Como Alemanha tenta evitar a radicalização islâmica nas prisões

A escultura entalhada de Jesus pendurada no teto observa o vitral fosco dividido por listras azuis decorativas. Através do vidro, vê-se o contorno borrado de barras brilhantes. Se elas não estivessem ali, seria facilmente possível esquecer que esse espaço eclesiástico faz parte de um centro correcional em Bochum, na Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha.

A igreja da prisão é grande e luminosa. No altar de madeira se encontra uma Bíblia aberta, com velas dos dois lados. A porta se abre, e um homem enorme de 50 e tantos anos é trazido para a sala. Ele usa calças cargo e tênis e tem uma fina trança escorrendo pelo pescoço debaixo de um boné preto de beisebol.

O prisioneiro tem um aperto de mão firme e faz contato visual direto, mas se recusa a revelar seu nome. Neste artigo, ele é chamado de Batuhan.

Aos olhos das autoridades alemãs, Batuhan é um detento exemplar: arrependido, reflexivo e tolerante. Nascido na Turquia, ele vive na Alemanha desde os quatro anos de idade. Em março de 2014, foi preso após ser condenado por fraude. Ele não quis entrar em detalhes sobre o assunto, mas disse que o caso envolve carros e imóveis.

Um quarto dos detentos é muçulmano

Batuhan é um dos cerca de 16 mil prisioneiros na Renânia do Norte-Vestfália. Desse total, aproximadamente um quarto é muçulmano, e isso inclui um pequeno grupo de radicais islâmicos. Em meados de 2019, 33 pessoas "do espectro islamista" estavam detidas em prisões do estado, informou a secretaria de Justiça estadual à DW.

Esses detentos estão espalhados por diferentes presídios – incluindo Bochum – para impedi-los de formar uma célula radical. A DW não teve acesso a essas áreas, mas foi autorizada a entrevistar um preso, Batuhan. Segundo o prisioneiro, a religião desempenha um papel importante para muitos na prisão – independentemente da sua fé. Ele mesmo diz ter encontrado Deus atrás das grades.

Hoje, conta Batuhan, os presos lhe fazem perguntas sobre o islã. Por exemplo, depois que chega à prisão a notícia de que um ataque islâmico foi realizado em algum lugar, Batuhan recebe questionamentos. "Nós então falamos sobre o 'porquê'", afirma.

O número de presos radicalizados tende a crescer. Somente no ano passado, a Procuradoria-Geral em Karlsruhe deu início a 855 investigações preliminares contra supostos radicais islâmicos.

Pesquisas da emissora pública alemã WDR também constataram que, desde a derrota militar do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), mais de 120 jihadistas ligados à Alemanha foram detidos em áreas curdas da Síria. Eles se encontram agora detidos em prisões iraquianas. Se retornarem à Alemanha, muitos deles deverão ser processados.

O país se encontra num momento crítico, adverte o pesquisador de extremismo Michael Kiefer. "Se personalidades inteligentes que ainda mantêm fortes visões [radicais islâmicas] voltam para a Alemanha, elas não vão parar o incitamento nas prisões."

Presa fácil para radicais islâmicos

A maioria dos ataques de cunho radical islâmico na Europa foi cometida por pessoas que foram radicalizadas na prisão, como Anis Amri, que em dezembro de 2016 entrou com um caminhão dentro de um mercado de natal em Berlim, matando 11 pessoas.

Mais da metade dos mais de 5 mil jihadistas que deixaram a Europa Ocidental para se juntar ao "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque tem antecedentes criminais, geralmente como membros de gangues, traficantes ou ladrões, segundo um estudo de 2018 publicado pelo Centro Internacional para o Estudo da Radicalização (ICSR, na sigla em inglês), do King's College de Londres.

Os presídios alemães, portanto, tentam assegurar que os extremistas não atuem como missionários e não tenham contato com pessoas com a mesma opinião. Aqueles em risco estão sendo cada vez mais vigiados e separados de outros internos.

Mas eles não são isolados 24 horas por dia. Durante exercícios no pátio, por exemplo, eles têm contato com outros prisioneiros. Batuhan diz acreditar que tais ocasiões poderiam ser exploradas para tentar influenciar os outros: "Vou colocar desta forma: é mais fácil convencer alguém aqui", afirma ele, acrescentando, contudo, que ainda não vivenciou tal situação.

O advogado Numan Özer também diz estar convencido de que as prisões são o terreno fértil perfeito para grupos extremistas. Durante sete anos, ele trabalhou para a 180-Degree Turnaround, iniciativa baseada em Colônia que agora recebe recursos federais para combater o extremismo religioso nas prisões.

