Comandante de um “Emtcha” do Exército Vermelho – Parte 1

Nota Defesanet – Na semana do lançamento do "Fury" nos cinemas dos EUA e Europa (Corações de Ferro no Brasil com previsão de lançamento para 05 fevereiro 2015), filme que conta o drama de uma tripulação de um Sherman M4A3E8, liderados pelo vetereno sargento Don 'Wardaddy' Collier (Brad Pitt) nos campos de batalha na Europa. Resolvemos resgatar esse artigo de um comandate de um "Emtcha", Sherman M4A2. Porém, na outra extremidade do TO, no leste, do lado russo em combate contras às forças nazistas utilizando essa máquina.

Artigo publicado originalmente www.iremember.ru e na versão em português (em 2006) no site www.totalkrieg.com.br.

Dividio em duas (2) partes

Comandante de um "Emtcha" do Exército Vermelho – Parte 1
Comandante de um "Emtcha" do Exército Vermelho – Parte 2


Entrevista feita por Valera Potapov e Artem Drabkin
Tradução para o português de Gustavo Caetano (www.totalkrieg.com.br)
Fonte deste artigo: www.iremember.ru

 

Parte 1


Dimitri Fiedorovitch, em quais tanques americanos você lutou?

– Em Shermans. Nós os chamávamos de "Emtchas", que vem de M4 [em russo "em tchietirie"]. Inicialmente eles tinham o canhão principal curto, mais tarde começaram a vir com a versão mais longa e com freio de boca. Na inclinação da blindagem frontal havia uma trava de transporte usada para prender o tubo durante marchas em estrada.

O canhão principal era bem comprido. No todo, era um bom veículo, mas como todo tanque, tinha seus altos e baixos. Quando alguém me diz que esse foi um tanque ruim eu respondo "Me desculpe, mas não se pode dizer isso. Ruim comparado a que?".

Vocês só possuíam tanques americanos em sua unidade?

– Nosso 6º Exército de Tanques da Guarda Blindado – sim, nós tínhamos seis deles – lutou na Ucrânia, Romênia, Hungria, Tchecoslováquia e Áustria. A guerra terminou para nós na Tchecoslováquia.

Então eles nos enviaram para o extremo leste e nós lutamos contra os japoneses. Lembrando-lhe que o 6º Exército era composto por dois corpos: o 5º Corpo de Tanques da Guarda Blindado "Stalingrado" com nossos T-34s e o 5º Corpo Mecanizado, no qual eu lutei. No início nosso corpo tinha Matildas, Valentines e Churchills.

Sim, um pouco tarde. Depois de 1943 nós recusamos vários tanques ingleses porque eles apresentavam deficiências significantes. Eles tinham 12-14 cavalos por tonelada quando bons tanques deveriam ter 18-20 cavalos por tonelada. Desses três tanques britânicos o melhor era o Valentine produzido no Canadá. Sua blindagem era bem inclinada e o mais importante, ele tinha um canhão principal de 57mm. Minha unidade os substituiu pelos Shermans americanos no final de 1943.

Depois da Operação Kishinev nosso Corpo se tornou o 9º Corpo Mecanizado. Esqueci de mencionar que todo corpo era composto por quatro brigadas. Nosso corpo tinha três brigadas mecanizadas e uma brigada de tanques, na qual lutei. Um Corpo de Tanques tinha três brigadas de tanques e uma brigada mecanizada. Nós tínhamos Shermans em nossa brigada ao fim de 1943.

Mas os tanques britânicos não foram retirados de serviço, de modo que eles continuaram lutando até serem destruídos. Houve algum período em que seu Corpo apresentava uma mistura de tanques britânicos e americanos? Havia algum problema ligado à presença de tanques de diferentes tipos e nacionalidades? Por exemplo, problemas com manutenção e suprimentos?

Bom, problemas sempre estiveram presentes. De maneira geral, o Matilda era imprestável! Eu vou te falar de uma deficiência do Matilda que nos causou vários problemas. Algum tolo no Comando Geral planejou uma operação e nos enviaram para a área de Yelnia, Smolensk e Roslavl.

O terreno de lá era pantanoso. O Matilda tinha saias laterais. O tanque foi originalmente criado para operar no deserto. Essas bordas funcionavam bem no deserto, pois a areia passava por seus escoadouros retangulares. Mas nos pântanos da Rússia a lama se amontoava no espaço entre as esteiras e essas bordas laterais.

A transmissão do Matilda tinha um mecanismo auxiliar para facilitar a troca de marcha. Esse mecanismo não suportava as condições impostas pelo terreno russo, superaquecendo e então falhando. Isso não era problema para os ingleses. Em 1943 eles desenvolveram uma peça de reposição que era instalada facilmente, bastando-se desparafusar quatro parafusos, tirar a peça velha e inserir a nova.

Conosco, nem sempre funcionava assim. No meu batalhão havia um Primeiro Sargento (Starshina) chamado Nesterov, ex-motorista de trator em uma "kolkhoz" [uma espécie de comunidade agrícola soviética] que era o mecânico do batalhão.

Em geral cada uma de nossas companhias de tanques tinha um mecânico, Nesterov era o mecânico do batalhão inteiro. No nosso Corpo nós tínhamos um representante (cujo nome me foge à memória) da firma inglesa que fabricava esses tanques.

