GEPARD – KMW contesta afirmações sobre o sistema

DefesaNet

A empresa KMW enviou  correspondência referente à matéria publicada  em Veja e posteriormente no DefesaNet com o título “O Exército brasileiro negocia a compra de 36 blindados antiaéreos”.

No documento a empresa contesta as afirmações da matéria e apresenta interessantes  detalhes sobre sistemas de defesa antiaérea.

O editor  

Correspondência
KMW

Motivos da retirada de circulação do Gepard

Que o sistema tenha sido retirado de circulação é verdade, porém, a razão alegada no artigo é falsa. A decisão pela interrupção do sistema não se baseou na má qualidade ou porque os sistemas não eram adequados aos objetivos desejados e, sim, na evolução das doutrinas a partir do final da guerra fria.

A Bélgica foi o primeiro país a colocar os tanques fora de serviço. O motivo foi a distribuição de atribuições entre os parceiros europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO/OTAN), de forma que as missões de defesa antiaérea de curto alcance, baseadas em solo, para proteção das tropas mecanizadas, foram assumidas por outros parceiros, eliminando a necessidade de uso dos Gepard. A Bélgica, com o seu pequeno número de meios mecanizados, operaria conjuntamente com seus outros parceiros europeus, numa clara definição de atribuições. Com isso, o Gepard, adquirido apenas alguns anos antes, tornou-se obsoleto. Os demais parceiros não adotaram o sistema, pois o veículo possuía algumas características especificas para a Bélgica, o que forçosamente causaria certos problemas de natureza logística.

A Holanda, através da adoção de medidas destinadas a uma significativa redução de veículos blindados de combate (até sua completa extinção), decidiu que o Gepard (Cheetah, como é conhecido na Holanda) não mais seria necessário num futuro cenário de operações. Ficou decidido, de forma semelhante aos alemães, que eles não participariam de operações militares no exterior onde a superioridade aérea não poderia ser garantida pelas forças conjuntas (um papel geralmente ocupado pelos Americanos e Britânicos).

O Exército Alemão, igualmente, fez um corte significativo no número de seus carros de combate, e, conseqüentemente, limitou o número de sistemas de defesa antiaérea de curto alcance como o Gepard. Além disso, ele tem o mesmo ponto de vista dos Holandeses e, seguindo procedimentos similares aos realizados pelos Holandeses, procura evitar atuar em missões onde a superioridade aérea não seja garantida pelas forças conjuntas, sendo esta mais uma razão da retirada de circulação dos Gepard. A proteção das tropas blindadas em nosso pequeno país é feita pela Força Aérea, com seus diversos recursos antiaéreos. Além disso, uma guerra tradicional a ser realizada dentro do território da Europa Ocidental, é vista como uma realidade bastante remota.

Assim sendo, estas decisões não se referem à qualidade ou às qualificações do Gepard para as missões às quais ele se destina. É preciso salientar que os exércitos da Alemanha e Holanda lançaram um programa de modernização e extensão da vida útil dos Gepard, programa esse finalizado no início da década passada, no período 2000/2001, abrangendo grande parte dos sistemas até então em funcionamento.

O Exército Alemão fez um planejamento para descomissionamento do Gepard em 2025, com a aquisição de estoque de sobressalentes até aquele período. Parte do programa de modernização previa o desenvolvimento de um simulador inteiramente novo para dar apoio ao treinamento das unidades do Gepard, visando um alto grau de realismo. Após o programa de modernização, os exércitos investiram um montante considerável de vários milhões de Euros anuais para manter o software do sistema atualizado e incorporar novas ameaças resultantes das novas características de aeronaves de ataque.

Tecnologia padrão do Gepard/Cheetah

Ao contrário do divulgado no artigo da revista VEJA, o desenvolvimento do Gepard teve início nos anos 70 e terminou no final dos anos 80, com a entrada do último sistema nas Forças Armadas Alemãs. Conforme descrito acima, o Gepard sofreu vários ajustes e, no final dos anos 90 e início de 2000, passou por um extenso programa de modernização. Como parte deste programa, foi feita a substituição do antigo sistema de direção de tiro analógico por um digital, assim como melhorias nos sensores de velocidade inicial do projetil, para que se adaptassem aos novos tipos de munição, além da integração dos Gepard ao sistema de comando e controle de defesa antiaérea, apenas como alguns exemplos de alterações introduzidas no sistema.

A introdução do sistema de direção de tiro digital possibilitou a adaptação do Gepard às novas ameaças resultantes das novas capacidades das aeronaves e procedimentos de ataque, apenas através de modificação de software. Desnecessário dizer que estas alterações no software sempre foram realizadas simultaneamente com os simuladores, para manter a tripulação a par da constante evolução das capacidades do sistema.

Em virtude de suas freqüências, os radares do Gepard possuem a capacidade de realizar com eficácia o combate contra alvos aéreos voando próximo ao solo ou até “hoverando” próximo ao solo, abaixo da copa das árvores, como é o caso do procedimento utilizado por um helicóptero de ataque, uma vez que o radar consegue detectar rotores de helicópteros ocultos por detrás da folhagem das árvores. Alvos nesta posição não podem ser atacados por mísseis como, por exemplo, o Stinger, cuja altura mínima de ataque acima do solo é de 15m.

