Situação na Península da Coreia torna-se volátil

O Ministério da Defesa da Coreia do Sul afirmou nesta segunda-feira (04/09) que a Coreia do Norte iniciou preparativos para lançar outro míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) a qualquer momento.

Neste domingo, a Coreia do Norte testou uma suposta bomba de hidrogênio, um artefato termonuclear que, segundo o governo do país, pode ser instalado em um míssil intercontinental – o que, se confirmado, representaria um importante e perigoso avanço em suas capacidades militares. Trata-se do sexto e mais potente teste nuclear executado pela Coreia do Norte até o momento.

O anúncio do teste foi feito pela agência de notícias estatal norte-coreana KCNA depois que agências geológicas internacionais registraram um terremoto artificial (provocado pelo homem) no nordeste do país.

Este ocorreu pouco depois da detonação subterrânea do artefato, que parece ter sido testado sem o míssil. Em resposta ao teste, o Ministério de Defesa sul-coreano informou nesta segunda-feira que Estados Unidos e Coreia do Sul planejam posicionar um porta-aviões nuclear, vários bombardeiros e outros equipamentos estratégicos na península coreana, incluindo a controversa implantação do Terminal de Defesa Aérea para Grandes Altitudes (Thaad), que irritou a China, principal parceiro comercial de Seul, e que fora adiada desde junho. Pequim classifica o poderoso escudo antimísseis dos Estados Unidos de uma ameaça à sua segurança.

Além disso, o Exército sul-coreano realizará manobras com fogo real da qual participarão caças F-15K equipados com mísseis de ar-terra Taurus, segundo informação do Ministério sul-coreano no seu relatório à Assembleia Nacional (Parlamento), publicado pela agência local Yonhap.

O anúncio de Seul foi feito poucas horas depois dos exercícios com fogo real realizado pelo país, nos quais ensaiou ataques a instalações nucleares norte-coreanas em resposta ao teste realizado por Pyongyang na véspera. Os exercícios sul-coreanos incluíram o disparo de mísseis.

"Todos os meios, inclusive atômicos"

O presidente dos EUA, Donald Trump, reiterou a determinação de seu governo, de "defender os EUA e seus aliados com todos os meios disponíveis: diplomáticos, convencionais e atômicos". "Não estamos buscando uma aniquilação total de um país, a Coreia do Norte", disse o secretário de Defesa dos EUA, Jim Mattis, após uma reunião com Trump e sua equipe de segurança nacional. "Mas, como eu já disse, temos muitas opções para fazê-lo", alertou.

O Conselho de Segurança da ONU convocou para esta segunda-feira uma sessão extraordinária para debater novas sanções contra a Coreia do Norte. Diplomatas informaram que o órgão poderia agora considerar a proibição das exportações de têxteis de Pyongyang e da companhia aérea nacional, suspender o abastecimento de petróleo para o governo e para o setor militar do país, impedir que norte-coreanos trabalhem no exterior e incluir funcionários de alto escalão em uma lista negra para sujeitá-los a congelamento de ativos e proibições de viagem.

O governo do Japão afirmou que o ministro japonês do Exterior, Taro Kono, e o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, concordaram, após conversa telefônica, que Japão e os Estados Unidos devem "exercer pressão máxima" sobre a Coreia do Norte após o sexto teste nuclear do país.

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e o premiê japonês, Shinzo Abe, concordaram, após conversarem por telefone, que a ONU deve definir sanções mais duras. "Ambos concordaram em cooperar estreitamente entre si e com os Estados Unidos e compartilham o entendimento de que devem ser aplicadas sanções mais duras contra a Coreia do Norte", afirmou um porta-voz do governo sul-coreano.

Protesto chinês

A China informou nesta segunda-feira que enviou um protesto oficial à representação diplomática chinesa de sua aliada, a Coreia do Norte após o teste nuclear de Pyongyang. "A China se opõe ao desenvolvimento de mísseis nucleares pela Coreia do Norte e estamos comprometidos com a desnuclearização da península.

Esta posição é bem conhecida, e a Coreia do Norte também conhece esta posição perfeitamente", disse o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Geng Shuang, em entrevista coletiva. "A Coreia do Norte deve estar bastante certa disso, então esperamos que todas as partes – especialmente o lado norte-coreano – possam exercer restrições e abster-se de aumentar as tensões", complementou.

Geng não disse se Pequim, que por muito tempo hesitou em colocar pressão econômica sobre Pyongyang, apoiaria novas sanções ao regime. O anúncio do teste de domingo realizado pela Coreia do Norte provocou uma explosão cinco vezes maior do que o último teste, há um ano, de acordo com a Coreia do Sul, e pode ser sentida em cidades chinesas a centenas de quilômetros da fronteira norte-coreana.

Coreia do Norte diz ter testado com sucesso 'bomba de hidrogênio'

A Coreia do Norte desenvolveu e detonou uma bomba de hidrogênio compacta que pode ser instalada em um míssil balístico intercontinental (ICBM), afirmaram neste domingo (03/09) os meios de comunicação estatais do regime de Kim Jong-un.

A agência KCNA fez o anúncio depois que as agências geológicas registraram um terremoto artificial (provocado pelo homem) no nordeste do país, que ocorreu pouco depois da detonação subterrânea do artefato, que parece ter sido testado sem o míssil.

O mesmo veículo de comunicação distribuiu uma fotografia de Kim ao lado da suposta "bomba H" acompanhado de cientistas nucleares e oficiais do alto escalão do Departamento de Indústria de Armamentos do Partido Central dos Trabalhadores, mas, como é habitual, não deu detalhes do local nem a data do ato.

