No PANAMAX 2012, a marca do soldado colombiano

O General-de-Divisão Pedro León Soto Suárez atravessou o cômodo com o olhar fixo no mapa do Canal do Panamá, ouvindo seus assessores, fazendo perguntas a torto e à direita. Nos últimos dias tem se alimentado às pressas, dormido em curtos intervalos, analisando a guerra dia e noite, como se fosse um combate real, de vida ou morte.

Há mais de uma semana, quando teve início o exercício PANAMAX 2012, o general colombiano comanda um exército multinacional de seu posto de comando em Fort Sam Houston, no Texas. A partir dali, dirige uma simulação de guerra contra um inimigo fictício, empenhado em espalhar o terror e destruir um ponto estratégico para a economia mundial e uma das mais surpreendentes joias da história da humanidade.

Organizado anualmente pelo Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), o PANAMAX tem como objetivo ensaiar uma resposta regional elaborada para proteger o Canal do Panamá contra um desastre natural ou um ataque terrorista. Nos anos anteriores, o exercício foi realizado com barcos e aviões; desta vez, no entanto, trata-se de um árduo exercício virtual, que requer horas de intenso trabalho por parte de militares de 17 países amigos.

Apesar disto, em meio à turbulência do “combate”, o General-de-Divisão Soto fez uma pausa estratégica para conversar com Diálogo. Ao seu redor, seu Exército continuava respondendo a ameaças hipotéticas, idealizadas para pôr à prova a capacidade de reação ante uma emergência real e tentar evitá-la.

Diálogo: General, o senhor poderia explicar-nos o papel específico que o senhor desempenha representando a Colômbia no exercício PANAMAX 2012?

General-de-Divisão Pedro León Soto Suárez: Neste momento, represento o comandante do componente de forças conjuntas combinadas terrestres, fazendo parte de uma coalizão com a qual trabalhamos em coordenação com o Exército dos Estados Unidos, como unidade anfitriã. O PANAMAX é um exercício realizado com o propósito de dar segurança a esse centro vital que é nosso Canal do Panamá, uma via crítica para o comércio e uma das peças mais estratégicas da infraestrutura da economia mundial. Basicamente, fazemos um trabalho de comum acordo com um Estado-Maior formado pelos diferentes países que, no momento, fazem parte deste exercício. Com eles, desenvolvemos e conduzimos operações conjuntas na área de operações que nos foi designada.

Essas atividades têm como finalidade atingir objetivos canalizados, primeiramente, a capacitar em operações conjuntas e combinadas todos os membros que delas participam; em segundo lugar, a integração que se obtém com a participação dos diferentes exércitos e as unidades de Fuzileiros Navais que também comando neste exercício; e em terceiro lugar o desenvolvimento do conceito operacional em tudo aquilo que tem relação com a assistência e os serviços de caráter médico. Como em qualquer atividade militar, trabalha-se na produção de uma inteligência eficiente para o futuro desenvolvimento de operações e a utilização dos apoios logísticos que devem ser coordenados durante o desenvolvimento desta e de outras operações. Realizamos também programas entre agências e de coordenação com cada um dos estados participantes desta atividade e, por fim, o desenvolvimento de operações combinadas na parte continental e na parte fluvial e marítima, em coordenação com a Força Aérea e a Marinha.

Diálogo: Esta é a primeira vez em que o senhor participa do PANAMAX? O que significa para o senhor e para a Colômbia ter a liderança da parte terrestre do exercício multinacional PANAMAX?

General-de-Divisão Soto: Esta é a primeira vez em que venho a terras deste querido país que são os Estados Unidos para participar do PANAMAX, mas já colaborei em outras oportunidades na Colômbia. Quanto ao que significa essa participação… militarmente, é uma honra imensa, é um desafio que todos nós, generais, podemos enfrentar. Este é um momento crucial em minha carreira, por isto o aceitei. O fato de participar como militar, como general colombiano à frente da direção, como comandante do componente conjunto terrestre, enche-me de um orgulho enorme e permite-me mostrar nossas capacidades como militares para enfrentar todas e quaisquer ameaças que vemos no momento, e aceitar os desafios em um trabalho conjunto e coordenado com representantes de outros países. Creio que, como representante de minha querida terra colombiana, o importante seja mostrar a fraternidade e a unidade na busca de objetivos comuns regionais para fazer de todo esse continente americano uma grande região acessível a todo o mundo, onde se possa respirar a paz e a liberdade.

Diálogo: A Colômbia colabora com uma experiência muito particular na parte terrestre do exercício; qual a contribuição específica dos militares de seu país ao exercício PANAMAX 2012?

General-de-Divisão Soto: O benefício que cabe a nós, como militares colombianos, é mostrar nossas capacidades, mostrar nossa experiência, que não se restringe à resolução dos conflitos, à forma como vimos enfrentando a ameaça… Percorremos um árduo caminho durante mais de 50 anos, quando sofremos os mais duros rigores da guerra, quando foram sacrificados muitos de nossos homens por uma causa muito nobre, que é a defesa de nosso país, a proteção de nosso povo. Esta formação do soldado colombiano nesses anos de conflito que nos vêm acompanhando propiciou-nos uma bagagem de conhecimentos extremamente grande do que é o verdadeiro soldado e do que significa lutar e entregar-se, não apenas por um território, por uma nação, mas também pela defesa dos cidadãos em geral. Ninguém melhor do que o soldado que carrega as mais profundas cicatrizes da guerra pode contar a história de um país e, nesse momento, creio que seja essa a nossa colaboração ao PANAMAX. Desta forma, deixamos a marca do soldado colombiano.

Diálogo: O PANAMAX, este ano, está sendo realizado pela primeira vez como um exercício virtual. Isto o torna mais difícil, mais interessante…?

General-de-Divisão Soto: O fato de o exercício ser virtual também tem suas implicações de comando, porque no virtual são analisados até os últimos detalhes e se avalia a capacidade não apenas do comandante, mas também da assessoria de seu Estado-Maior. São vistos os mais mínimos detalhes que devem ser levados em conta, sempre considerando as normas do direito internacional dos conflitos armados, o respeito aos direitos humanos, ao direito internacional humanitário, para que se cumpram as normas da guerra e as regras de encontro. Assim sendo, apesar de ser virtual, é como se estivéssemos realmente conduzindo e movendo nossas unidades em batalha. É uma grande escola que nos preparará, caso em algum momento tivermos que viver a realidade.

Diálogo: Esperamos que isto nunca seja necessário!

General-de-Divisão Soto: Com toda a razão. Este é o estado ideal, que continuemos vivendo e mantendo a tranquilidade que temos até o momento, e que todos aqueles que estejam habituados a viver à margem da lei se conscientizem de que a melhor saída é a legalidade; estar com o povo, estar com o estado, respeitar as instituições e as leis. O fato de que todos e cada um dos homens possam viver em paz na Terra.

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