O reflexo da pandemia da COVID-19 para o ensino no âmbito do Exército Brasileiro

Cap Paulo Rafael Ferreira Bastos

A recente situação de isolamento social pela qual as populações do Brasil e do mundo estão passando em decorrência da pandemia da COVID-19 (COrona VIrus Disease – Doença do Corona Vírus 2019) reforçou a atenção das Instituições de Ensino do Exército Brasileiro, a cargo do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), quanto ao emprego prioritário do Ensino a Distância (EAD) como alternativa para a manutenção do ensino nesse período de restrição à mobilidade.

A utilização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), por intermédio principalmente de computadores e smatphones, bem como a utilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) nas aulas ou instruções, é amplamente difundida no âmbito do Exército Brasileiro, sob coordenação e orientação do Centro de Educação a Distância do Exército (CEADEx) e  com o apoio técnico dos Centros de Telemática de Área (CTA).

No processo de educação a distância, os alunos do Sistema Colégio Militar e dos demais Estabelecimentos de Ensino da Força, como CPOR, EsSA, EsLog, EsAO e ECEME, são inseridos no AVA. Nesse ambiente, além das aulas online, os discentes têm acesso a conteúdos e ferramentas diversas para interação e comunicação com instrutores/professores, os quais atuam como tutores EAD, e com outros alunos com os quais trocam informações em tempo real ou por mensagens eletrônicas.

Inicialmente, o estudo EAD era visto por muitos como um ensino necessariamente “mais fácil” e, consequentemente, inferior ao ensino presencial, o que resultaria, via de regra, em profissionais menos capacitados em relação aos formados pelo sistema presencial. Contudo, com o acréscimo de ferramentas informatizadas cada vez mais interativas e inovadoras, com o emprego de videoaulas, videoconferências, questionários, aplicativos de pesquisa e tradução, chats e a disponibilização de materiais dos mais variados formatos, houve o aumento gradual da credibilidade e da abrangência do ensino a distância.

No Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Recife (CPOR/R), por exemplo, a situação de quarentena ocasionada pela pandemia da COVID-19 resultou no emprego maciço do AVA para a continuidade das instruções do período básico. Foram incluídas naquela modalidade matérias como Combate e Serviço em Campanha I, História Militar, Comando, Chefia e Liderança, e as instruções inicialmente planejadas como presenciais.

Além disso, a utilização de plataforma virtual estimulou o emprego das mais variadas ferramentas digitais: gravação de instruções e demonstrações em vídeo, utilização de aplicativos de Quiz, realização de avaliações e questionários online, envio de trabalhos por mensagem eletrônica e realização do controle de presença por videochamadas e chats.

Essas ferramentas possibilitaram ao instrutor, agora atuando integralmente como tutor EAD, a oportunidade de empregar com maior amplitude as TIC, além dos recursos já disponibilizados no AVA, para um melhor controle da aprendizagem e medição do desempenho, permitindo o acompanhamento constante do progresso individual dos alunos. Algumas dessas ferramentas, gratuitas e de uso intuitivo, que podem auxiliar nas atividades EAD são:

WhatsApp – popular aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones ou computadores, no qual além da formação de grupos e envio de mensagens de texto, os usuários podem enviar imagens, vídeos e documentos em PDF e fazer ligações grátis por meio de uma conexão com a internet;

Telegram – serviço de mensagens instantâneas semelhante ao WhatsApp, baseado na “nuvem”; disponível para smartphones, tablets ou computadores, permitindo enviar mensagens e trocar fotos, vídeos e arquivos diversos;

Google Drive – serviço de armazenamento e sincronização de arquivos; apresenta um leque de aplicações de produtividade, oferecendo edição de documentos, folhas de cálculo, apresentações, e outros arquivos;

Kahoots – plataforma de aprendizado baseada em jogos tipo Quiz, usada como tecnologia educacional em escolas e outras instituições de ensino;

Google Forms – serviço para criar formulários online em que o usuário pode produzir pesquisas de múltipla escolha, fazer questões discursivas, solicitar avaliações em escala numérica e obter feedbacks, pedir avaliações, organizar eventos etc.;

Moodle – software semelhante ao AVA, de apoio à aprendizagem, executado em ambiente virtual que permite carregar diferentes tipos de arquivos digitais.

Como vantagens do ensino a distância em relação ao presencial, pode-se destacar: o custo-benefício em decorrência da economia do tempo dos deslocamentos e da utilização de salas de aula físicas; o maior efetivo de alunos abrangidos, por não haver limitação de espaço físico; e a flexibilidade do horário, com aulas e conteúdos disponíveis a qualquer momento.

Já como desvantagens, verifica-se a necessidade dos meios de TIC adequados e a regular conexão à internet; a ausência da interação pessoal professor-aluno e aluno-aluno e a dificuldade do tutor em realizar a avaliação de competências de execução prática pelo aluno, sendo essas competências verificadas tão somente por ocasião do ensino presencial.

Diante disso, o EAD traz como desafio ao aluno do ensino militar a necessidade de manter-se disciplinado e motivado para o estudo, independentemente de estímulo ou fiscalização presenciais e ao professor/instrutor de usar a criatividade para a produção de conteúdos atraentes, inovadores e de fácil assimilação durante o estudo individual.

Dessa forma, pode-se visualizar que o principal reflexo dessa situação de pandemia em 2020 para o ensino, no âmbito da Força Terrestre, será o de ter definido a imprescindibilidade de plataformas digitais cada vez mais eficazes para o ensino a distância, estimulando as atividades EAD em tempos de “normalidade” no cotidiano escolar.

Além disso, verifica-se que o Exército Brasileiro, por intermédio das diretrizes emanadas pelo DECEx, está preparado para, se necessário, rapidamente migrar a instrução presencial de seus Estabelecimentos de Ensino para a modalidade à distância, de modo a garantir a continuidade e a manter a eficácia dos processos de formação, aperfeiçoamento e capacitação dos seus recursos humanos nos diversos níveis de ensino, reproduzindo a sala de aula, ou sala de instrução, em um ambiente virtual cada vez mais completo, dinâmico e estimulante.

O autor é oficial do Serviço de Intendência e foi formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) no ano de 2007. Realizou o Curso de Operações na Selva no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) no ano de 2008 e cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO) no ano de 2017. Atualmente, o militar é Instrutor Chefe do Curso de Intendência do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Recife (CPOR/R).

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