Boeing estuda o uso de VANTS nas aplicações de sensoriamento remoto

Quase um quarto de toda a riqueza do Brasil vem do campo. Agora imagine se fosse possível obter informações sobre diversas plantações, acompanhar as condições de crescimento de uma cultura com auxílio de gráficos e ferramentas estatísticas, verificar a qualidade e a homogeneidade das plantações ainda em solo e outros tantos fatores em intervalos reduzidos de tempo.

E é nisso que apostam os pesquisadores do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing (BR&T-Brasil). A receita encontrada pela companhia para chegar ao que chamam de “agricultura de precisão” é a combinação dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) com outras fontes de dados, obtidos, inclusive, por satélites de observação da Terra.

Trata-se de um campo da ciência conhecido como sensoriamento remoto. Leia mais sobre as inúmeras vantagens do uso dos VANTs para as aplicações de sensoriamento remoto na agricultura.

À primeira vista, pode parecer estranho a Boeing, uma empresa dedicada a pesquisa e desenvolvimento de tecnologia aeroespacial, estar preocupada com agricultura.

Porém, se lembrarmos que do alto se tem uma visão mais ampla e clara de um cenário – e isso inclui todos os tipos de plantações – fica fácil resolver a equação: a receita encontrada pela companhia para chegar ao que chamam de “agricultura de precisão” é a combinação dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) com outras fontes de dados, obtidos, inclusive, por satélites de observação da Terra. Trata-se de um campo da ciência conhecido como sensoriamento remoto.

Exceto no caso de dados coletados em laboratório, onde as condições são controladas, existem hoje basicamente três níveis de sensoriamento remoto para a coleta de dados das plantações: o de campo, quando se leva o equipamento para a área de interesse e ali os dados são coletados; o aéreo, em que os sensores que coletam os dados são embarcados em aeronaves tripuladas; e o orbital, no qual os sensores estão a bordo de satélites que orbitam a Terra a aproximadamente 700 km de altitude.

Contudo, todos esses níveis de sensoriamento remoto têm limitações inerentes. Os dados coletados em campo são muito precisos, mas envolvem um alto custo de operação e, em geral, limitam-se a cobrir áreas pequenas.

Por outro lado, os dados obtidos por sensores a bordo de satélites cobrem grandes áreas e de maneira sistemática, mas muitas vezes são limitados à passagem dos satélites quando o céu não está nublado, o que é um problema em regiões tropicais como o Brasil. O uso de aeronaves tripuladas pode ser uma solução, mas envolve um custo extremamente elevado de operação e, além de depender de condições meteorológicas favoráveis, também depende de um corpo técnico extremamente especializado.

De fato, os três níveis de sensoriamento remoto mencionados deixam uma lacuna a ser preenchida, e é aí que entram os VANTs. São inúmeras as vantagens do uso dos VANTs para as aplicações de sensoriamento remoto na agricultura.

Para citar algumas: a possibilidade de coletar dados a qualquer momento, sistematicamente, e em curtos intervalos de tempo; a capacidade de voar abaixo das nuvens e coletar dados mesmo em dias nublados; a facilidade de manuseio do equipamento; a gama de sensores que podem ser utilizados; e o custo de operação, que tende a diminuir a medida que a tecnologia se populariza.

O intervalo de tempo entre duas aquisições consecutivas de dados sobre a mesma área, que em termos técnicos é conhecido como “resolução temporal”, é bastante otimizado. “Um satélite passa sobre determinada área hoje; se estiver nublado, você só terá chance de uma nova imagem depois de duas semanas; se estiver nublado novamente, só daqui a um mês.

Para a agricultura, isso pode ser um tempo muito grande”, argumenta Marcio Pupin Mello, coordenador de pesquisa em Sensoriamento Remoto e Agricultura de Precisão da BR&T-Brasil. Um VANT pode sobrevoar determinada área todos os dias ou até diversas vezes no mesmo dia, se preciso for. Ou seja, sua resolução temporal é muito mais apurada.

É possível integrar inúmeros tipos de sensores, ou câmera, nos VANTs, desde uma câmera comercial mais simples, como aquelas geralmente utilizadas por atletas que praticam esportes radicais, até sensores mais complexos, com centenas de bandas espectrais que vão do visível até o infravermelho.

A partir daí, literalmente, o céu é o limite: pode-se verificar quão sadia está a vegetação, se há falhas no plantio, se determinado trecho da área plantada está mais desenvolvido que outro, se o calor, humidade ou a luminosidade estão adequados para cada cultura agrícola, etc.

As vantagens dos VANTs não param por aí. Eles também possuem uma ótima relação custo-benefício e tendem a ficar cada vez mais baratos à medida que se popularizam. “Muitas vezes, é muito mais simples e barato para o produtor usar um VANT para sobrevoar e monitorar uma região do que comprar uma imagem de satélite ou usar um avião tripulado”, explica Mello, que é doutor em Sensoriamento Remoto.

O uso de VANTs no Brasil, entretanto, ainda não está regulamentado. “A Boeing tem bastante conhecimento adquirido com o uso das tecnologias de VANTs pelo mundo, incluindo aplicações em agricultura de precisão. Aqui no Brasil, estamos trabalhando com parceiros nacionais e criando juntos tecnologia e conhecimento”, afirma o pesquisador. “Precisamos concentrar esforços, junto com as autoridades aeronáuticas, para promover o uso profissional do VANT no país, só assim poderemos tirar total proveito de seu uso nas aplicações para a agricultura”, completa.

“É uma grande satisfação a parceria que firmamos com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)”, celebra Mello “O INPE é, sem dúvidas, referência mundial em aplicações do sensoriamento remoto em agricultura e meio ambiente”.

Ele fala do projeto Gerenciamento Eficiente de Culturas Energéticas, que está desenvolvendo soluções de sensoriamento remoto para aplicações em agricultura, mais especificamente nas culturas energéticas, como parte do desafio de apoiar o desenvolvimento de uma indústria de biocombustíveis sustentáveis para a aviação.

A proposta, relata Mello, é que a Boeing, junto com o INPE e demais parceiros, criem tecnologias altamente inovadoras, adequadas às necessidades da agricultura brasileira.

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