T-35 – A primeira e última missão do gigante soviético

Aleksandr Korolkov


Desde que apareceram durante a Primeira Guerra Mundial, os tanques rapidamente cresceram em tamanho, poder e armamento – até que a agilidade imposta pela Segunda Guerra Mundial os trouxeram de volta a uma dimensão razoável.

O primeiro tanque multitorre pesado foi o francês Char 2C, seguido, no final dos anos 1920, pelo britânico A1E1 Independent, uma imponente máquina de 33 toneladas. Apesar de este modelo de cinco torres jamais ter sido fabricado em massa, tudo leva a crer que ele pode ter inspirado os projetistas soviéticos.

A base industrial herdada pelos bolcheviques, prejudicada pela perda de muitos engenheiros experientes na Revolução Russa, era incapaz de produzir tecnologia moderna para produção em massa e teve de ser erguida a partir do zero. Na época, o planejamento experimental soviética surgiu com todo vapor.

Construir tanques leves era mais fácil e bastava copiar modelos estrangeiros. Mas não havia nenhuma receita pronta para os tanques pesados. Era necessário, portanto, usar o conhecimento adquirido em projetos conjuntos com engenheiro alemão Edward Grotte.

O tanque médio TG, do grupo de design soviético-alemão, não foi produzido em larga escala, mas deu à jovem equipe soviética uma experiência prática de valor inestimável. Com o tempo, os russos evoluíram para projetos maiores – e logo o T-35 saiu do papel.

Excesso de peso

O tanque deveria pesar cerca de 35 toneladas, mas o protótipo de 1932 ultrapassou em 10 toneladas as expectativas iniciais. O monstro resultante tinha mais de três metros de altura, torres com canhões de 76 milímetros acoplados e metralhadoras que podiam girar 360 graus.

Duas torres menores, com canhões de 45 milímetros e outras metralhadoras que podiam dar meia volta, foram implantadas nas partes dianteira e traseira do veículo. Outras duas torres de metralhadora e uma porta de disparo sob a arma traseira completavam o arsenal do tanque.

A máquina era alimentada por um motor de 500 cavalos de potência e atingia velocidade máxima de apenas 28 quilômetros por hora na estrada. Os militares aceitaram o tanque, mas estavam insatisfeitos com o design de chassi complexo e a capacidade reduzida do motor.

No início dos anos 1930, os estrategistas soviéticos planejavam os próximos estágios da guerra entre tanques. Os modelos médios T-28 romperiam as defesas inimigas, os T-35s iriam invadir e aniquilar tudo à volta com seu enorme poder de fogo, seguido por uma terceira onda de T-26s e modelos ainda mais leves.

No entanto, a experiência da Guerra Civil Espanhola, a batalha soviética contra os japoneses e a Guerra de Inverno com a Finlândia demonstraram a ameaça da artilharia antitanque e a necessidade de montar ofensivas.

Em condições severas, a blindagem de 10 a 50 mm era insuficiente. Porém, as tentativas de aumentar a espessura fizeram com que a massa do tanque chegasse a 55 toneladas, e nenhum motor soviético era capaz de fornecer força para um veículo dessa dimensão.

Outra desvantagem era a incapacidade do comandante de liderar simultaneamente os disparos a partir de cinco torres. Os projetistas tentaram, sem sucesso, equipa-lo com sistemas de armas navais para sincronizar o disparo múltiplo, mas, no início dos anos 40, o tanque já estava obsoleto em termos de design e táticas de uso.

Garoto-propaganda

O T-35 não entrou em ação até a invasão alemã da União Soviética, em junho de 1941. Ele servia mais na frente ideológica, ocupando praças de cidades como um símbolo do poderio militar soviético e atraindo multidões e observadores estrangeiros.

O veículo era representado em cartazes e na medalha “Para coragem”, onde durou muito mais do que na vida real. Em 1943, quando o T-35 já havia entrado para a história, ele ainda lutava pela pátria na propaganda soviética.

