Transpetro suspende contrato com EAS

Ramona Ordoñez e Hans Manteuffel

A Transpetro, subsidiária da Petrobras na área de transportes, suspendeu o contrato de encomenda de 16 navios petroleiros, no valor de R$ 5,3 bilhões, com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) em Pernambuco. O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ao revelar ao GLOBO da decisão, anunciou também que a estatal vai adotar um sistema de fiscalização com rígidas auditorias na produção dos estaleiros, a fim de garantir a entrega dos navios encomendados nos prazos estipulados.

O petroleiro João Cândido foi entregue na última sexta-feira pelo EAS com 20 meses de atraso, enquanto o Celso Furtado foi entregue no ano passado pelo estaleiro Mauá, em Niterói, com 13 meses de atraso.

Machado disse que o EAS tem prazo até 30 de agosto para encontrar novo parceiro tecnológico, em substituição à Samsung, que saiu do EAS no início do ano. Só assim seria possível manter a construção de 16 navios de um total de 22 encomendados ao estaleiro.

– Sem competência não dá, nem para o estaleiro nem para nós. O que interessa não é brigar para acabar um navio. Temos que implantar uma indústria naval competitiva em nível mundial – disse Machado.

A decisão da Transpetro foi tomada na última quarta-feira, dia 23, quando foi assinado com o EAS um aditivo ao contrato com a suspensão dos navios.

Até 30 de agosto, além do parceiro técnico, o EAS terá de apresentar um novo plano de ação, com projeto e cronograma de construção.

– Eles não têm um parceiro técnico nem projeto. E sem isso não tem produtividade – afirmou o presidente da Transpetro.

Pelo contrato existente, ficou garantido que os seis primeiros navios, do total de 22, teriam tecnologia da Samsung, mesmo com a saída da coreana. Assim, os 16 restantes estão sem a garantia da tecnologia coreana.

Os controladores do EAS, Camargo Corrêa e a Queiroz Galvão, informaram que o aditivo contratual da suspensão da encomenda foi assinado de comum acordo entre as partes. A medida, afirmam, dará maior flexibilidade para buscar outro parceiro ou provedor de tecnologia. Segundo fontes, as conversas mais adiantadas seriam com o o grupo japonês Ishikawajima-Harima Heavy Industries (IHI).

– Eu quero ter a garantia de que os navios serão entregues nos prazos previstos e com qualidade, e também que o estaleiro ganhe competitividade – disse Machado. Segundo fontes do governo, Machado estaria com os dias contados à frente da Transpetro, justamente pela insatisfação da presidente Dilma Rousseff com o rumo das entregas dos navios. A retomada da indústria naval é ponto de honra do governo, como era na gestão Lula, emenda outra fonte.

Estatal cria sistema para acompanhar produção

Para evitar que atrasos semelhantes ocorram em outros estaleiros, a Transpetro decidiu adotar um sistema rígido de fiscalização da produção em todos aqueles com os quais têm encomendas. O objetivo, segundo Machado, é acompanhar de perto todas as etapas de produção, identificando problemas e gargalos. Para isso, a estatal vai criar um "estaleiro espelho", para iniciar em 90 dias o Sistema de Acompanhamento da Produção (SAP). Machado explicou que o sistema de Acompanhamento da Construção (SAC) será mantido, por se restringir apenas às etapas de construção dos navios.

Pelo SAP, a Transpetro vai acompanhar de perto a produção, identificando problemas e verificando a produtividade. Além disso, haverá auditorias permanentes nos estaleiros para apurar a situação da produção.

Por determinação do governo federal, a Transpetro encomendou no país 49 embarcações. Segundo Sérgio Machado, acabou a etapa da saída da inércia do setor naval, parado há décadas, e agora começa a segunda fase, de busca da produtividade:

-Vamos tirar o empresário da zona de conforto, para buscar a competitividade. E prazos só se cumprem com produtividade – afirmou Machado.

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