General da ativa será novo secretário da Segurança do Rio

Felipe Frazão

 

Interventor federal no Rio e comandante militar do Leste, o general de Exército Walter Souza Braga Netto anunciará na próxima terça-feira um general da ativa para comandar a Secretaria de Segurança do Estado. Embora ainda não haja confirmação oficial, o general de divisão Richard Fernandez Nunes é o mais cotado e deverá ser o sucessor do delegado da Polícia Federal Roberto Sá.

O policial pediu exoneração da chefia da secretaria na semana passada, assim que o presidente Michel Temer decretou a intervenção na segurança do Estado. Braga Netto passou a semana em Brasília, em despachos com a cúpula das Forças Armadas sobre o planejamento da intervenção, e tinha volta prevista para o Rio para a noite desta quinta-feira.

Sua agenda não foi divulgada. O interventor deve continuar com a rotina de reuniões fechadas hoje no Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste. Ele decidiu manter seu gabinete no palácio durante o prazo da intervenção, até o fim deste ano.

Auxiliares do interventor explicaram que ele passou os últimos dias levantando nomes para compor a secretaria. Por questão hierárquica e de disciplina, o militar optou por escolher generais para os postos-chave, afirmaram.

Assim, militarmente, o comando da secretaria manterá a estrutura de subordinação dos demais órgãos, uma vez que o Comando-Geral da Polícia Militar cabe a um coronel, posto mais alto da carreira, e os batalhões são comandados por tenentes-coronéis.

De acordo com assessores, Braga Netto não decidiu ainda os nomes abaixo do secretário nem se vai nomear generais para o comando direto da Polícia Militar e dos Bombeiros e para a chefia da Polícia Civil. Ele também avalia se vai convocar generais da reserva para cargos de confiança.

Como boa parte da formação dos oficiais do Exército ocorre em instituições no Rio, o general deverá montar uma equipe com vivência na cidade.

Currículo

O general Richard Fernandez Nunes é natural do Rio de Janeiro. Desde setembro de 2016, é comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), na Urca. Ele foi promovido de posto nesta quarta-feira, 21, por tempo no cargo, passando de general de brigada para general de divisão, o chamado “três estrelas”.

Nunes formou-se em Artilharia na Academia Militar das Agulhas Negras e Direito na Universidade do Estado do Rio (UERJ). Ele tem mestrado em Ciências Militares na ECEME e foi professor da Academia Militar de West Point, nos Estados Unidos. Em Madri, na Espanha, concluiu o Curso de Altos Estudos Estratégicos no Centro Superior de Estudos da Defesa Nacional. Serviu em missão das Nações Unidas na Guatemala.

Antes da ECEME, o general coordenou ações de defesa química, biológica, radiológica e nuclear na Copa das Confederações Fifa 2013. Também comandou a 14.ª Brigada de Infantaria Motorizada em Florianópolis (SC). Por três meses, comandou ainda o 5.º contingente da Força de Pacificação no Complexo da Maré, em 2015.

Para Exército, é essencial investir na estrutura da segurança pública do RJ¹

O interventor federal na área de segurança pública do Rio de Janeiro vai encontrar muitos problemas para resolver internamente nas forças policiais.

O general Walter Souza Braga Netto deve apresentar o planejamento da intervenção na semana que vem. Os militares que trabalham no plano de ação querem evitar que a intervenção seja apenas um remendo para os problemas graves da segurança pública.

Oficiais envolvidos no processo de intervenção disseram que um dos objetivos é fazer mudanças que tenham reflexos de longo prazo, capazes de deixar um legado para os próximos anos.

Nesse sentido, o Exército considera essencial investir na estrutura da segurança pública: recuperar e aperfeiçoar a capacidade das polícias, mas ainda não sabe se terá dinheiro para isso.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse nesta quinta-feira (22) que não vai faltar dinheiro para ações de intervenção e que a força policial sucateada é um problema:

“A força policial no Rio de Janeiro, e em qualquer lugar, sucateada não atende às necessidades de segurança da população. O senhor general vai apresentar as suas necessidades e obviamente o compromisso do presidente Temer é de procurar atender essas demandas”, disse Jungmann.

Dados do orçamento mostram a redução dos investimentos nas forças policiais do estado nos últimos anos. De acordo com a Contadoria Geral do Estado, o Rio só utilizou 78% do orçamento inicial da área de segurança em 2017.

Foram gastos R$ 8,5 bilhões, mais do que as despesas nas áreas de saúde e de educação. Mas quase 90% dos gastos com a área de segurança foram para o pagamento de pessoal e a administração.

“Acho que a questão da corrupção e da crise no Rio foram muito determinantes para essa deterioração da segurança”, disse o especialista em segurança pública Bruno Langiani.

Analisando o orçamento da segurança pública se descobre por que o setor de inteligência do não chega a ser um 007. É que o setor tem, na verdade, apenas 0,00003% do orçamento, praticamente nada.

Em 2017, o estado gastou com informação e inteligência míseros R$ 2.470. E no ano anterior, apesar da previsão inicial de R$ 10 mil, não gastou nada.

“Sem inteligência e sem investigação de porte você não vai prender os grandes criminosos, as pessoas que fazem receptação de produtos roubados, de carga e de drogas, ele vai ficar eternamente no varejo”, afirmou Arthur Trindade, professor da Universidade de Brasília e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Para o sindicato dos policiais civis, a falta de investimentos vem prejudicando há muitos anos o trabalho das investigações.

“Hoje a gente tem na Polícia Civil uma defasagem de quase 15 mil profissionais de policiais. Então, hoje a gente tem, além do baixo efetivo, falta viatura, papel. Falta de tudo, e a gente não consegue prestar um serviço de excelência para a população fluminense”, disse Márcio Garcia, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro (Sindipol).

A Secretaria de Administração Penitenciária diz que faltam 2.500 agentes. Na PM, o déficit é de 16 mil policiais. Além disso, metade dos 6.500 carros da PM está parada por falta de manutenção.

Sobrevoando dois batalhões: um na Zona Norte, outro na Baixada Fluminense, foram encontrados pátios lotados de viaturas abandonadas. São dezenas de carcaças. Alguns estão sem pneus, sem portas, falta até motor. No cemitério de carros, tem até um blindado da PM.

“Na prática, as atividades capazes de dar conta disso, que é fazer rastreamento, combater lavagem de dinheiro, combater todo o circuito econômico que está por trás desse crime, isso não vem sendo feito. E muito pouco investimento em inteligência e em Polícia Civil, que é algo que aparece pouco, mas dá bastante resultado em termos de redução de crime”, disse Bruno Langiani.

A Secretaria de Segurança não quis se pronunciar sobre a reportagem. O interventor no Rio, general Braga Netto, indicou o general Richard Nunes para ser o novo secretário de Segurança, mas o nome ainda vai ser submetido a outras autoridades, antes de confirmado.

¹com G1

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