PHM P140 Atlântico – Os argumentos da Marinha para a compra do navio de guerra de R$ 440 milhões

Rodrigo Lopes

Zero Hora

Para aposentar de vez o velho porta-aviões NAe A12 São Paulo, adquirido da França em 2000 (ex Marine Nationale Foch), e parado desde 2014, o Brasil comprou um novo navio de guerra, o Porta-Helicópteros Multipropósito A140 Atlântico, do Reino Unido, pelo equivalente a R$ 440 milhões.

Entre os dias 1º e 24 de agosto, a embarcação construída há 20 anos e que já atuou em várias regiões de conflito pelo Reino Unido cruzou o Oceano Atlântico pela primeira vez com a bandeira brasileira, transportando 303 militares. Conforme especialistas, a aquisição dará maior capacidade de dissuasão e projeção de poder sobre o Hemisfério Sul. Desde que chegou ao Rio de Janeiro, há uma semana, passou a ser a principal embarcação da esquadra brasileira.

– A população se beneficia com a proteção das inúmeras riquezas disponíveis na zona econômica exclusiva brasileira, que corresponde a área oceânica equivalente à metade do território nacional – explica o comandante do navio, capitão-de-mar-e-guerra Giovani Corrêa.

O Atlântico tem capacidade para transportar até 17 helicópteros – sete deles podem operar simultaneamente no convés. Outra característica é sua autonomia: é capaz de cumprir três vezes o trajeto entre a América do Sul e a Europa sem precisar parar para abastecer. Do ponto de vista tecnológico, chama atenção os quatro radares – um deles com capacidade 3D, alcance de 200 quilômetros e apto a detectar 90 alvos ao mesmo tempo. A embarcação também foi projetada para abrigar o estado-maior em caso de confronto.

Construído pelas empresas Kvaerner Govan e Vickers Shipbuilding Enginnering Limited (VSEL), em Barrow-in-Furness, o Atlântico participou de ações humanitárias nas costas de Honduras e Nicarágua, atingidas pelo furacão Mitch, em 1998, e no Kosovo, em 1999.

Covoo do PHM A140 Atlântico com Helicóptero SeaHawk e H225M

Em 2000, esteve em Serra Leoa e, em seguida, contribuiu com ações no Iraque, por meio da Operação Telic. Em 2011, participou da Unified Protector, na Líbia. Em 2012, prestou apoio aos Jogos Olímpicos de Londres e, em 2017, realizou ações navais e humanitárias nas ilhas do Caribe atingidas pelo furacão Irma. Antes de ser rebatizado pelo Brasil, chamava-se HMS Ocean.

Era o navio-capitânia da marinha britânica até a entrada em operação do porta-aviões Queen Elizabeth, em 2017.

Controladores do Convoo, ao fundo um H225M.

O São Paulo havia sido comprado em 2000 a um preço de US$ 12 milhões (R$ 48,9 milhões, pelo câmbio atual). Em 2017, foi anunciada sua “desmobilização”. O porta-aviões será desmontado e provavelmente vendido como sucata. Houve tentativas de recuperar sua capacidade operacional, mas o comando da Marinha entendeu que o programa de modernização exigiria “alto investimento financeiro e conteria incertezas técnicas”.

– O Atlântico foi uma compra de oportunidade para compensar a perda do São Paulo. Assim, consegue reter uma tropa qualificada que seria dispensada – avalia o especialista em assuntos militares e editor do site Defesanet.com.br, Nelson During.

 

Entrevista com o Comandante do Porta-Helicóptero Multipropósito P140 Atlântico

 

 Capitão-de-mar-e-guerra Giovani Corrêa: "Passamos a dispor de grande capacidade de dissuasão"

Porta-helicóptero Atlântico foi adquirido pelo governo a um preço de R$ 440 milhões

Desde o fim de semana, está em mares brasileiros a mais nova aquisição da Marinha de guerra. Comprado do Reino Unido a um preço equivalente a R$ 440 milhões, o Porta-Helicópteros Multipropósito Atlântico (PHM 140 Atlântico) consegue abrigar até 17 aeronaves e é o maior navio da esquadra brasileira. É a maior compra da Marinha brasileira desde o porta-aviões São Paulo, que será aposentado.

A bordo da embarcação, que cruzou o Oceano Atlântico, entre o Reino Unido e o Rio de Janeiro pela primeira vez com a bandeira brasileira, o comandante da embarcação, capitão-de-mar-e-guerra Giovani Corrêa, natural de Florianópolis, explicou à coluna a importância da incorporação do navio à armada nacional.

Qual é o sentimento de comandar o principal navio da Marinha do Brasil?

É uma honra e uma grande satisfação pessoal e profissional estar no comando do futuro navio-capitânia da esquadra brasileira.

Em comparação com outras embarcações, quais são as diferenças?

O navio se diferencia por suas dimensões e recursos para a condução de operações navais, aeronavais e de emprego de fuzileiros navais.

Em que aspectos esta embarcação difere das demais da Marinha Brasileira?

O porta-helicópteros Atlântico complementa as capacidades hoje existentes na Marinha para operações com aeronaves embarcadas, operações anfíbias e de ajuda humanitária. As principais diferenças com relação aos outros navios da Marinha são a possibilidade de operar simultaneamente com até sete aeronaves no seu convés de voo, transportar de 500 a 800 fuzileiros navais e projetá-los em terra por movimento helitransportado ou por embarcações de desembarque, além de ser uma plataforma de excelência para comando e controle de uma força-tarefa, com diversos recursos para planejamento de operações, detecção em longas distâncias e acompanhamento automático de contatos. Dispõe, ainda, de variados recursos para emprego em missões humanitárias e operações de paz.

Quais serão os primeiros exercícios com esta embarcação?

O navio passará por um intenso período de adestramento de dois meses, que terá como objetivo complementar os treinamentos realizados no Reino Unido, para que a tripulação esteja apta a operar o navio como parte integrante de uma força-tarefa e com todos os tipos de aeronaves disponíveis na Marinha.

Como foi a primeira viagem, desde que assumiu o comando, cruzando o Atlântico e trazendo o navio para "casa"?

A viagem foi muito tranquila e segura. O navio passou a maior parte do tempo desenvolvendo sua velocidade de cruzeiro entre 15 e 16 nós. Durante a travessia, foram realizados diversos exercícios a bordo para manutenção do treinamento da tripulação e preparação para o primeiro recebimento de helicópteros, ocorrido no dia 22 de agosto, que culminou na homologação do navio para operações aéreas no Dia da Aviação Naval, em 23 de agosto.

Por que é importante para o Brasil adquirir esta nova embarcação neste momento?

A Marinha passa a dispor de um meio com grande capacidade de dissuasão e de controle de extensa área marítima, que contribuirá para a manutenção da segurança do Atlântico Sul e a projeção do Brasil no cenário internacional. A população se beneficia com a proteção das inúmeras riquezas disponíveis na zona econômica exclusiva brasileira, que corresponde a uma área oceânica equivalente à metade do território nacional, bem como das inúmeras atividades marítimas vitais ao desenvolvimento da economia do país.

 

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