Eu tinha o seu nome escrito, mas quando meu tanque foi atingido tudo que havia dentro foi queimado – fotografias, documentos e um caderninho. Éramos proibidos de fazer anotações no front, mas mesmo assim eu o fiz às escondidas.

De qualquer forma, esse representante britânico constantemente interferia em nossas tentativas de reparar componentes individuais do tanque. Ele dizia "Isso vem com um selo de fabricação. Não mecha", de modo que tínhamos que retirar toda a peça a fim de instalar uma nova. Nesterov fez um simples reparo para todas essas transmissões. Certa vez o representante veio até ele e perguntou "Em que universidade você estudou?" ao que Nesterov respondeu "Na kolkhoz!".

Os Shermans eram muito superiores nesse quesito. Você sabia que um dos designers do Sherman foi um engenheiro russo chamado Timoshenko? Ele era parente do Marechal S.K. Timoshenko.

– O Sherman tinha suas franquezas, sendo a maior delas o seu alto centro de gravidade. O tanque freqüentemente tombava para os lados, como uma boneca Matrioshka (uma boneca de madeira). Mas eu estou vivo hoje graças a essa deficiência.

Estávamos lutando na Hungria em Dezembro de 1944. Eu comandava o batalhão e numa curva meu motorista-mecânico freou. Meu tanque tombou para o lado. Nós todos tombamos lá dentro, é claro, mas nós sobrevivemos. Enquanto isso os outros quatro tanques prosseguiram e foram pegos em uma emboscada. Foram todos destruídos.

O Sherman tinha uma esteira de metal coberta por borracha. Alguns autores contemporâneos apontam essa característica como uma deficiência, uma vez que em combate a borracha poderia pegar fogo. Com as esteiras descobertas de sua proteção, o tanque era inutilizado. O que você tem a dizer a esse respeito?

– Por um lado essa esteira coberta de borracha era uma grande vantagem. Primeiro porque fazia a esteira ter uma vida útil aproximadamente duas vezes maior que a de uma esteira de aço. Eu posso estar enganado, mas eu acredito que a vida útil da esteira de um T-34 é de 2500 quilômetros.

A vida útil das esteiras do Sherman era de 5000 quilômetros. Em segundo lugar, o Sherman deslizavam suaves como um carro em superfícies difíceis ao passo que os nossos T-34 faziam tanto barulho que só o diabo sabe há quantos quilômetros podiam ser ouvidos. Qual era o lado ruim das esteiras do Sherman? Em meu livro, "Commanding the Red Army's Sherman Tanks", há um capítulo intitulado "Descalço" no qual eu escrevi a respeito de um incidente que ocorreu em agosto de 1944, na Romênia, durante a Operação Jassy-Kishinev.

O calor era terrível, algo em torno de 30° C. Nós havíamos andado aproximadamente 100 km pela rodovia em um único dia. As coberturas de borracha que cobria nossas rodas auxiliares ficaram tão quentes que a borracha derreteu e se soltou em longos pedaços. Nosso corpo parou não muito longe de Bucareste.

A borracha estava se soltando, os cilindros começaram a derreter, o barulho era terrível, e no final tivemos que parar. Isso foi imediatamente reportado a Moscou. Seria isso uma piada? Um Corpo parado? Para nossa surpresa eles nos trouxeram novos cilindros de suporte rapidamente e nós passamos três dias instalando-os. Eu ainda não sei onde é que eles conseguiram tantos cilindros em tão pouco tempo.

Havia ainda um outro contra da lagarta emborrachada. Mesmo em uma superfície ligeiramente congelada o tanque escorregava como uma vaca gorda. Quando isso acontecia, nós tínhamos que amarrar arame farpado em torno das esteiras, ou qualquer coisa que nos desse um pouco de tração.

Mas isso era com os primeiros tanques que nos foram enviados. Tendo notado isso, os representantes americanos informaram sua companhia e as próximas levas de tanques vieram acompanhadas de esteiras adicionais com pontas de tração. Se eu me lembro bem havia sete blocos para cada esteira, num total de quatorze para cada tanque. No geral os representantes americanos trabalhavam de maneira eficiente. Qualquer deficiência por ele observada e reportada era rapidamente corrigida.

Um outro defeito do Sherman era a escotilha do motorista. A escotilha nas primeiras leva de Shermans era localizada no teto da torre e simplesmente abria-se para fora. Freqüentemente o motorista-mecânico a abria e espiava para ter um melhor campo de visão.

Não raro, durante a rotação da torre o canhão principal batia na tampa da escotilha que por sua vez atingia a cabeça do piloto. Eu vi isso acontecer uma ou duas vezes na minha própria unidade. Posteriormente os americanos corrigiram esse defeito de modo que a escotilha se levantasse e depois deslizasse para o lado, como nos tanques modernos.

Outra grande vantagem do Sherman era seu sistema de recarga da bateria. Em nossos T-34 era necessário ligar o motor, no seu máximo de 500 cavalos, a fim de recarregar as baterias. No compartimento da tripulação do Sherman havia um motor auxiliar a gasolina, pequeno como o de uma motocicleta. Era só liga-lo e recarregar as baterias. Essa era uma grande vantagem para nós.