O líder norte-coreano "manifestou seu grande orgulho por apoiar as forças nucleares" e por comprovar como o regime Juche (a ideologia oficial norte-coreana de autossuficiência) "consegue desenvolver uma arma explosiva termonuclear com os seus próprios esforços e tecnologia", segundo a KCNA.

Os cientistas norte-coreanos "melhoraram o rendimento técnico" do explosivo acima do nível da primeira bomba H testada pelo país asiático, acrescentou a KCNA. Em janeiro do ano passado, a Coreia do Norte detonou no interior das suas galerias subterrâneas o que assegurou que era uma bomba de hidrogênio, mas a análise posterior indicou que se tratava de um artefato menos potente que uma bomba H.

Além disso, no início de julho deste ano, o hermético regime realizou dois testes com mísseis balísticos intercontinentais, que foram seguidos por testes com projéteis de menor alcance, o último deles na terça-feira, que sobrevoou o território japonês.

Terremoto foi "possivelmente” causado por novo teste

Um terremoto de 5,6 graus de magnitude foi detectado na Coreia do Norte próximo a algumas instalações nucleares do país. O tremor foi detectado à 12h36 (horário local, 0h36 em Brasília) na província de Hamgyong do Norte, no nordeste do país e fronteiriça com a China, onde fica a base de testes nucleares de Punggye-ri, local dos cinco testes atômicos norte-coreanos anteriores.

O regime norte-coreano não divulgou a potência da bomba testada neste domingo. A organização norueguesa Norsar, que monitora testes nucleares e terremotos, estimou que a explosão alcançou 120 quilotons – para efeito de comparação, a bomba lançada sobre Hiroshima tinha 15 quilotons.

Mas funcionários do governo sul-coreano fizeram uma estimativa mais modesta, apontando que a bomba tinha 50 quilotons – ainda assim a maior explosão do gênero já realizada pelo regime norte-coreano, mas ainda assim bem distante da potência das bombas de hidrogênio testadas pelos EUA e pela União Soviética durante a Guerra Fria.

O governo de Seul anunciou a convocação de uma reunião de emergência do Conselho Nacional de Segurança, em declarações de uma porta-voz publicada pela agência de notícias sul-coreana Yonhap. O governo japonês, por sua vez, também confirmou a detecção do tremor, que, segundo disse em coletiva de imprensa seu ministro porta-voz, Yoshihide Suga, "possivelmente" foi provocado por uma explosão nuclear.

O Exército sul-coreano elevou seu nível de alerta ao máximo diante da nova provocação do país vizinho, enquanto que Tóquio enviou aviões de reconhecimento das suas forças aéreas para medir possíveis variações nos níveis de radiotividade no ar. Tóquio, Seul e Washington querem fazer uma conferência por telefone neste domingo para analisar a situação e dar uma resposta conjunta ao novo teste nuclear de Pyongyang, que acontece na mesma semana em que o regime de Kim Jong-un lançou um míssil balístico que caiu no Pacífico.

O sexto teste nuclear norte-coreano acontece algumas horas depois de Pyongyang ter anunciado que desenvolveu uma bomba de hidrogênio que pode ser instalada em um míssil balístico intercontinental (ICBM).

EUA concordam em rever tratado de mísseis de Seul

Os EUA e a Coreia do Sul concordaram em rever um tratado bilateral de 43 anos que limita o número e alcance dos mísseis balísticos de Seul, afirmou neste sábado (02/09) o gabinete do presidente sul-coreano Moon Jae-in.

"Os dois líderes concordaram com a revisão da diretriz de mísseis para um nível desejado pela Coreia do Sul, partilhando da opinião de que era necessário fortalecer as capacidades de defesa de Seul em resposta às provocações e ameaças da Coreia do Norte", diz o texto.

A nota afirma, ainda, que é importante aplicar sanções e pressão máximas sobre a Coreia do Norte, e que a intenção é fazer com que o país vizinho pare com as provocações e sente à mesa de negociações para tratar do seu programa nuclear.

A Coreia do Sul, que serve de base para 28.500 soldados americanos, foi proibida de construir suas próprias armas nucleares após fechar um acordo de energia atômica, em 1974, com Washington.

O tratado foi revisado em 2012.

Segundo o acordo, Seul não poderia desenvolver mísseis com alcance de 800 km e peso de carga de 500 kg. Por sua vez, Washington oferece um "guarda-chuva nuclear" – garantia de um Estado com armas nucleares de defender um país não nuclear aliado – contra possíveis ataques.

As forças dos EUA e da Coreia do Sul estão chegando ao final de exercícios militares conjuntos chamados Ulchi Freedom Guardian, de duração de 10 dias, algo que é visto como provocação por Pyongyang. Os exercícios buscam ensaiar respostas a uma hipotética invasão da Coreia do Sul por parte da Coreia do Norte.

Trump e Moon, que conversaram por telefone nesta sexta-feira, também discutiram o "comportamento desestabilizador e contínuo" da Coreia do Norte, afirmou a Casa Branca em nota. O presidente americano, que advertiu que o Exército dos EUA está "protegido e abastecido" no caso de uma nova provocação norte-coreana, reagiu com raiva ao mais recente teste de mísseis de Pyongyang.

Na terça-feira, a Coreia do Norte lançou um míssil Hwasong-12, de capacidade nuclear e alcance intermediário, que sobrevoou o território do Japão. Pyongyang desenvolve um míssil nuclear de ponta capaz de atingir os EUA e ameaçou recentemente lançar mísseis contra bases militares americanas na ilha de Guam, no Pacífico Ocidental.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter