MOUT – Rocinha terá UPP em menos de um mês

Ana Cláudia Costa

Quase quatro anos após o início do processo de pacificação no estado, a Rocinha – cenário das mais violentas guerras do tráfico do Rio – está perto de receber sua Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Em menos de um mês, haverá no lugar uma unidade com 680 policiais militares, revelou ontem ao GLOBO o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. A comunidade, onde vivem mais de 70 mil pessoas, está ocupada pelas forças de segurança desde novembro passado. Na próxima terça-feira, segundo o comandante-geral da PM, Erir da Costa Filho, serão inauguradas as UPPs da Vila Cruzeiro e do Parque Proletário, na Penha, com 520 policiais, concluindo assim a pacificação do Complexo do Alemão. Com as novas unidades, o Rio passa a ter 28 UPPs, beneficiando diretamente quase 600 mil cariocas.

– Vamos inaugurar as UPPs da Vila Cruzeiro (e Parque Proletário), partir para a inauguração da Rocinha e depois fazer um planejamento. Temos um compromisso com o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de usar um grande efetivo da polícia em todo o estado para as eleições, por isso faremos uma análise criteriosa. Depois, avançaremos com o nosso planejamento – disse Beltrame.

Sem marcar datas nem revelar a ordem das próximas comunidades, o coronel Costa Filho disse que há planos para implantar UPPs em Jacarezinho; Manguinhos; Maré; Pedreira e Chapadão, em Costa Barros; e Vila Kennedy, em Bangu. O comandante adiantou ainda que tanques blindados das Forças Armadas poderão ser usados como apoio nas próximas ocupações, como aconteceu no Alemão. A UPP da Vila Cruzeiro será comandada pelo major Felipe Romeu e a do Parque Proletário, pelo capitão Felipe Matos de Carvalho. Segundo o coronel Costa Filho, a UPP da Rocinha será chefiada pelo major Edson Raimundo dos Santos. A comunidade continuará sendo usada como local de treinamento para policiais recém-formados.

Beltrame diz que operações continuam

Na manhã de ontem, o secretário de Segurança esteve no quartel-general da PM para levantar dados sobre os recentes casos de autos de resistência (mortes em confronto com a PM) e de balas perdidas, ocorridos principalmente nas comunidades de Costa Barros. Ao analisar os números, Beltrame lamentou os últimos episódios, mas foi taxativo ao afirmar que as operações policiais nessa região vão continuar.

– Os autos de resistência trazem um número que a gente não quer. Se olharmos os números dentro de um contexto, vamos ver que há também um número absurdo de prisões e armas apreendidas. Foram 47 fuzis apreendidos em três meses e mais de três mil prisões em flagrante. Isso mostra que a polícia, com base em informações de inteligência, foi a locais conflagrados, onde havia pessoas a serem presas e armas a serem apreendidas – comentou o secretário.

Apesar de ressaltar a importância das operações, Beltrame admitiu que a solução para as áreas em guerra é mesmo a ocupação definitiva:

– Enquanto não temos ocupações para essas regiões conflagradas, não podemos virar as costas para essas comunidades. Essa população não quer armas, quer tranquilidade.

Os dados citados pelo secretário foram confirmados pelo comandante da PM, que fez um levantamento do número de apreensões e prisões somente nos meses de junho, julho e agosto (até a manhã de ontem). De acordo com o levantamento, houve 3.366 prisões e 1.075 apreensões em todo o estado. Foram apreendidos, por exemplo, 606 revólveres e 399 pistolas. No mesmo período, ocorreram 233 confrontos entre PMs e bandidos, com 62 suspeitos mortos (12 em junho, 30 em julho e 20 em agosto).

As operações de rotina da PM e a maior frequência das ações do Batalhão de Operações Especiais (Bope), segundo Costa Filho, têm sido necessárias devido à presença maciça de traficantes nas favelas ainda não ocupadas, principalmente, em Barros Filho e Costa Barros.

– Os bandidos dessa região não querem perder seus fuzis, que são caros. Por isso, reagem toda vez que observam um carro da polícia. Os policiais evitam o confronto, mas, às vezes, não há como não atirar – disse Costa Filho.

Operações contra o novo 'Alemão'

Dados de inteligência da polícia apontam que nas favelas da Pedreira, Lagartixa, Quitanda, Terra Nostra e Casinhas, todas em Costa Barros e Barros Filho, estão bandidos foragidos das comunidades da Rocinha e do Morro do São Carlos, que foram ocupadas pela polícia.

Para o Morro do Chapadão e favelas às margens da Estrada do Camboatá, na mesma região, migraram traficantes rivais dos complexos do Alemão e da Penha. Essas comunidades, segundo os setores de inteligência, são importantes para os bandidos, devido à facilidade de movimentação nessas regiões, usando vias como a Avenida Brasil, a Linha Vermelha, a Rodovia Presidente Dutra e a Via Light.

Para o comandante da PM, não fazer operações nessas regiões onde há uma guerra entre facções rivais é como deixar as comunidades carentes e a sociedade à mercê dos criminosos.

– Hoje, isso é uma política de segurança pública do estado. Não vamos admitir que eles criem um outro Complexo do Alemão ou um bunker do tráfico nessa região. Por isso, fazemos ações diárias e vamos continuar. Se a polícia não for até lá, as vias dessa região, como as estradas de Botafogo e do Camboatá e as avenidas João Paulo e Pastor Martin Luther King Jr, ficarão como eram a Estrada do Itararé e Avenida Itaoca (às margens do Alemão) – disse o coronel Costa Filho.

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