Deu máfia no bicho

Publicado O Globo 08 Outubro 2011
Antônio Werneck, Gabriel Mascarenhas e Isabel de Araujo


Uma megaoperação da Polícia Federal, com 650 agentes em 14 estados, desarticulou uma organização criminosa especializada em contrabandear carros importados – foram 103 no ano passado, como Lamborghinis, Porsches e Audis – para lavar dinheiro da contravenção. Só no Rio foram presas dez pessoas, entre elas três PMs e o chefe da quadrilha, Yoram El Al. Israelense, procurado pela Interpol, ele intermediava contatos do filho do bicheiro Piruinha com as máfias israelense e russa, e é suspeito de ter executado o ataque a bomba que matou o filho do bicheiro Rogério Andrade. Os clientes – artistas e jogadores de futebol – comprovam os carros com valores inferiores aos de mercado e pagavam em dinheiro vivo. Um deles, o atacante Emerson, do Corinthians, teve a quebra do sigilo fiscal pedida pela Delegacia de Combate a Crimes Financeiros da PF. Em outra investigação, éle é suspeito de lavagem de dinheiro e evasão de divisas em 2006 e 2007, quando jogava no Qatar.
 
 É "COSA NOSTRA"
 
Treze pessoas foram presas, 35 carros de luxo apreendidos e mais de R$50 milhões em bens e dinheiro em conta bancárias foram confiscados em 14 estados, na maior operação realizada pela Polícia Federal este ano no país para desarticular uma organização criminosa especializada em contrabando de automóveis de luxo. O grupo seria financiado por contraventores ligados à máfia israelense, conhecida como "Albergil Femily", e estaria envolvido em lavagem de dinheiro da contravenção, exploração de máquinas caça-níqueis e tráfico de pedras preciosas. O dinheiro também era lavado através da compra de imóveis de luxo.

A PF batizou a operação, realizada em parceria com a Receita Federal e o Ministério Público federal, de "Black Ops" (expressão em inglês para operações clandestinas). Ao todo foram expedidos 22 mandados de prisão e 119 de busca a apreensão. Policiais federais e auditores da Receita vasculharam mais de 30 revendedoras de carros importados no país. Pelo menos 15 empresas supostamente fantasmas e operadas por "laranjas" contratados pela quadrilha estão sofrendo ação fiscal. Jogadores de futebol, artistas e cantores brasileiros estariam entre os beneficiados pelo esquema de compra de veículos importados. Em um ano, segundo as investigações, a quadrilha importou 103 veículos.

Filho de bicheiro é procurado

Apesar de serem seminovos, os automóveis chegavam ao Brasil com documentação falsificada, atestando que eram zero quilômetro. A investigação identificou três brasileiros residentes na Flórida, nos EUA, que agiam como dealers (negociantes). Eles registravam os veículos na Alfândega da Flórida e depois providenciavam a remessa deles para o Brasil com a documentação adulterada.

Os carros entravam no Brasil pelos portos do Rio, de Alagoas, de Pernambuco e principalmente do Espírito Santo. A legislação brasileira não permite a importação de carros usados ou seminovos. A organização contava ainda com a participação de sete empresas importadoras – sendo quatro delas com sede no Rio de Janeiro – que revendiam os carros para concessionárias multimarcas. No Rio, foram identificados três estabelecimentos envolvidos no esquema na Barra da Tijuca. Um deles era a Euro Imported Cars Veículos Ltda, de Haylton Carlos Gomes Escafura, filho do banqueiro do jogo do bicho José Caruzzo Escafura, o Piruinha. Haylton é considerado foragido.

Na maioria das vezes, os clientes compravam os carros com valores inferiores aos de mercado e pagavam em dinheiro vivo. Na exploração do jogo ilegal, a quadrilha aumentava os lucros trazendo técnicos israelenses para adulterar máquinas caça-níqueis, reduzindo as chances de os jogadores ganharem. Ao todo, 150 servidores da Receita Federal e 500 policiais federais participaram da operação ontem. Os mandados foram expedidos pelo juiz Roberto Schuman, da 3ª Vara Federal Criminal.

Segundo o superintendente da Polícia federal no Rio, Valmir Lemos de Oliveira, os veículos usados entravam no país e eram vendidos como se fossem carros 0km.

– Foi uma grande operação de combate à lavagem de dinheiro. Identificamos um esquema de um grupo estrangeiro que exportava veículos de forma ilegal e contava com o apoio de brasileiros que tinham recursos financeiros para bancar o sistema – explica Valmir. – Se você paga um valor alto e recebe uma nota fiscal com uma soma menor sem reclamar, sabe que alguma coisa acontece de errado. Cabe ainda à polícia abrir um processo criminal.

A Receita Federal informou ainda que pretende continuar a investigação, uma vez que identificou que clientes da quadrilha estão negociando a compra de carros contrabandeados diretamente com doleiros.

– Os carros custam em média R$130 mil. Todos os veículos apreendidos tiveram o Renavan bloqueado e não podem mais ser negociados. Os donos perderam seus carros. A lei não prevê punição com multa – afirmou Marcus Vinícius Vidal Pontes, superintendente-adjunto da Receita Federal no Rio.

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