Desde 2015, Özer tem visitado regularmente prisões na Renânia do Norte-Vestfália. Em quatro delas, sua iniciativa realiza palestras regulares para prisioneiros muçulmanos sobre boa cooperação, autorreflexão e discernimento.

"Os prisioneiros se encontram num abismo, pelo menos emocionalmente", afirma Özer. Segundo ele, isso os torna presa fácil para os radicais islâmicos, que podem convencê-los de que o sistema é o culpado por suas desgraças.

Algumas interpretações radicais do islã argumentam que o Ocidente está travando uma guerra contra os muçulmanos. Os radicais usam esse argumento para justificar as rendas obtidas em furtos, roubos ou tráfico de drogas como legítimos saques de guerra, retratando pequenos criminosos como heróis. "Extremistas podem facilmente atrair esses jovens usando esse argumento", aponta o ativista.

Trata-se de um cenário perigoso: jovens detentos desesperados, agressivos, solitários e com poucas perspectivas encontram pessoas que lhes trazem respostas simples a todas as suas perguntas.

Como governo e Justiça tentam impedir

As autoridades alemãs dizem ter acordado para o que consideram um perigo iminente. Desde o ataque aos escritórios da revista satírica francesa Charlie Hebdo em janeiro de 2015, muitas prisões na Renânia do Norte-Vestfália nomearam funcionários de integração para que estes funcionem como pontos de contanto para os detentos com origem migratória.

Os centros de detenção também trabalham em estreita colaboração com estudiosos do islã, como Mustafa Doymus e Mehmet Bilekli. Em nome da Secretaria de Justiça, os dois treinaram cerca de 3 mil dos 8.600 policiais na Renânia do Norte-Vestfália desde 2016. Doymus afirma que a perda da liberdade inevitavelmente provoca crises pessoais entre os detentos, o que "torna todo mundo um filósofo" e leva muitos a se perguntarem questões religiosas.

O trabalho de Doymus, Bilekli e outros estudiosos se concentra em "sensibilizar" os funcionários da Justiça para que eles possam ajudar em tempos de crise e reconhecer sinais de radicalização o mais cedo possível. Isso inclui descobertas de escritos e livros que chamem a atenção durante buscas em uma cela, ou o recebimento de cartas suspeitas por prisioneiros.

Dentro da cena radical islâmica, há redes ativas que enviam cartas e pacotes aos prisioneiros: um aparente gesto de caridade, mas que visa fortalecer ideologicamente os detentos e recrutar novos seguidores.

Cuidado pastoral para prisioneiros muçulmanos

O estudioso islâmico Bilekli defende que as prisões trabalhem não apenas com aqueles que correm risco de extremismo, mas também com aqueles que já foram radicalizados. Em algum momento, os prisioneiros "serão soltos novamente na sociedade", afirma. Portanto, o tempo na prisão conta.

Nesse sentido, a compreensão do cuidado da pastoral muçulmana atrás das grades e de sua importância vem crescendo há alguns anos. "Quando se recebe assistência e apoio aqui, isso pode ter um efeito imunizante", diz o pesquisador de extremismo Michael Kiefer.

Para as 36 prisões da Renânia do Norte-Vestfália, existem atualmente 26 imãs. Todos passaram por verificações de segurança. Contudo, os clérigos muçulmanos ainda não conseguem viver do trabalho que realizam atrás das grades. Ali, os imãs têm permissão para trabalhar até 10 horas por semana, ganhando 20 euros por hora. Até 2016, o trabalho não era sequer remunerado.

Em comparação, os pastores protestantes e padres católicos são pagos pelo Estado, trabalham em tempo integral e podem se dedicar inteiramente a seu trabalho na prisão. As duas igrejas cristãs fornecem um total de 86 agentes pastorais para os presídios na Renânia do Norte-Vestefália.

Os imãs, por sua vez, oferecem horas de atendimento pessoal, e as orações de sexta-feira são realizadas a cada 14 dias. Mas quem já é radicalizado não pode participar, admite abertamente o imã de uma prisão em Düsseldorf: "Eu não posso alcançá-los com minhas mensagens." Ele também se concentra em prevenir a radicalização.

No presídio em Bochum, Batuhan aceita todas as ofertas que quebram a monotonia de sua vida no cárcere – e as orações de sexta-feira se tornaram um ponto alto.

Antes de entrar na prisão, a religião não tinha um papel em sua vida, afirma. Mas estando numa cela de apenas alguns metros quadrados, ele de repente se viu com bastante tempo para refletir, até que sua pena chegue ao fim, em 2021.

Batuhan garante que manterá sua fé recém-descoberta após deixar a cadeia: "É parte de mim agora, não vai sair de novo."

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