Por muito tempo depois da guerra uma pergunta me perseguiu. Se um T-34 começasse a pegar fogo, nós tentávamos correr para o mais longe dele possível, mesmo que isso fosse proibido, porque a munição interna explodia. Por um breve período eu combati em um T-34 nas proximidades de Smolenks.

O comandante de uma de nossas companhias teve seu tanque atingido. A tripulação conseguiu escapar do tanque, mas não pode fugir porque os alemães estavam varrendo o campo com metralhadoras. Então eles se jogaram sob o campo de trigo e o tanque explodiu.

Ao anoitecer quando a batalha havia se acalmado, nós fomos até lá. Eu encontrei o comandante deitado no chão com um enorme pedaço da blindagem do tanque saindo de sua cabeça. Quando um Sherman pegava fogo a munição interna não explodia. Por quê?

Isso ocorreu uma vez na Ucrânia. Nosso tanque foi atingido. Nós saímos dele, mas os alemães estavam atirando morteiros em volta de nós. Nós nos deitamos debaixo do tanque enquanto ele queimava. Nós ficamos lá por um longo tempo, sem lugar pra ir. Os alemães estavam varrendo em volta do tanque com tiros de metralhadora e morteiros. Nós ficamos lá.

A parte de trás do meu uniforme começou a esquentar. Nós pensamos que estávamos acabados. Ouviríamos um grande estrondo e tudo estaria acabado. Um túmulo de irmãos. Ouvimos vários barulhos vindos da torre. Era a munição perfuradora de blindagem explodindo. Logo o fogo atingiria as cargas de alto explosivo e tudo viraria um inferno.

Mas nada aconteceu. Por quê? Porque nossas cargas de alta explosão explodiam e as americanas não? Depois descobri que era porque a munição americana tinha explosivos mais refinados. Nossa munição tinha algum tipo de componente que aumentava o poder da explosão conseqüentemente aumentando o risco de detonação da munição.

É considerado notável o fato de que o Sherman era muito bem equipado do lado de dentro. Isso é verdade?

– É verdade. Não são boatos! Eles eram lindos! Como eles dizem hoje "Euro-repair"! Era um tipo de retrato europeu. Em primeiro lugar: ele era pintado lindamente. Segundo: os assentos eram confortáveis, cobertos por um tipo de couro artificial.
 

Se o tanque fosse abatido ou danificado e abandonado literalmente por apenas alguns minutos, a infantaria iria roubar todo o seu estofamento. Com ele se fazia excelentes botas. Simplesmente lindas!

Como você vê os alemães? Como fascistas e invasores ou não?

– Quando alguém está na sua frente com uma arma nas mãos e é uma questão de quem vai matar quem, há apenas uma resposta. Ele era o inimigo. Assim que um alemão jogava fora sua arma e nós os capturávamos, então a coisa era outra.

Eu não estive na Alemanha. Eu já te disse onde eu combati. Ai vai um incidente que ocorreu na Hungria. Nós tínhamos um "letuchka" (uma espécie de caminhão) alemão. Nós penetramos na retaguarda alemã em formação de coluna. Então um outro caminhão alemão, como o nosso, uniu-se a nossa coluna.

Pouco depois nossa coluna parou. Eu estava andando pela coluna, checando os veículos. Tudo estava em ordem. Eu me aproximei do ultimo veículo e perguntei "Sasha, está tudo ok?". Em resposta eu recebi um "WAS?". Que diabos? Eram alemães.

Eu imediatamente pulei pro lado e gritei "Alemães!". Nós os cercamos, um motorista e dois outros. Nós os desarmarmos e só então nosso caminhão que deveria estar por ultimo apareceu na estrada. Eu disse "Sasha, onde vocês se meteram?". Ele respondeu "Nós nos perdemos". "Bom" eu disse "aqui está outro caminhão para você".

Então você não os odiava?

– Não, claro que não. Nós entendíamos que eles eram seres humanos.

E como era sua relação com os civis?

– Quando o 2º Front Ucraniano alcançou a fronteira romena em Março de 1944 nós paramos, e ficamos no mesmo local em agosto. De acordo com as leis de guerra, toda a população civil tinha que ser removida para no mínimo 100 quilômetros da linha de frente. Esse povo já havia feito suas plantações. As autoridades anunciaram a evacuação da população e enviou caminhões para pegá-los na manhã seguinte. Com lágrimas nos olhos os Moldávios se sentiam impotentes.

Como poderia? Eles tinham que abandonar suas plantações! O que restaria quando retornassem? A evacuação foi feita como exigido, e não tivemos praticamente nenhum contato com a população civil. Naquela época eu era Chefe de Estado-Maior do batalhão, encarregado do suprimento de munição.

O comandante da brigada me convocou e disse "Loza, você é descendente de camponeses?", ao que eu respondi afirmativamente, e ele disse "Foi o que pensei. Estou nomeando-o chefe de grupo! Você será responsável por cultivar essas plantações e se assegurar de que tudo cresça. E Deus impeça que até mesmo um pepino se perda. Não toque em nada! Se necessário, plante sua própria colheita".

