Após a pandemia, quase nada será como dantes

Cel Fábio Alves da Costa

A pandemia da COVID-19 está sendo uma experiência ímpar para todos nós, causando consequências físicas, econômicas, sociais, psicológicas e nas relações internacionais. Vejo como uma percepção geral a ansiedade em saber quando a vida voltará ao normal e percebe-se que as pessoas entendem que após a pandemia nada será igual ao que era antes, as coisas mudarão! Vejamos.

 

Inicialmente, analiso e prevejo as consequências da pandemia para o Exército Brasileiro (EB) como positivas, sendo o motor de evolução e transformações. Partindo do nível municipal em que Organizações Militares realizam um trabalho hercúleo, eficiente e eficaz, especialmente no interior do País, solidificando as relações de confiança e cooperação dos comandantes com a população.

Da mesma forma que nos municípios, no nível estadual, o EB mantém estreito apoio com suas capacidades diferenciadas, com o conhecimento profundo das diferentes realidades de norte a sul do País e com a liderança dos Comandantes Militares de Área e de toda a sua estrutura de comando. Uma grande fortaleza que possuímos é advinda do contato cerrado com a população brasileira, o que sem sombra de dúvidas confere ao Exército altos índices de aceitação e de confiabilidade, como divulgado nas pesquisas de opinião.

 

Após a pandemia estarão abertos espaços para novos ensinamentos no campo doutrinário, administrativo, de pessoal e logístico. O ineditismo da situação traz à tona a necessidade de aprofundar as análises estratégicas, profissionais e acadêmicas para que estejamos preparados para futuras missões.

 

O Exército desenvolve uma política de Relações Institucionais a partir das diretrizes do Comandante do Exército(1). O transcurso da pandemia da COVID-19 amplia o leque de instituições com as quais a Força estabelece relações de trabalho. Tanto no que tange ao emprego da tropa em todas as regiões do País, quanto no tocante ao apoio às instituições civis, em especial às organizações de saúde, o EB amplia a sua capacidade de influência e a sua rede de ligações.

Considerando a capilaridade da presença do Exército Brasileiro em todo o território nacional, que vai desde municípios que possuem Tiros de Guerra até as grandes capitais que hospedam Comandos de oficiais generais do último posto, as relações institucionais do Exército saem fortalecidas em função das novas demandas que o combate à COVID-19 ocasiona.

 

No concerto internacional, observo que outros Exércitos têm sido empregados durante a pandemia, não com ações inéditas, mas sim complexas pelas características do vírus. A manutenção dos vínculos de cooperação com os Exércitos das nações amigas possibilita a troca de experiências e o apoio mútuo nesses tempos difíceis.

 

Destaco a participação do Exército ao lado da Marinha e da Força Aérea durante o período de combate ao coronavírus, que vem sendo incrementada aumentando a interoperabilidade, a cooperação, o conhecimento mútuo e a operacionalidade das Forças.

 

Uma ação estratégica adotada pelo Ministério da Defesa (MD) foi a ativação de dez Comandos Conjuntos(2), buscando atender às necessidades da sociedade nas diferentes regiões do País. Sob a coordenação do MD, as tropas cooperam com o esforço nacional e auxiliam diretamente os Estados da Federação nas ações de combate ao vírus e na mitigação das dificuldades da população, particularmente em locais de difícil acesso, em comunidades carentes e em pontos onde são comuns grandes concentrações de pessoas, tais como estações rodoviárias e de metrô, escolas e logradouros públicos.

 

Ao analisar o contexto pelo qual estamos passando, entendo que essa é uma grande oportunidade para aperfeiçoarmos métodos e procedimentos que devem ser adotados em situações de crises, em situações de emprego real da Força, em que os estados-maiores e os comandantes em todos os níveis são levados a situações novas e com um maior grau de dificuldade, aumentando a união entre todos os militares. Cito, como exemplo, o fato de estarmos considerando como as forças da linha de frente, o pessoal de saúde, que em uma guerra convencional estaria na área de retaguarda.

 

Já no campo informacional, sofremos também as consequências das tentativas deliberadas de desinformação, que buscam influenciar instituições e pessoas de forma direta. A grande exposição ao ambiente informacional e o amplo acesso à rede mundial de computadores, potencializados pelo uso de modernos smartphones por praticamente 100% da população(3), resultam em maior probabilidade de estarmos em contato com notícias falsas. Essas, por sua vez, são complementadas e reforçadas pela diversidade dos meios de divulgação, tais como as redes sociais e a rede mundial de computadores, que tornam a sua redução muito difícil.

 

Assim, fica para a reflexão dos caros leitores a magnitude da atuação do Exército Brasileiro, que, apesar da pandemia que passamos, segue cumprindo sua destinação constitucional, adaptando-se e ampliando ainda mais as suas capacidades.

(1) Portaria Nº 1.963, de 3 Dez 2019, do Cmt Ex

(2) Diretriz Ministerial Nº 09/2020, de 7 de Maio, do Ministro da Defesa

(3) Fonte: Revista Digital Época Negócios: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/04/brasil-tem-230-milhoes-de-smartphones-em-uso.html, acessada em 11 de maio de 2020.

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