Petróleo e gás renovam apetite da indústria por recursos do BNDES

Alessandra Saraiva e Marta Nogueira | Do Rio


Impulsionada pelos setores de química e petroquímica, principalmente petróleo e gás, a indústria brasileira iniciou a retomada de investimentos neste ano, na análise do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

Dados mais recentes de desempenho do banco divulgados ontem atestaram que as cartas-consulta, primeiro passo para pedido de crédito ao banco, e que funciona como "termômetro" para mensurar o apetite da indústria em alocar investimentos, somaram R$ 55,7 bilhões no primeiro trimestre, 37% acima de igual trimestre do ano passado. Esses pedidos de consulta são anteriores à divulgação da segunda fase do Plano Brasil Maior em abril, lembrou Coutinho. "Nas consultas é que podemos ver o futuro. E o futuro sinaliza trajetória ascendente dos investimentos no país", resumiu o presidente do banco.

O setor industrial teve o maior ritmo de crescimento nos pedidos de consulta no primeiro trimestre, ante igual trimestre em 2011, entre os quatro setores apoiados pelo banco. As indústrias de química e de petroquímica foram o grande destaque, com crescimento de 1.267% nas consultas, atingindo volume de R$ 14,3 bilhões, seguidas de perto pela indústria extrativa, cujas consultas cresceram 1.109%, totalizando R$ 3,1 bilhões. A indústria mecânica também mostrou força, com avanço de 297% nas consultas no período, para R$ 2,1 bilhões nos primeiros três meses do ano.

Na análise do executivo, o crescimento das consultas comprova o movimento de superação das expectativas menos otimistas em relação à economia brasileira neste ano. Ele lembrou que, no segundo semestre do ano passado, a crise financeira internacional se agravou e estimulou um cenário de incerteza no mundo. No Brasil, isso conduziu a uma redução no ritmo de crescimento econômico, e os investimentos entraram em regime de cautela.

Essa cautela referente ao cenário dos últimos meses do ano passado originou menor ímpeto por consultas em 2011, que se refletiu agora nos desembolsos do primeiro trimestre deste ano. As liberações somaram R$ 24,5 bilhões no período, praticamente estáveis na comparação com igual trimestre no ano passado, com queda de 1%. As aprovações de empréstimos também amargaram queda de 34% no mesmo período, para R$ 25,4 bilhões. Para Coutinho, esses dados pouco favoráveis funcionam como fotografia do passado e mostram um cenário que não mais existe. Ele ressaltou que os enquadramentos de empréstimos, um dos passos seguintes ao das consultas, subiram 28% no primeiro trimestre, para R$ 48,3 bilhões. "Nosso entendimento é que o investimento continuará a crescer acima do PIB [Produto Interno Bruto]", afirmou, acrescentando que sua projeção para a economia brasileira em 2012 é de crescimento de 4%. "Estamos trabalhando para que isso aconteça."

Porém, a recuperação de investimentos nos próximos anos no setor industrial não será disseminada, e sim centrada no setor de petróleo e gás. Levantamento sobre perspectivas de investimento na indústria de 2012-2015, também divulgado ontem pelo banco, projetam R$ 597 bilhões para o período, 29,5% acima do período de 2007-2010. Desse total, 59%, ou R$ 354 bilhões, serão originados de petróleo e gás.

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