Desemprego: O pior está a caminho

 

Vicente Nunes
Correio Braziliense

O governo adiou o quanto pôde – a expectativa era de que os números saíssem na semana passada -, mas terá que admitir, até a próxima sexta-feira, que o desemprego está chegando com tudo e pegando, sobretudo, os profissionais menos qualificados, que foram absorvidos pelas empresas quando o nível da atividade avançava a pleno vapor.

A expectativa do economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, é de que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) tenha registrado, em março, fechamento líquido (descontadas as contratações) de 60 mil vagas. Com isso, apenas no primeiro trimestre, o país terá perdido cerca de 140 mil postos de trabalho formais, algo que não se vê desde 1999.

A presidente Dilma Rousseff sempre encheu a boca para falar que seu governo não mediu esforços para proteger o emprego, mesmo com o mundo em crise. Tanto que a taxa de desocupação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas seis principais regiões metropolitanas do país encerrou o ano passado no nível mais baixo da série histórica, de 4,3%.

A petista só se esqueceu de dizer que, para manter o desemprego nesses níveis, destruiu a economia do país em seu primeiro mandato. Usou e abusou de artificialismos na política econômica comandada pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Arrasou as contas públicas e empurrou a inflação para as alturas – mais de 8%. Ao mesmo tempo em que dizia proteger os trabalhadores, estava contratando o desemprego.

Com os erros de Dilma, o crescimento econômico desabou. O primeiro setor a sentir o impacto dos desacertos foi a indústria, que vem demitindo há pelos menos dois anos. Agora, a vítima maior da recessão é o setor de serviços, sobretudo o comércio, justamente o que tinha empregado a maior parte dos trabalhadores com menor escolaridade e preparo.

Demitir no Brasil custa muito caro. Por isso, mesmo com a atividade despencando, o desemprego não subia. Segundo os empresários, num primeiro momento, a orientação das companhias foi para absorver custos e reduzir as margens de lucro em vez de cortar pessoal. O problema é que, depois de quatro anos de fraca expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e com alta do dólar, das tarifas de energia elétrica e dos combustíveis, a situação chegou ao limite. A hora, agora, é de sacrificar o mercado de trabalho.

Nos dois primeiros meses do ano, já foi possível medir a força com que o desemprego vai chegar. A taxa nas seis principais regiões metropolitanas saltou 1,6 ponto percentual, para 5,9%. A aposta é de que a desocupação chegue a 7,5% até o fim do ano. Se a referência for a Pnad Contínua, que mede o nível do desemprego em todo o país, a expectativa é de que a patamar atual, de 7,5%, pule para até 10%.
 
O desemprego será a mais pesada das faturas a ser paga pela população por causa dos erros de Dilma no primeiro mandato. O país verá pela frente a combinação perversa de demissões com inflação alta, juros subindo, arrocho fiscal e famílias superendividadas. Não será fácil para um governo tão impopular lidar com tal situação. A presidente que terceirizou o mandato deve se preparar para o pior.
 
Aperto no bolso

» Pelas contas dos economistas do Banco Santander, o rendimento real médio dos trabalhadores terá, neste ano, queda de 1%, redução que se repetirá em 2016. A massa salarial real, por sua vez, tombará 3% em 2015 e 1% no ano que vem. Pobres trabalhadores. 

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