Grupos foram organizados; em minha brigada havia 25 homens. Por toda a primavera e verão nós trabalhamos nessas plantações. No outono, quando as tropas partiram, nos foi ordenado que convidássemos o presidente de uma kolkhoz ao qual foram designadas todas as plantações.

Quando a dona da casa onde eu fiquei voltou, ela imediatamente correu para fora checar seu jardim e o que ela viu a deixou estupefata. Havia enormes abóboras, tomate e melões. Ele retornou para dentro da casa, caiu aos meus pés, e começou a beijar minhas botas. "Meu filho! Nós pensamos que tudo teria secado e sido destruído, mas tudo está em ordem. Tudo que temos que fazer agora é cuidar das plantações." Este é um exemplo de como lidávamos com a população.

Na Guerra a medicina funcionou bem, mas havia certos casos que tudo que os médicos podiam fazer era sacudir suas cabeças. Companheiro, naquela época a Romênia era o poço venéreo de toda a Europa! Nós tínhamos um ditado "Se você tem 100 Lei (moeda romena) você pode dormir com uma rainha". Certa vez um grupo de prisioneiros de guerra alemão caiu em nossas mãos.

Seus bolsos estavam cheios de preservativos. Uns cinco ou 10. Nosso oficial político criou um grande caso "Vejam! Eles têm isso para poder estuprar nossas mulheres!". Mas na verdade esses alemães eram mais espertos que nós, pois compreendiam o que doenças venéreas podiam fazer com um exército. Eu queria que nossos médicos tivessem nos avisado dessas doenças.

Mesmo tendo ficado pouco tempo na Romênia, nós tivemos um terrível surto de doenças venéreas em nossa unidade. Nosso Exército tinha dois hospitais: um para casos cirúrgicos e o outro para ferimentos leves. Eles foram obrigados a abrir uma seção para cuidar de doenças sexualmente transmissíveis mesmo estando sem equipamentos necessários.

Nós interagíamos com a população húngara da seguinte maneira. Quando entramos na Hungria em outubro de 44, vimos praticamente apenas vilarejos desertos. Quando entravamos nas casas encontrávamos fogões, com comida quente dentro, mas nenhuma pessoa na casa. Lembro-me que em uma cidade havia uma faixa enorme pendurada na parede de uma casa. Ela retratava um soldado soviético comendo um bebê.

Esse povo estava tão aterrorizado que quando podiam, fugiam. Abandonaram todas as suas posses. Depois, com o passar do tempo, quando começaram a entender que tudo isso era propaganda sem sentido, começaram a voltar.

Lembro-me de uma ocasião em que paramos no norte da Hungria, na fronteira com a Tchecoslováquia. Àquela altura eu já era Chefe do Estado-Maior do batalhão. Um dia fui informado que uma velha senhora húngara havia entrando em um celeiro na noite passada. Nós tínhamos pessoal da contra-inteligência em nosso Exército que trabalhava para o SMERSH (Smert Shpionam, ou "morte aos espiões").

Havia um oficial da SMERSH em cada batalhão, e nas unidades de infantaria um para cada regimento e acima. Eu disse ao meu oficial da SMERSH para ir checar. Eles procuraram e encontraram uma garota de 18 ou 19 anos. Quando eles a trouxeram para fora ela estava toda coberta de arranhões e tossia.

A velha senhora estava em lagrimas pensando que iríamos estuprar sua filha. Besteira! Ninguém encostou um dedo nela! Pelo contrário, nós a demos tratamento médico. Ela passou a nos visitar muito, passando mais tempo conosco do que em casa. Quando estive na Hungria 20 anos depois, eu a encontrei. Que mulher bonita! Ela havia se casado e tinha filhos.

Então vocês não cometeram nenhum excesso com a população civil?

– Não. Uma vez eu tinha que ir a algum lugar na Hungria. Tomamos um húngaro como guia para que não nos perdêssemos, afinal era um país estrangeiro. Ele fez seu trabalho pelo qual pagamos com dinheiro e comida enlatada.

Em seu livro "Commanding the Red Army's Sherman Tanks" você escreveu que os tanques M4A2 Sherman da 233ª Brigada eram armados não só com 75 mm de cano curto, mas também com 76 mm de cano longo em janeiro de 1944. Não era um pouco cedo? Esses tanques não apareceram mais tarde? Explique mais uma vez que canhões eram montados sobre os Shermans da 233ª Brigada.

– Hmm, eu não me lembro. Nós tínhamos bem poucos Shermans com o canhão de cano curto. No geral nossos canhões eram longos.

Não foi só a nossa brigada que lutou com Shermans. Talvez estes de cano curto estivessem em outras. Em algum lugar no nosso Corpo eu vi tais tanques, mas em nossa Brigada a grande maioria era de cano longo.

Havia submetralhadoras Thompson (Tommy gun) em cada Sherman que chegava na URSS. Eu li que essas armas eram roubadas e que poucos tanques chegavam a vocês com as armas. Que tipo de armamento pessoal vocês tinha? Americano ou soviético?

– Cada Sherman vinha com duas submetralhadoras Thompson, calibre 11.43mm (.45), uma munição boa. Mas a submetralhadora era inútil. Nós tivemos vários problemas com ela. Alguns de nossos homens se envolveram em uma discussão. Eles acabaram atirando uns nos outros.

