Desindustrialização no Brasil: causas e consequências

Luiz Gonzaga Bertelli*

Há 25 anos, a indústria de transformação brasileira correspondia a 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, ela corresponde a menos de 15%, reduzindo, sensivelmente, a nossa capacidade produtiva. Daí, o tema da “desindustrialização” tornar-se um dos principais assuntos dos economistas e das acentuadas reflexões governamentais.

Entre as razões apontadas do fenômeno, temos a excessiva tributação (nos últimos 20 anos passou de 24% para 36%), falta de mão de obra qualificada, câmbio valorizado e infraestrutura deficiente. A escassez de mão de obra qualificada no Brasil (64%) só não é maior do que a do Japão (76%).

A pergunta que se instaura é como recuperar a indústria nacional, adaptando-a às novas realidades do universo produtivo, especialmente da China, da Coreia do Sul e da Alemanha. Excluída a China, todas as regiões do mundo ou atravessaram períodos de perda de peso da indústria nas últimas décadas ou, na melhor das hipóteses, mantiveram a sua participação.

Os analistas governamentais, os acadêmicos e os jornalistas da área econômica investigam as prováveis razões do processo acelerado da desindustrialização brasileira e seus reflexos na sociedade.

Uma das explicações do fraco desempenho da indústria brasileira é a piora da competitividade do setor manufatureiro. É evidente o expressivo aumento do custo unitário da indústria brasileira no período de 2005 a 2010 e, em decorrência, a incapacidade brasileira de competir com o resto do mundo. O mencionado aumento foi superior ao de outras nações, mui especialmente ao das economias dos países asiáticos.

Poucos temas têm provocado tanta discussão, entre os economistas, quanto ao crescimento brasileiro das commodities, que representam mais de 70% da pauta das exportações, em 2011. Para alguns, elas seriam uma verdadeira desgraça e, para outros, bênçãos divinas. Não obstante as aludidas críticas, não existem elementos, notadamente, entre nós, que as commodities seriam uma “maldição”.

É incontestável que o aumento persistente do custo Brasil é decorrente, em boa parte, da elevação da carga tributária e que medidas de desoneração às indústrias sejam impostas. Entre outras, a principal seria a desoneração da folha de pagamento.

O Brasil se tornou, nas últimas décadas, num fantástico exportador de mercadorias agropecuárias, florestais e minerais. E poderá se tornar num grande exportador do petróleo, na dependência do sucesso do pré-sal. Com efeito, as nossas exportações alcançaram de 8,54% do PIB em 2000 a 10,34%, em 2011, enquanto as importações aumentaram de 7,94% do PIB para 12,16%, no mesmo período.

Em 2011, as exportações superaram a somatória de US$ 256 bilhões, enquanto as importações acompanharam, praticamente, as mercadorias exportadas, superando US$ 226 bilhões no mencionado ano. A liderança do PIB brasileiro é ocupada pelo setor de serviços, não passíveis, ainda, de comercialização internacional.

Para o BNDES, embora os indicadores mencionados sugiram, no mínimo, tendência de estagnação industrial, ainda é cedo para declarar que o Brasil se desindustrializou. Pela primeira vez, desde o primeiro mandato de Lula, governo e empresários estariam do mesmo lado e começam a reconhecer que a indústria brasileira está perdendo a sua força.

Os representantes do setor industrial denotam certa cautela em relação às atuais políticas industriais do governo, a fim de incentivar a produção industrial e a sua recuperação, diante da sua real importância como empregador do país.

Daí, a ponderação do professor Edmar Bacha, um dos responsáveis do Plano Real: “Em meio a tanta controvérsia, o tema é pouco estudado, com profundidade, na literatura econômica brasileira recente”.

*Vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, conselheiro e diretor da Fiesp-Ciesp

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