GM – Onda de fechamento gera preocupação e empresa faz leilão entre países


Júlio Ottoboni
 
 
A onda de fechamento de fábricas e exclusão da marca Chevrolet em vários países passou a preocupar as autoridades brasileiras. Porém a nova presidente mundial da companhia, Mary Barra, não quer perder o terceiro maior mercado mundial da marca e já fez com que o discurso da direção da GM do Brasil fosse drasticamente reformulado, dando sinais que a multinacional norte-americana partiu para um leilão junto aos governos e trabalhadores.
 
Depois de afirmar categoricamente em maio último que o investimento de R$ 2,5 bilhões se viessem para o país seriam aplicados exclusivamente na recuperação da unidade de São José dos Campos, o diretor de relações institucionais, Luiz Moan, admite que São Caetano e Gravataí estão habilitados na disputa. Inclusive a fábrica da Argentina estaria na disputa, situação que até final de dezembro era totalmente descartada.
 
 Mary Barra acertou sua vinda ao Brasil ainda neste primeiro trimestre, data que coincide com o anúncio dos investimentos de R$ 2,5 bilhões que a GM pretende fazer para a produção carro Jade. Três países estavam na disputa, todos de continentes diferentes, conforme a própria companhia havia anunciado. Com a saída da Austrália, onde duas fábricas foram fechadas depois da recusa do governo em continuar  dando incentivos à GM, sobraram a Indonésia, tida como o mercado do momento na Ásia e com o governo investindo pesadamente, e o Brasil, que ainda briga para manter-se na disputa.
 
A nova presidente mundial quer negociar diretamente com o governo federal novas maneiras de manter a GM em solo brasileiro e reverter o crescimento pífio das vendas no país em 2013, na casa de 1,1%. Todos os outros cinco países no ranking das maiores vendagens da GM tiveram desempenho melhor. Nos Estados Unidos foram de 5,2% e na China em 4,0%. Abaixo do Brasil, México alcançou 7,6% e a Rússia 15%, entretanto com volumes de venda abaixo dos 60% das vendas nacionais, na faixa de 650 mil unidades, apenas 3 mil a menos que na China.
 
Com o fim das linhas Chevrolet na Europa, onde serão gastos mais de US$ 1 bilhão para o encerramento das atividades, e o acordo com a montadora francesa Pegeout para abastecer os mercados da América do Sul e da Rússia, o principal executivo da GM na América do Sul, Jaime Ardila, afirma que os planos da montadora norte-americana continuam firmes nesta porção do continente e a intenção é diminuir a dependência da fábrica do México.
 
Por outro lado, as especulações sobre o fim da GM na América  do Sul já tiveram inicio, inclusive dentro da alta gerência da empresa, que não se surpreenderia com o anúncio das atividades no Brasil e Argentina a partir de 2017. O cenário da região é muito semelhante ao da Oceania, inclusive com a política da direção da montadora em recorrer a constantes auxílios e benefícios junto aos governos, achatamento de salários e conflitos com trabalhadores.
 
A matriz da montadora norte americana quer diminuir seus prejuízos principalmente em mercados que apresentem conflitos e resistências. Seus executivos estão determinados a atacar as operações não lucrativas fora do seu mercado de origem, o dos Estados Unidos. Seu balanço em 2013 mostrou um quadro crítico em suas operações internacionais, incluindo a maior parte da Ásia, onde seu lucro caiu. Isso sem contar com o fracasso que tem sido a joint venture na China , a região a qual a GM teria perdido mais de US $ 100 milhões.
 
O mesmo ocorreu na Austrália, mercado com forte concorrências dos carros japoneses e com o fim de benefícios dados pelo governo. A alta no dolar australiano também dificultou as pretenções da multinacional no continente, que será abastecido pelas fábricas asiáticas.  No início de dezembro passado a direção da GM decidiu fechar suas fábricas na Oceania e reduzir a produção na Coréia do Sul em até 20% até 2016. A direção mundial da General Motors já confirmou que encerrará sua produção nas duas fábricas da Austrália com o corte de 2.900 postos de trabalho até 2017.
 
A situação da Austrália é muito semelhante a do Brasil, porém numa escala mercadológica bem menor. O recém aposentado CEO da GM na Oceania, Dan Akerson, descreveu o quadro. "A decisão de acabar com a fabricação na Austrália  reflete o cenário de influências negativas que a indústria automobilística enfrenta no país, incluindo a alta do dólar australiano , o alto custo de produção, mercado interno pequeno e, sem dúvida, o mercado de automóveis mais competitivo e fragmentado do mundo", destacou.
 
A Ásia também não ficou de fora. Além de suspender a marca Chevrolet na Europa, a GM diminuirá em 20% sua produção na Coreia do Sul. Apesar da produção coreana abastecer a Europa, as tensões políticas , combinadas com impostos e aumento dos custos de logística fizeram a GM produzir um carro mais caro no país. O corte só não foi mais drástico porque a montadora decidiu produzir na próxima geração do carro Cruze no país.
 
Indonésia
 
Até mesmo a Indonésia, tida como destino certo do investimento e considerada a “nova China’” pela direção da multinacional, ganhou agora a concorrência da Tailândia, país que a marca tem uma sólida estrutura fabril. O sudeste asiático é estratégico para a marca Chevrolet, que denomina a Tailândia, Malásia e Indonésia como os ‘três gigantes’ da região.  Eles são responsáveis ??por 87% do volume de produção e representam um mercado de 3,09 milhões de unidades.
 
A Tailândia tem estrutura atualmente para produzir 180 mil carros e caminhões. No ano passado, o volume na unidade de Tailândia cresceu 139%. A GM ainda fez um investimento na Indonésia para adicionar mais 40 mil unidades no volume produtivo. Os salários são bem mais baixos dos que são praticados em outras unidades da GM, embora considerados muito bons para o padrão asiático, o que tem atraído uma gama enorme de interessados, segundo a própria direção da companhia.
 
Entretanto, o crescimento da Indonésia vem tendo uma trajetória mais ascendente. A expectativa é que o país venha a superar economicamente a Tailândia ainda este ano ou próximo ano. O consumo de veículos na Indonésia é de 2 milhões de unidade, embora só produza no país cerca de 700 mil veículos, enquanto na Tailândia chega a faixa de 1,4 milhão, mesmo fabricando 1,6 milhão de unidades por ano.
 
O governo da Indonésia confirmou recentemente planos de se tornar líder no sudeste asiático, principalmente na produção de veiculos, como os carros ecológicos. A intenção se se tornar a grande base de produção para os veículos movidos a híbridos até 2020.Também foi anunciado que neste ano aIndonésia pleiteará sua inclusão no grupo de economias emergentes, o  BRICS (Brasil, Rússia , Índia, China , África do Sul ). Nos últimos 5 anos a Indonésia tem registrado crescimentos acima de 6% em seu PIB a cada ano.

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