Espaço – Ex-ministro sai do comando de binacional espacial

Cláudio Angelo

O ex-ministro e vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, foi demitido da diretoria da empresa binacional ACS (Alcântara Cyclone Space), que ele mesmo fundou em parceria com a Ucrânia para lançar satélites comerciais da base de Alcântara. Ato contínuo à demissão, Amaral foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff para os conselhos do BNDES e da binacional Itaipu. Caiu para cima: só no BNDES, ganhará R$ 5.300 por mês para comparecer uma vez a cada três meses às reuniões do conselho. Em Itaipu, R$ 13.170 mensais para comparecer a reuniões bimestrais.

O lado brasileiro da empresa, desde anteontem, passa a ser dirigido por Reinaldo Melo, vice de Amaral na ACS. Em nota, o PSB diz que Amaral saiu atendendo a um chamado do presidente do partido, Eduardo Campos, para "dedicar-se mais intensamente às suas atividades como vice-presidente nacional do PSB".

Segundo fontes do setor, porém, a saída do ex-ministro foi articulada entre o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, e o Palácio do Planalto. Ela é a primeira movimentação do novo comando do programa espacial brasileiro, que visa desidratar a parceria com a Ucrânia e investir nos satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e nos foguetes do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), ligado ao Ministério da Defesa.

Segundo uma fonte graduada do programa espacial, Mercadante entende que o programa com a Ucrânia virou um estorvo. Seu objetivo inicial, o de lançar um foguete ucraniano Cyclone-4 de Alcântara em 2010, não foi cumprido. Depois de uma série de problemas fundiários, a ACS conseguiu apenas lançar a pedra fundamental do sítio do Cyclone, num matagal dentro da base militar de Alcântara, no fim do ano passado.

Assim como está atrasada a infraestrutura de lançamento, a encargo do Brasil, a produção do foguete, responsabilidade da Ucrânia, também patina. Quebrada após a crise de 2008, a ex-república soviética não consegue dinheiro para concluir a montagem do Cyclone-4. Vários especialistas também apontam que não há nenhuma transferência de tecnologia prevista no tratado assinado pelo Brasil durante a gestão de Amaral no Ministério da Ciência e Tecnologia com a Ucrânia, que deu origem à ACS.

Outro problema é o fato de que, a ACS depende, para ter sucesso no mercado de satélites, de um acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA _já que quase todos os satélites do mundo têm peças americanas. O Brasil não possui esse acordo. O governo brasileiro está ainda preocupado com o custo crescente do programa. Inicialmente orçado em R$ 100 milhões, ele deverá chegar a quase R$ 1 bilhão para o país. O Brasil já pôs mais de R$ 200 milhões no capital da empresa. A Ucrânia ainda não deu sua contrapartida.

Na semana passada, durante a posse do novo presidente da Agência Espacial Brasileira, Marco Antônio Raupp, Mercadante havia condicionado a continuidade do programa Cyclone ao aporte da contrapartida ucraniana. A ACS afirma que a saída de Amaral não muda em nada o plano da empresa de realizar o primeiro lançamento do Cyclone-4 em Alcântara em 2012.

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