Com o intuito de enfrentar ameaças futuras com o uso de veículos aéreos não tripulados (VANT), companhias como a Thales criaram novos sistemas de defesa antiaérea com canhões. Umas das justificativas é de ordem econômica, para permitir o combate a alvos aéreos mais baratos e de menor porte. Uma das frases utilizadas pelo gerente da Thales foi “vocês querem lançar um míssil dispendioso contra um alvo barato ao invés de executar a missão com alguns poucos disparos?” A exatidão desta afirmativa foi comprovada durante o recente exercício de tiro em Formosa, segundo relatos publicados na imprensa, quando o Gepard atingiu o alvo em cheio, com apenas alguns disparos, ao passo que, dos três mísseis Igla disparados, dois erraram o alvo, enquanto um derrubou o alvo por deslocamento de ar, sem atingi-lo, o que somente aconteceu dada às pequenas dimensões do alvo aéreo utilizado. Nenhum dos mísseis Igla lançados explodiu, nem por proximidade. Os tiros do canhão antiaéreo Bofors sequer passaram perto do alvo. Neste exercício, portanto, o único sistema que atingiu o alvo foi o Gepard.

Avaliação do Gepard no Chile

O relato da avaliação do Gepard no Chile é incorreto. O Exército do Chile obteve alguns Gepards da companhia belga SABIEX. Aqueles sistemas não possuíam um sistema de direção de tiro digital e nem mesmo um telêmetro a laser. A companhia FAMAE, pertencente ao Exército Chileno, juntamente com uma companhia privada local, fez uma tentativa de modernizar o Gepard sem qualquer envolvimento por parte da KMW. A idéia era retirar todo o equipamento da torre, com exceção das armas, e substituí-lo por equipamento mais moderno.

A tentativa fracassou em virtude da falta de conhecimento adequado do sistema. Embora a KMW tenha oferecido apoio, na capacidade de proprietária do sistema, a FAMAE jamais aceitou a oferta.

Paralelamente, o Exército Chileno visitou a Alemanha com um grupo de oficiais, a fim de coletar dados disponíveis sobre o Gepard. Foi feita uma visita ao Comando de Logística e à escola de artilharia e defesa antiaérea.

Naquela ocasião, o Exército Alemão ainda tinha a intenção de manter o Gepard em atividade até 2025 e a decisão de retirá-los de circulação nem mesmo constou da pauta de discussão. O Exército Alemão informou à delegação do Chile sobre o conceito de apoio logístico para o Gepard na Alemanha, recomendando que eles utilizassem a mesma abordagem no Chile, ao invés de adaptá-la às necessidades chilenas. Adicionalmente, considerando-se a intenção do Exército Alemão de manter o Gepard em atividade, simuladores, sobressalentes e ferramentas especiais, assim como equipamentos de testes, não poderiam ser oferecidos ao Exército Chileno, o que tornou o apoio logístico bastante oneroso, pois todos aqueles itens teriam que ser fabricados ou adquiridos de outras fontes.

O cenário no Brasil será totalmente diferente, já que o sistema completo será desativado e os sobressalentes, simuladores, ferramentas especiais, etc poderão ser adquiridos como um todo, sob um único contrato. O problema, porém, é que o Exército Alemão está sendo pressionado a esvaziar os seus depósitos por medida de economia. O que solicitamos ao Exército Brasileiro é que  manifestasse sua intenção em avaliar o sistema Gepard ao  Ministério de Defesa Alemão.   

Em resumo, acreditamos que o Gepard saiu-se muito bem durante o exercício de tiro em Formosa, demonstrando de maneira positiva e eficaz a sua capacidade de combate a pequenos alvos, em condições atmosféricas adversas.

Comprometemo-nos a envidar todos os nossos esforços, colocando à disposição nossas instalações no Brasil em apoio ao Exército Brasileiro para que o Gepard se torne um recurso valioso para proteção contra ameaças aéreas de qualquer espécie. Temos plena convicção que as condições no Brasil são diferentes daquelas existentes nos países da Europa Ocidental e que meios adequados para defesa antiaérea de curta distância seja um requisito indispensável.

Colocamo-nos à disposição para informações adicionais e iremos nos empenhar diligentemente para transformar em sucesso o projeto Gepard no Brasil.

Cordialmente,

Stephan Straube
Regional Director
KMW

DefesaNet

O Exército brasileiro negocia a compra de 36 blindados antiaéreos Veja 31 Outubro 2011 Link

Tiro real da Escola de Fogo do Material Antiaéreo EB 27 Outubro 2011 Link

DNTV

SIAAEB – Surge o GEPARD 1A2

Vídeo mostrando o exercício realizado em Formosa. Mostrado o lançamento de mísseis Manpads IGLA, disparo de canhões Bofors 40L70 e do sistema Gepard Link

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