Como ambos estavam usando jaquetas acolchoadas, a munição acabou ficando alojada nas jaquetas. Uma metralhadora inútil. Pegue uma submetralhadora alemã de coronha dobrável [submetralhadora MP-40]. Nós a amávamos, uma arma compacta. A Thompson era grande. Não podia se mover dentro de um tanque com ela.

O Sherman tinha uma metralhadora antiaérea Browning M2 calibre.50 . Vocês a usavam com freqüência?

– Eu não sei o porquê, mas alguns tanques chegaram até nós com essas metralhadoras, outros não. Nós as usamos contra alvos terrestres e aéreos. Nós a usávamos menos contra alvos aéreos porque os alemães não eram tolos. Eles nos bombardeavam ou de grande atitude ou executando mergulhos. A metralhadora era boa até uns 400 ou 600 metros na vertical.

Os alemães lançavam suas bombas de uns 800 metros ou mais alto. Tente abater o safado! Sim, nós a usávamos, mas não era muito efetiva. Nós usávamos até nosso canhão contra aviões. Colocávamos o tanque na elevação de uma colina e atirávamos. Mas nossa impressão geral da metralhadora era boa. Elas foram de grande utilidade na guerra contra o Japão, contra os kamikazes. Nós atirávamos tanto neles que eles pegavam fogo e cozinhavam. Até hoje eu tenho um fragmento de um projétil de uma metralhadora antiaérea na minha cabeça.

Em seu livro você fala de uma batalha em Tinovka que envolveu unidades do 5º Corpo Mecanizado. Você escreveu que a batalha foi em 26 de janeiro de 1944. Alguém foi até lá e escavou alguns mapas alemães, que indicavam que em 26 de janeiro de 1944 Tinovka já estava em mãos soviéticas.

Além disso, esse homem também encontrou um relatório da inteligência alemã, baseado no interrogatório de um tenente soviético de um batalhão antitanque da 359ª Divisão de Infantaria. Esse relatório indicava que havia T-34s e tanques médios americanos, assim como alguns KVs camuflados com palha em Tinovka. Esse homem gostaria de saber se você poderia estar enganado a respeito da data. Ele indica que uma semana mais cedo Tinovka estava, de fato, sob domínio alemão.

– É bem possível. Pense na quão confusa era a situação por lá! Rapaz, foi uma bagunça e tanto! A situação não mudava diariamente, mas de hora em hora. Nós cercamos o grupamento alemão Korsun-Shevchenkovskiy.

Eles começaram a nos atacar para escapar do cerco ao mesmo tempo em que alemães fora do cerco nos atacavam para ajudar os camaradas. Essas batalhas foram tão pesadas que Tinovka mudou de mãos várias vezes por dia.

Você escreveu que em 29 de janeiro o 5º Corpo Mecanizado avançou para o oeste para apoiar unidades do 1º Front Ucraniano, que estavam segurando o contra ataque alemão. Alguns dias depois, o Corpo Mecanizado estava na área de Vinograd. Logo em seguida, em 1 de fevereiro, estava no caminho do principal ataque das 16ª e 17ª Divisões Panzer, 3º Corpo Blindado. Esse ataque foi lançado da área de Rusakoika e Noiai Greblia ao norte e nordeste. Após alguns dias, os alemães capturaram Vinograd e Tinovka, forçaram passagem sobre o rio Gniloi Tikich e alcançaram Antonoika. Você poderia descrever o papel do seu Corpo na batalha?

– Nós cercamos os alemães e fechamos o bolsão. Eles imediatamente nos empurraram para a borda exterior do círculo. O clima era terrível; a lama degelava durante o dia. Eu pulei fora do meu tanque e caí direto na lama. Era mais fácil tirar meus pés das minhas botas que minhas botas da lama.

À noite, a temperatura caiu e o barro congelou. Nós lutamos contra esse barro no anel exterior. Tínhamos poucos tanques restantes. A fim de criar a impressão de que ainda estávamos fortes, à noite ligamos os faróis de todos os caminhões e tanques e seguimos em frente. Todo o nosso Corpo estava na defesa. Os alemães achavam que nossas defesas estavam entrincheiradas.

Na verdade, quase 30% do nosso Corpo éramos formados por tanques. Os combates haviam sido tão intensos que nossas armas ferviam. Algumas vezes a munição fundia. Você disparava e ela simplesmente caía no meio do barro a alguns metros do tanque. Os alemães lutavam por suas vidas e não tinham nada a perder. Alguns pequenos grupos conseguiram romper nossas linhas.

Aviões alemães chegaram a infligir danos significativos ao seu equipamento? Em particular, o que você poderia me dizer do Henschel Hs-129?

– Nem sempre, mas acontecia. Eu não me lembro do Henschel; talvez houvesse esse avião. Algumas vezes nós conseguíamos desviar das bombas. Você podia vê-las caindo em sua direção, sabe? Nós abríamos as escotilhas, espiávamos e instruíamos o motorista pelo interfone: "A bomba vai cair na nossa frente". Mas, em geral, havia casos de tanques sendo atingidos e explodindo. Perdas dessa natureza não ultrapassaram 3 ou 5 tanques no batalhão. Era mais fácil um único tanque ser destruído.

