General Braga Netto anuncia primeiras medidas da intervenção no Rio

Simone Kafruni

Em uma entrevista rápida, sem direito a muitas perguntas, o interventor federal no Rio de Janeiro, general Braga Netto, anunciou o gabinete que vai gerenciar a crise na segurança pública do estado. “A primeira medida que estamos tomando é a instalação do gabinete”, afirmou.

O esquema operacional terá três núcleos. Um no Comando Militar do Leste, comandado pelo próprio Braga Netto, outro na Secretaria de Segurança Pública, chefiada pelo general Richard Fernandes Nunes, e um terceiro núcleo no Centro Integrado de Comando e Controle, a cargo do chefe de gabinete da intervenção federal, general Mauro Sinotti.

Apesar de dizer que a primeira medida é a instalação do gabinete, Braga Netto não anunciou os nomes do chefe da Polícia Civil e do comandante da Polícia Militar, o que deve ser feito ainda esta semana.

O general Sinotti destacou que o objetivo será reforçar as polícias civil e militar, e não colocar tanques do Exército nas ruas, como a população esperava. “Vamos aumentar o policiamento ostensivo”, garantiu.

A idéia do comando militar da intervenção é transformar a segurança pública do Rio para que ela volte a funcionar e possa caminhar com as próprias pernas ao fim da intervenção, em 31 de dezembro de 2018. “É uma oportunidade para as forças de segurança aproveitarem a expertise das Forças Armadas”, destacou o interventor federal.

“A intervenção é um trabalho de gestão. Vamos auxiliar na gestão da segurança pública”, assinalou Braga Netto. “O principal objetivo, por termos grave comprometimento da segurança pública do Rio de Janeiro, é recuperar a capacidade operativa e baixar os índices de criminalidade”, acrescentou.

Corrupção

Para acabar com a corrupção, Braga Netto disse que fortalecerá as corregedorias para que os bons policiais sejam valorizados e os maus, penalizados. Sobre os recursos, o general disse que contará com o que está previsto no decreto. “Não temos, ainda, o levantamento dos valores. O que já temos é que faremos a atualização dos salários que estão atrasados”, afirmou. “Apesar de passar por dificuldades, o sistema de segurança nunca parou”, completou.

O interventor garantiu que haverá transparência e que o Instituto de Segurança Pública (ISP) vai aprimorar seu trabalho para mostrar os resultados. “O Rio de Janeiro é um laboratório para o Brasil”, disse Braga Netto.

UPPs

A respeito das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o comando militar assegurou que terão continuidade e, por enquanto, seguem como estão e algumas serão redimensionadas. “Temos estudos feitos e as UPPs permanecem. Temos diagnóstico de que há necessidade de reestruturação”, afirmou o secretário de Estado de Segurança, Richard Nunes. A coletiva durou apenas 20 minutos, mas perguntas tiveram que ser feitas previamente e poucas foram respondidas. A assessoria de imprensa garantiu que as demais serão respondidas por e-mail aos jornalistas inscritos.

"Rio é um laboratório para o Brasil"¹

O interventor federal na Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro, general do Exército Walter Souza Braga Netto, afirmou, na manhã desta terça-feira (27), que o Rio é um laboratório para o Brasil. “As inteligências, elas sempre funcionaram. Quando você centraliza e unifica o comando, a tendência é que isso agilize o trabalho de inteligência. O que deverá ocorrer agora é uma maior agilidade. O Rio de Janeiro, ele é um laboratório para o Brasil. Se será difundido o que está sendo feito aqui para o Brasil, aí já não cabe a mim responder”, afirmou o general.

O objetivo da intervenção federal, segundo ele, é "recuperar a credibilidade" da segurança pública no estado. O militar e outros membros do gabinete de intervenção concederam uma entrevista coletiva durante cerca de meia hora, mas nem todas as perguntas foram respondidas. O general não explicou, por exemplo, quanto será investido nas operações no Rio, nem anunciou medidas concretas de combate à violência.

O general Braga Netto participou da ação de ocupação da Maré pelo Exército entre 2014 e 2015, mas segundo ele, as ações não devem se repetir: “Não existe planejamento de ações permanentes em comunidades”. Ainda, segundo ele, é fundamental valorizar as polícias, aumentar recursos no setor de inteligência, fortalecer corregedorias e deixar legado. Por conta da violência, o Estado do RJ está sob intervenção federal até 31 de dezembro deste ano.

"Nossa missão é recuperar a capacidade operativa dos órgãos de segurança pública e baixar os índices de criminalidade no Estado do Rio de Janeiro", destacou Braga Netto.

O general Mauro Sinott, chefe de Gabinete da Intervenção federal, disse que o momento atual é uma “janela de oportunidades”, e espera que a segurança do Rio aproveite a experiência das Forças Armadas, principalmente na questão logística, por conta dos problemas com viaturas e com o efetivo.

“Precisamos que os órgão de segurança pública entendam essa intervenção como uma janela de oportunidade para trabalhar justamente os gargalos que eles têm dificuldade de superar. Essa é a ideia nossa a respeito daquilo que vai permanecer. O que vai permanecer no tempo é, justamente, atuar sobre esses gargalos que hoje trazem alguma dificuldade para os órgãos de segurança pública”, garantiu Sinott.

O orçamento disponível para a intervenção, segundo o próprio general Braga Netto, ainda não foi definido.

"No momento, o que nós temos é o que está previsto no decreto. São os recursos de segurança pública já existentes no estado e Brasília nos dará um aporte. Mas eu ainda não tenho as informações de valores porque nós mesmos ainda não levantamos esses valores. E a prioridade nossa é que já vem sendo tomada pelo governador, é a parte salarial dos pagamentos que estavam em atraso”, afirmou Braga Netto.

De acordo com Braga Netto, "toda a sistemática" da segurança pública será mantida num primeiro momento, até que tudo seja avaliado. Além do interventor, participaram da coletiva o chefe de Gabinete da Intervenção, Mauro Sinott; o secretário de Administração Penitenciária, David Anthony; o secretário de Segurança, Richard Nunes; e o secretário de estado de Defesa Civil e o comandante dos bombeiros, Roberto Robadey Costa Junior.

Questionado sobre a primeira medida a ser tomada, Braga Netto, disse que é a instalação do gabinete e que, depois, tomará uma série de providências para que a população "perceba" a sensação de segurança.

As polícias serão valorizadas através da nomeação de chefes e comandantes escolhidos dentro das próprias corporações.

Ministro-chefe negou fichamento de moradores

Nesta segunda (26), o ministro-chefe do gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Sérgio Etchegoyen, afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha, que o Exército não está fichando, nem fotografando moradores de favelas no Rio de Janeiro. Na última sexta, agentes da Força Nacional abordavam moradores da Vila Kennedy, Vila Aliança e Coreia, na Zona Oeste, e fotografavam os seus documentos de identificação.

¹com G1 – Henrique Coelho e Marco Antônio Martins

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