Jungmann propõe criação de força-tarefa para investigar crime organizado no Rio

Cristina Indio do Brasil

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que vai propor à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a criação de uma força-tarefa para atuar em investigações que identifiquem a ação de agentes públicos do Rio de Janeiro em parceria com o crime organizado. Jungmann disse que quer levar esta medida adiante porque, além das operações para a integração das forças de segurança com a participação das polícias Federal e Rodoviária Federal, da Força Nacional de Segurança e das Forças Armadas; e das ações sociais que vêm ocorrendo no estado, o Rio pede e necessita uma força-tarefa federal para dar conta, sobretudo, de um estado paralelo, que ele classificou como capturado pelo crime organizado.

“Basicamente a força-tarefa tem que levantar informações e identificar, obviamente, denunciar e processar os agentes públicos que estejam envolvidos com o crime organizado no Rio de Janeiro”, disse à Agência Brasil.

De acordo com o ministro, a força-tarefa deverá ser composta por membros destacados, especificamente para esta função, do Judiciário federal, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. “A ideia é que tenha juízes, procuradores e policiais federais dedicados à tarefa de combater o crime organizado e seus parceiros agentes públicos da máquina estatal do Rio de Janeiro”.

Jungmann assegurou que eles vão continuar a atuar no Rio até o fim do governo do presidente Michel Temer. Desde o início da integração das forças de segurança no fim de julho, na região metropolitana do Rio, houve três operações em que os militares foram empregados.

Sensação de segurança

Para o professor do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), José Trajano, a discussão sobre a permanência das Forças Armadas no apoio às ações de segurança do Rio deve ter sequência com o anúncio pelo governo federal de reforço na integração com a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.

Na visão de Trajano, restringir somente a presença dos militares nas ruas não dará resultados efetivos no combate ao crime, porque já ocorreram em outras situações e o problema não foi resolvido. Ainda assim, Trajano disse que não se pode ignorar a sensação de segurança que parte da população sente com a presença das Forças Armadas.

“Embora, efetivamente não haja grandes resultados, a sensação de segurança tende a crescer junto à população, porque existe uma certa discrepância entre sensação de segurança e o comportamento da incidência criminal propriamente dita. No que diz respeito às ações das Forças Armadas, a tendência é de que, enquanto elas estão atuando, uma parcela da opinião pública tende a se sentir mais segura, embora não tivesse grandes razões para isto. Esse é um problema a ser enfrentado”, disse à Agência Brasil.

Integração

Segundo o professor, mesmo sendo anunciada em diversas situações, a integração das polícias do estado com a Polícia Federal ainda não é completa. “Para haver de fato uma estratégia sólida, planejada, consistente, de longa duração, que produzisse realmente resultados, seria necessário investimento que nunca foi feito”, disse.

O pesquisador acrescentou que, com um anúncio de uma medida neste sentido, a União e governo do estado estabeleceriam um acordo de cooperação para investimento em inteligência, em investigação, em antecipação por meio da integração dos seus órgãos de formação e das suas respectivas polícias. “Isso não houve e não existe historicamente. Iria produzir efeitos muito mais efetivos e muito mais rapidamente do que essa ladainha interminável de chamar as Forças Armadas”, disse.

Estrutura logística

O coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, coronel Ubiratan Ângelo, disse que ninguém tem dúvida de que o Rio precisa de auxílio nesse momento, não só na gestão de recursos, como também, no aumento do efetivo policial e no apoio logístico que as Forças Armadas têm em melhor condição do que as polícias estaduais.

“Elas [forças armadas] realmente devem continuar atuando com as forças de segurança. Agora, é uma questão de sentarem o governo federal e o governo estadual, com os representantes das forças federais e engendrar a utilização dos recursos logísticos e de capital humano das Forças Armadas para que tragam resultados positivos. Uma coisa é o papel de polícia, outra coisa é a inteligência. A estrutura logística das Forças Armadas é espetacular”, disse à Agência Brasil.

O coordenador disse que em algumas regiões de atuação do crime organizado com acesso difícil é preciso ter a utilização de veículos blindados como os das Forças Armadas. “Não é para ocupar o papel da polícia, mas para auxiliar no papel a polícia nos pontos em que a legislação permita e que a operacionalidade traga bons resultados”, disse.

Ângelo disse que a população se sente mais segura quando ocorre uma ação coordenada entre as forças federais e do estado. “Toda vez que aparece um auxílio, a sociedade se sente mais aliviada. A participação em algumas ações de patrulhamento ostensivo, de passar por um ponto onde pode dar mais flexibilidade na presença ativa das forças de segurança que as forças armadas representam, é importante, mas tudo isso coordenado. Tem que ter um perfeito encadeamento das forças federais e estaduais”.

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