O maior perigo eram os atiradores armados com panzerfausts escondidos em construções. Na Hungria eu me lembro de estar tão cansado que pedi ao meu subordinado que comandasse o batalhão enquanto eu dormia. Eu dormi bem lá no compartimento de combate do meu Sherman. Nas proximidades de Beltsy eles lançaram munição para de pára-quedas.

Pegamos um pára-quedas para nós e eu o usava como travesseiro. O pára-quedas era de seda de modo que piolhos não conseguiam entrar no tecido. Eu estava dormindo profundamente! De repente, eu acordei. Por quê? Por causa do silêncio. Acontece que aviões haviam destruído dois tanques. O batalhão havia parado, desligado os motores e tudo ficou silencioso. Então eu acordei.

Vocês trancavam suas escotilhas durante combates em cidades e áreas construídas?

– Definitivamente. Quando invadimos Viena, eles estavam arremessando granadas contra nós do andar superior dos edifícios. Eu ordenei que todos os tanques parassem sob passagens de edifícios e pontes. Vez ou outra, eu tinha que ir com meu tanque até terreno aberto, a fim de estender a antena de comunicação para enviar e receber comunicados do alto comando.

Em certa ocasião, um operador de rádio e um motorista-mecânico estavam fazendo algo dentro do tanque e esqueceram a escotilha aberta. Alguém abriu e jogou uma granada lá dentro. Ela bateu nas costas do operador de rádio e explodiu. Ambos morreram. De modo que nós sempre trancávamos as escotilhas quando estávamos em cidades ou áreas construídas.

O principal efeito destrutivo da munição HEAT (carga oca), categoria à qual o panzerfaust pertencia, é a alta pressão no tanque, que incapacita a tripulação. Se as escotilhas fossem mantidas semi-abertas, isso não daria um certo grau de proteção?

– Sim, mas, mesmo assim, nós as mantínhamos trancadas. Talvez tenha sido diferente em outras unidades. Os atiradores de panzerfaust geralmente atiravam contra o compartimento do motor, de forma a incendiar o tanque, forçando a tripulação a sair e ficando exposta ao tiro das metralhadoras alemãs.

Qual era a chance de sobreviver se o seu tanque fosse atingido?

– Meu tanque foi atingido no dia 19 de abril de 1945. Um Tiger meteu um buraco em nós. O projétil passou pelo compartimento de combate e então atingiu o compartimento do motor. Havia três oficiais no tanque: eu como comandante do batalhão, o comandante da companhia Sasha Ionov (cujo tanque havia sido atingido) e o comandante do tanque.

Três oficiais, um motorista-mecânico e um operador de rádio. Quando fomos atingidos o piloto morreu na hora. Minha perna direita foi ferida, à minha direita Sasha Ionov teve sua perna amputada. O comandante do tanque se feriu e, abaixo de mim, estava o canhoneiro, Lesha Romanshkin. Suas duas pernas foram destruídas. Pouco tempo antes desse ataque nós estávamos sentados e Lesha me dise "Se eu perder minhas pernas eu vou me matar.

Quem precisaria de mim?". Ele era órfão e não tinha parente. Numa ironia do destino foi exatamente o que acabou acontecendo a ele. Nós tiramos Sasha do tanque e, em seguida, Lesha e começamos a ajudar na evacuação dos outros feridos quando Lesha se matou. Em geral um ou dois homens eram sempre feridos ou mortos. Dependia do local onde o tiro o atingia.

Os soldados ou suboficiais recebiam algum dinheiro para gastos na frente?

– Em comparação com as unidades regulares não de Guardas, os soldados e sargentos, até sargento sênior, recebiam pagamento dobrado, e os oficiais recebiam 1,5 vezes a mais em unidades da guarda. Por exemplo, meu comandante de companhia recebia 800 rublos.

Quando me tornei comandante do batalhão passei a receber 1200 ou 1500 rublos, não me lembro da quantia exata. Em todo caso nós não recebíamos todo o pagamento. A maior parte era mantida em poupanças em uma conta pessoal.

Nós podíamos guardar o dinheiro ou enviar para nossa família. Não carregávamos dinheiro no bolso. Nisso o governo era esperto. O que faríamos com dinheiro no meio de uma batalha, afinal?

O que vocês podiam comprar com o dinheiro que tinham?

– Certa vez, estávamos nos reunindo em Gorkiy. Eu fui a um mercado com o meu amigo Kolya Averkiev. Ele era um bom sujeito, mas morreu em seus primeiros combates!

Nós estávamos dando algumas voltas por lá e encontramos um sujeito vendendo pão de centeio. Ele segurava um em uma mão e os outros dois em outra. Kolya perguntou "Quanto você quer pelo pão?" ao que o sujeito respondeu: "Três kosykh" (Kosaya é uma gíria russa, que significa 100 rublos, de forma que o sujeito estava pedindo 300 rublos por um pão).

