas como Indústria de Defesa, Relações Internacionais, Ensino Militar, dentre outros, encontram um espaço acadêmico multidisciplinar adequado para sua discussão, geram ideias importantes para o desenvolvimento de políticas públicas no setor, além de despertar nos jovens pesquisadores o interesse pelo tema defesa. Encerrando, gostaria de dizer que, além de formar profissionais capacitados para a pesquisa e o assessoramento de mais alto nível na campo da defesa, o IMM constitui importante canal de interlocução entre o ensino do Exército e o meio acadêmico nacional e internacional.

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