Compra do Brasil deu visibilidade aos caças Gripen, diz ministro sueco

Virgínia Silveira


A aquisição de 36 caças Gripen NG pelo Brasil deu visibilidade maior para o produto sueco no mercado mundial, disse o ministro da Defesa da Suécia, Peter Hultqvist, em encontro realizado com jornalistas brasileiros nesta quinta-feira, em Estocolmo. “É um acordo importante que abre outras oportunidades para o Gripen, projeto que estabeleceu uma nova relação entre os dois países.” afirmou.

A nova relação que está sendo construída pelo Brasil e a Suécia por meio dos caças, segundo o ministro, é de longo prazo. Deverá se estender pelos próximos 30 anos. “O Gripen representa mais do que a venda de um caça. Está muito relacionado à geração de empregos, de recursos e de tecnologias”, ressaltou.

O desenvolvimento conjunto dos aviões com o Brasil, segundo ele, vai permitir ainda que a Suécia reduza os custos de investimento no projeto, além de promover uma parceria promissora com a Embraer, uma das empresas aeronáuticas mais importantes do mundo.

Para cobrir a saída da Suíça do programa – que em maio anunciou o cancelamento da compra de 22 caças Gripen NG da fabricante Saab -, o Ministério da Defesa sueco solicitou recursos adicionais para o projeto ao governo.

“Solicitamos 2 bilhões de coroas suecas para o projeto em 2014 e mais 900 milhões para 2015. Na lei do parlamento sueco, o Gripen é considerado equipamento de segurança nacional”, revelou Hultqvist, otimista com a aprovação dos recursos.

O ministro disse que a existência de novos parceiros para o programa do caça é positiva e revelou que tem tentado uma aproximação maior na área de defesa com outros países da América Latina, como o Chile. “O ministério apoia a busca por novos parceiros pela indústria sueca”, comentou.

Sobre a negociação que envolve uma solução interina para o Brasil, com o envio de caças Gripen da geração atual C/D até que os novos sejam entregues, o comandante da Força Aérea Sueca (SwAF), general Micael Byden, disse que não podia dar detalhes, pois as discussões ainda estão em andamento.

A possibilidade de aquisição do jato de transporte militar KC-390 pela SwAF, segundo o comandante, seria uma alternativa muito interessante para a substituição das atuais aeronaves C-130 Hércules da frota SwAF, mas ainda não existe uma decisão sobre o tema. “Ainda estamos avaliando se iremos fazer a modernização de cinco aeronaves ou se é melhor comprar novas”, disse.

Byden esteve no Brasil recentemente para assistir a apresentação oficial do KC-390 pela Embraer, em Gavião Peixoto. “Trata-se de uma aeronave muito boa e a Embraer tem cumprido com tudo aquilo que prometeu. Vamos aguardar o primeiro voo, previsto para o final do ano e também analisar a questão dos custos de operação para podermos avaliar melhor essa questão”, afirmou.

O ministro Hultqvist comentou ainda que a preocupação com os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia fez com que o governo sueco solicitasse ao parlamento do país a possibilidade de um incremento de 10% no volume de recursos na área de defesa, para a compra de equipamentos e também para o aumento do número de efetivo na proteção das fronteiras.

“A proposta que apresentaremos ao parlamento em março será feita com base em dois estudos que fizemos sobre as claras evidências da necessidade de aumentar os recursos operacionais para a área de defesa”, destacou. O Ministério da Defesa sueco, acrescentou, tem um orçamento previsto de aproximadamente 47 bilhões de coroas suecas para os anos de 2014 e 2015.

SAAB projeta venda de 450 caças em 20 anos*

Nos próximos 20 anos, a empresa sueca Saab prevê mercado de 5.000 caças supersônicos. Desse total, a Saab e a Embraer –que agora são parceiras na produção do caça Gripen NG– têm condições de disputar 3.000 unidades no mercado mundial, que exclui a Rússia e China.

No grupo dessas 3.000 unidades, o objetivo da Saab é abocanhar de 10% a 15%, em participação conjunta com a Embraer por meio de acordo de parcerias.

A informação foi dada ontem por Jan Germudsson, vice-presidente de parcerias industriais Saab-Aeronáutica, na unidade da empresa sueca em Linköping.

Segundo Germudsson, a projeção se refere a um mercado de US$ 30 a 35 bilhões. Ele disse que a Saab e a Embraer estudam a promoção conjunta para uma parceria estratégica para a venda dos caças no mercado global.

O Gripen NG (New Generation) começa a ser produzido em 2017. A Força Aérea Brasileira começa a receber os caças feitos na Suécia a partir de 2019. O governo brasileiro comprou 36 Gripen NG da Saab, em contrato que prevê transferência de tecnologia.

“Na América Latina, por exemplo, o uso do Gripen NG pela FAB e a parceria da Embraer no projeto podem alavancar o mercado do caça de imediato na América Latina, já que a Argentina manifestou interesse pelo Gripen”, disse Ulf Nilsson, chefe do Gripen na área de aeronáutica.

A Saab tem faturamento anual estimado em US$ 3,2 bilhões. Desse total, Gripen responde por US$ 800 milhões.

Parcerias. Executivos da Saab também confirmaram ontem as principais parceiras do programa Gripen NG, além da Embraer, na questão da transferência de tecnologia.

De São José estão a Akaer, envolvida no projeto de engenharia de estruturas, a Mectron para fornecimento do sistema Datalink do caça e de alguns sensores e a Atech, controlada pela Embraer, com o sistema de suporte em treinamento para o caça.

A SAAB possui atualmente 15% da Akaer.

De São Bernardo do Campo há a Imbra, que produzirá partes estruturais. Akaer e Imbra têm parceria para desenvolver parte da fuselagem do Gripen.

A Embraer fará a montagem final e a integração de sistemas em Gavião Peixoto.

Engenheiros. Essas são as principais empresas que devem mandar de 100 a 200 engenheiros para a Suécia para trabalharem no desenvolvimento do Gripen na Saab.

Essa será uma primeira fase do programa. Em uma segunda fase, esse grupo repassaria o conhecimento obtido para equipes no Brasil.

“Estamos muito motivados para receber os engenheiros brasileiros. Nosso pessoal toda hora quer saber quando tudo vai começar a acontecer aqui”, disse ontem ao O VALE Hans Häggrot, diretor de produção da Saab, no hangar onde o Gripen NG vai ser feito.

No local, trabalham 700 pessoas, 500 no chão de fábrica.

*Sheila Faria – Enviada Especial à Suécia/ O Vale

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