Kolya não sabia o que era "kosaya", então, tirou três rublos e entregou ao homem. Ele disse "Você está louco?", Kolya respondeu "Qual o problema? Você pediu três kosykh e eu te dei três rublos!", o homem disse "Três kosykh são trezentos rublos!" e Kolya respondeu "Você é uma pestilência! Você está aqui explorando as pessoas enquanto nós estamos derramando sangue por você!". Como oficiais, nós sempre portávamos nossas armas pessoais. Kolya puxou sua pistola. O homem agarrou os três rublos e bateu em retirada.

Além do dinheiro, uma vez ao mês os oficiais recebiam um pacote suplementar. Ele continha 200 gramas de manteiga, uma caixa de bolachas, um pacote de biscoitos e, creio eu, um pouco de queijo. Alguns dias depois do incidente no mercado nós recebemos nosso pacote. Nós cortamos o pão, passamos manteiga e cobrimos com queijo. Foi uma festa!

Que tipo de comida vocês recebiam em seus pacotes suplementares? Soviética ou americana?

– Ambas. Uma vez uma, outra vez a outra.

Soldados ou suboficiais recebiam alguma coisa por serem feridos? Dinheiro, comida, dispensa ou qualquer outra forma de compensação?

– Não.

Que tipo de recompensa era dada pela destruição de tanques, canhões, etc.? Alguém determinava essa recompensa ou haviam regras específicas? Toda a tripulação era premiada ou somente um indivíduo em especial?

– O dinheiro era dado à tripulação e dividido igualmente entre os membros.

Na Hungria, em 1944, em um de nossos encontros, nós decidimos que pegaríamos todo o dinheiro que recebêssemos como recompensa por abate de equipamento inimigo e faríamos uma "vaquinha" para, mais tarde, enviar às famílias dos nossos camaradas mortos. Depois da guerra, quando eu trabalhava nos arquivos, eu encontrei listas endossadas por mim com os dados da transferência do dinheiro para as famílias: três mil rublos, cinco mil rublos e assim por diante.

Na região do lago Balaton nós rompemos a retaguarda alemã e atacamos uma coluna de tanques, destruindo 19 deles, 11 dos quais eram tanques pesados. Muitos outros veículos também foram destruídos. Ao todo nós contamos 29 veículos de combate destruídos. Nós recebemos 1000 rublos por cada veículo.

Nossa brigada foi formada em Naro-Fominks [uma pequena cidade nas proximidades de Moscou, Valera], de modo que nela havia um grande número de homens de Moscou. Dessa forma, quando, após a guerra, fui estudar na Academia Militar Frunze, eu tentei encontrar as famílias dos soldados mortos.

A conversa era triste, claro, mas era necessária, pois eu sabia como seu filho, pai ou irmão havia morrido. Muitas vezes eu sabia os detalhes, até a data. Eles se lembravam do dia em que foram notificados e de como isso mudou suas vidas. Lembrava-se de quando receberam o dinheiro. Algumas vezes conseguíamos mandar além do dinheiro, embrulhos contendo troféus (itens capturados).

Então quando um tanque era destruído ele era creditado individualmente para cada membro da tripulação?

– Sim.

Quem registrava as baixas inimigas?

– O Estado Maior e os comandantes de batalhão e companhia. O vice-comandante de manutenção também fazia registros. Nós criamos um grupo para fazer a evacuação dos tanques destruídos. Não confundir com grupos de retaguarda.

Esse grupo normalmente consistia de 3 a 5 homens com um veículo de resgate [tanque sem torre, Valera] comandado pelo vice-comandante de manutenção. Eles se moviam por trás das formações de combate, registrando e anotando nossas baixas e as dos alemães.

Como se determinava quem destruiu um tanque ou canhão? O que acontecia se mais de uma tripulação afirmava ter destruído o mesmo tanque?

– Isso acontecia ocasionalmente, mas não com muita freqüência. Normalmente o tanque era creditado a ambas as tripulações e notificado como "em conjunto" de forma que no relatório contava como um só tanque abatido. O dinheiro era dividido. 500 rublos para cada tripulação.

Como a tripulação deveria agir se seu tanque fosse danificado em combate?

– Deveria tentar salvá-lo, tentar concertá-lo. Se faltassem recursos para concertá-lo, deveria ser armada uma defesa em torno dele. Era categoricamente proibido abandonar o tanque. Eu já mencionei que havia um oficial da SMERSH em cada batalhão.

Deus te proteja se você abandonar um tanque! Nós tivemos um caso em que, antes de um ataque, um membro da tripulação afrouxou a esteira do tanque. Não foi difícil para o motorista-mecânico tirá-la dos roletes. Mas nosso oficial da SMERSH tomou nota do ocorrido e prendeu os culpados. Foi um caso de covardia descarada!

Não poderia acontecer que a tripulação deixasse a esteira frouxa por descuido e ser acusada de covardia mesmo assim?

– Sim. A tripulação tinha que cuidar de seu tanque ou eles poderiam simplesmente acordar em um batalhão penal. Era obrigação de cada comandante de tanque e do comandante da companhia checar a tensão nas esteiras antes do combate.

Você já disparou contra seus próprios soldados ou tanques?

– Companheiro, tudo pode acontecer na Guerra. Tal fato ocorreu a oeste de Yuknov. Nossa brigada chegou ao local e parou em uma floresta. Uma batalha estava sendo travada três quilômetros à frente. Os alemães haviam capturado uma cabeça de ponte em algum rio e estavam começando a expandi-la. O comandante do nosso Corpo enviou a companhia de Matildas da nossa Brigada vizinha para contra atacar.