No campo de batalha, contudo, a história era menos impressionante. Dos 59 T-35s fabricados entre 1934 e 1939, 48 deles entraram em combate, enquanto o resto passava por reparos ou era apenas usado em escolas de formação.

O tanque não sobreviveu aos primeiros dias de combate, já que as máquinas criadas para um ataque repentino não eram capazes de realizar um recuo longo. Apenas sete T-35 foram eliminados em batalha; o restante simplesmente quebrou ou foi abandonado por suas tripulações.

A 34ª Divisão de Tanque da URSS, que tinha as unidades a seu dispor, foi alertada no início da manhã de 22 de junho, quando a invasão começou. Três dos tanques quebraram antes mesmo de entrarem em combate. Depois de percorrer o oeste da Ucrânia, dois dias depois restavam apenas 10 tanques prontos para combate.

Hora de partir

Na confusão do recuo e da luta de fronteira, só existe um registro do seu desempenho em combate. Em 30 de junho de 1941, um grupo de tanques, que incluía quatro T-35s, foi enviado para reforçar outras unidades, mas foi atacado quando estava a caminho.

Artilheiro de uma torre frontal, V. Sazonov escreveu mais tarde: “Nossa última luta foi desastrosa. Em primeiro lugar, disparamos a partir da outra margem o rio, de um povoado chamado Sitna, e depois atacamos com o resto de nossa infantaria. Eles titubearam assim que as balas alemãs começaram a soar, então avançamos e ficamos sob fogo de canhão alemão pela esquerda.

Virei a torre para observar melhor, olhei, olhei, mas não vi nada, e então, surpresa: a torre foi atingida. Mas não era possível enfiar a cabeça para fora pois choviam balas sobre nós. As bombas alemãs nos atingiam em intervalos de cinco segundos e não mais apenas no lado da porta. Foi então que eu vi um clarão, quando ainda estávamos a 50 metros da aldeia, e uma das nossas faixas se rompeu.

Os ataques fizeram o motor parar, e a arma ficou obstruída. Em seguida, vimos soldados alemães e sabíamos que era hora de sair dali. Saltamos da torre para a estrada. Das tripulações de T-35, apenas quatro homens sobreviveram, todos de diferentes tanques.”

Eterna fama

Como os soldados alemães gostavam de posar ao lado dos monstros stalinistas abandonados, há muitas fotografias de batalha do T-35, apesar de sua breve experiência de combate.

O gigante desatualizado nunca provou a sua coragem e terminou dias como um mero artifício de engenharia, um símbolo do poderio militar, assim como o Canhão do Czar*, no Kremlin em Moscou, que nunca foi disparado.

O último exemplar restante é mantido no museu de tanques de Kubinka, nos arredores de Moscou, onde é a estrela da exposição. Ali, o modelo ajuda os visitantes a lembrar dos projetos de design decisivos do século passado, quando os tanques ainda estavam aprendendo a ser tanques.

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*Canhão do Czar (em russo Tsar Pushka, literalmente "Czar dos Canhões" ), é um imenso canhão, construído em 1586 por Andrey Chokov. O canhão pesa 18 toneladas, tem altura de 5,34 metros, calibre de 890 mm e diâmetro externo de 1200 mm.

Este canhão fora concebido para defender o Kremlin moscovita em tempos de guerra. Entretanto nunca foi usado, o que leva a crer que na verdade a arma tenha sido construída apenas como uma demonstração do poderio militar e da engenharia russa.

Sua superfície é adornada em relevo, sendo que uma das figuras representa o Tsar Fedor Ivanovich montado num cavalo. O carro original que sustentava o canhão, feito de madeira, havia sido adicionado à estrutura do artefato no início do século 19, porém um incêndio o destruiu em 1812.

As balas de canhão e o novo carro de metal só foram construídos em 1835. O Tsar Pushka está localizado no Kremlin de Moscou próximo ao Tsar Kolokol, e o Guiness Book o registra como o mais largo Obus já feito.

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Leia também:
– Comandante de um "Emtcha" do Exército Vermelho (link)

– SGM – Panzerschreck: Infantaria vs Aço (link)


 

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