Os alemães não tinham tanques de forma que foi fácil para os matildas eliminar a cabeça de ponte e forçar os alemães através do rio. Agora os nossos Matildas retornavam do combate. Um pouco antes, temendo um avanço alemão, nosso comandante destacou um batalhão de artilharia antitanque. Eles foram colocados 300 metros a nossa frente e estavam se entrincheirando.

Os artilheiros não sabiam que nós estávamos lá e nem que estávamos usando veículos estrangeiros. Quando viram os Matildas retornando, eles abriram fogo destruindo três ou quatro deles. Os tanques restantes recuaram rapidamente em busca de abrigo. O comandante do batalhão, um artilheiro, correu até os tanques destruídos, olhou lá dentro e viu nossos homens. Um deles tinha o peito coberto de medalhas.

Em outra ocasião, quando o 1º e o 2º Fronts Ucranianos se uniram em Zvenigorodka e fecharam o cerco em torno do bolsão de Korsun-Shevchenkovskiy, o 5º Exército equipado com T-34s aproximou-se pelo sul enquanto nossos Shermans vinham do norte. Nossas tropas nos T-34s não haviam sido avisadas que haviam Shermans na área e atiraram no tanque do comandante do meu batalhão, Nikolay Nikolaevich Malyukov. Ele morreu dentro do tanque.

Alguém era punido por isso?

– Eu não sei, talvez eles punissem alguém. Cada caso era investigado.

Como vocês cooperavam com a infantaria durante o combate?

– A Brigada de Tanques tinha três Batalhões de Tanques, cada um com 21 tanques, e um Batalhão de Sub-Metralhadoras. Um Batalhão de Sub-Metralhadoras tinha três Companhias uma para cada Batalhão de Tanques. Nós tínhamos essa estrutura de três batalhões apenas no final de 1943 e inicio de 1944.

O resto do tempo nós tínhamos apenas dois batalhões de tanques para cada brigada. Os homens das companhias de submetralhadoras eram como irmãos para nós. Durante as marchas eles pegavam caronas em nossos tanques. Eles ficavam aquecidos, secavam suas coisas e dormiam um pouco.

Nós dirigíamos e então parávamos em algum lugar. Os tanquistas podiam dormir e os homens das companhias de submetralhadoras tomariam conta. Com o decorrer do tempo muitos deles se tornavam membros da tripulação de algum tanque, começando geralmente como carregador ou operador de rádio. Nós dividíamos os espólios igualmente. De formar que as coisas eram um pouco mais fáceis para eles que para homens de uma companhia de infantaria regular.

Durante os combates eles se sentavam sobre os tanques até o fogo começar. Quando os alemães começavam a atirar sobre os tanques, eles pulavam fora e corriam para se proteger atrás deles.

Se em alguma situação os tanques estivessem limitados em suas manobras e velocidade, você manobrava a infantaria ou os faziam parar?

– Nenhum dos dois. Nós não prestávamos atenção a eles. Nós manobrávamos e eles vinham atrás. Não havia problemas.

A velocidade do tanque era limitada durante o ataque? Pelo que?

– Claro! Nós precisávamos atirar!

Como vocês atiravam? Fazendo pequenas paradas ou em movimento?

– De ambas as maneiras. Se atirássemos em velocidade a velocidade do tanque nunca excedia 12km/h. Mas nós raramente o fazíamos, só quando queríamos criar pânico entre as tropas inimigas. Basicamente nós atirávamos parados. Corríamos até uma posição, parávamos, atirávamos e então seguíamos.

O que você pode dizer sobre o Tiger alemão?

– Era um veículo extremamente pesado. O Sherman nunca poderia derrotá-lo em um ataque frontal. Nós tínhamos que força-lo a expor seu flanco. Se estivéssemos defendendo, tínhamos uma tática especial. Dois Shermans eram designados para cada Tiger.

O primeiro Sherman atirava em sua esteira, quebrando-a. Por um curto espaço de tempo o Tiger continuava a se mover com a outra esteira, o que o fazia se virar de lado. Nesse momento o segundo Sherman acertava-o de lado, tentando atingir tanque de combustível. É assim que fazíamos. Um tanque alemão era derrotado por dois dos nossos e creditado à tripulação dos dois. Há uma história a esse respeito intitulada "Hunting With Borzois" em meu livro.

O freio de boca tem uma desvantagem significante: uma nuvem de poeira é levantada durante o disparo, revelando a posição. Alguns artilheiros tentam contornar isso, por exemplo, molhando o solo em frente dos seus canhões. Que tipo de medida vocês empregavam para atenuar esse efeito?

– Você está certo! Nós amassávamos o chão, de forma a ficar duro, e cobríamos com nossos casacos.

A vista do tanque era dificultada pela poeira, sujeira ou neve?

– Não havia nenhuma dificuldade em especial. A neve, é claro, podia nos cegar. Mas não a poeira. A viseira do Sherman não era pra fora, ficava na torre. Dessa forma ficava bem protegida conta esses elementos.

Continua parte 2 (link)

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