A Colômbia de Santos, país que atrai atenção

Sergio Leo

A Argentina, até recentemente a terceira maior economia da América Latina, só atrás de Brasil e México, foi ultrapassada pela Colômbia. É o que garante o Ministério da Fazenda. Da Colômbia. A comparação feita pelos colombianos merece atenção deste lado do continente, ainda que exija um certo engenho nos números. Ela se apoia na inegável consistência do crescimento na economia do país, que tem sido objeto de iniciativas tímidas de aproximação por parte do Brasil – até pelas resistências encontradas do lado andino.

A inédita e sucinta análise comparativa, para mostrar que a Colômbia está em situação bem melhor que o maior sócio brasileiro no Mercosul, foi divulgada em nota do próprio ministro da Fazenda do país, Juan Carlos Echeverry, e seu diretor-geral de Política Macroeconômica, Luis Fernando Mejia, no fim de agosto. É uma demonstração de autoconfiança que coincide com um momento de namoro entre Brasília e Bogotá.

No estudo, o ministro e o diretor-geral colombianos reconhecem que a Argentina ainda está na frente, quando se comparam os respectivos Produtos Internos Brutos (PIB), pela paridade de poder de compra – método que busca comparar as economias segundo a capacidade real de consumo de seus cidadãos e outros agentes econômicos. Mas, enquanto a economia argentina dá sinais de perder fôlego, a colombiana acelera de maneira consistente, argumentam.

 
País não pensa em entrar como sócio pleno do Mercosul

Para medir o PIB argentino em dólar, as autoridades colombianas preferiam usar a cotação da moeda no câmbio paralelo, que, em maio, ficou 36% acima do desmoralizado câmbio oficial – e é a disparada das cotações no dólar paralelo, usado como referência para calcular o PIB, que explica a ultrapassagem da Colômbia sobre a Argentina. O interessante na nota do Ministério da Fazenda colombiano é sua explícita intenção de mostrar um fenômeno que deve ser levado em conta: o país mais conhecido no Brasil pelas suas agruras com a guerrilha contaminada pelo tráfico de drogas vem se credenciando a receber maior atenção de investidores e comerciantes no continente.

Na disputa para mostrar que é mais atraente que a antes tão elegante Argentina, o ministro Echeverria deixa de lado pruridos diplomáticos e põe no papel opiniões incômodas, que renderiam interessantes conversas nos encontros da Unasul. A verdade é que, com todos seus problemas, a Argentina tem mantido crescimento econômico acima de 7% anuais em média, nos últimos dez anos (que deve se reduzir em 2012, com a forte queda prevista neste ano), enquanto a Colômbia mal superou a média de 4% nesse período. Os colombianos argumentam, porém, que as bruscas e abismais oscilações na economia argentina, somadas a decisões de nacionalização de empresas estrangeiras pioram as perspectivas da economia do país, "em médio prazo".

Com taxas de juros negativas, abaixo da inflação, e aumentos de preços que não se refletem na controlada taxa de câmbio, a Argentina já tinha motivos suficientes para sofrer um aumento nas cotações do dólar paralelo, que repicaram em maio, após a nacionalização conflituosa da petroleira YPF (uma estranha privatização, em que o sócio estrangeiro foi desapropriado, mas o nacional preservou suas ações). Os colombianos poderiam se estender nesse ponto, mas mencionam só indiretamente a interrupção de investimentos estrangeiros para a Argentina, motivo de temores sobre o futuro do balanço de pagamentos do país.

É nesse cenário que a Colômbia viu apreciar sua taxa de câmbio, refletindo o bom desempenho de suas exportações de commodities e o crescente interesse de investidores internacionais, compara o Ministério da Fazenda andino. O país foi dos poucos a manter crescimento durante a crise, argumentam as autoridades colombianas e apresenta ciclos econômicos menos acentuados que na economia argentina.

O documento não passou despercebido em Brasília, onde, embora não se endosse – pelo menos publicamente – o pessimismo colombiano em relação à Argentina, é visível o bom relacionamento com o conservador presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. A presidente Dilma Rousseff não esqueceu como Santos a apoiou durante a crise no Paraguai, com o impeachment do presidente Fernando Lugo, quando Santos, a princípio mais cauteloso, acabou endossando a reação dura ao golpe paraguaio.

Há dias, Dilma divulgou nota com elogios aos movimentos ousados do colombiano, em negociação com a guerrilha das Farcs, para pôr fim à guerrilha que rouba do PIB do país um ponto percentual anualmente, e exige gastos em torno de 5% do produto interno. Um sonho da presidente é encontrar uma maneira de trazer a economia da Colômbia – e do Chile e do Peru – para mais perto do Mercosul, se possível com alguma espécie de avançado acordo comercial.

No ano passado, fizeram-se conversas exploratórias com os colombianos, que terminaram na constatação óbvia: país que recentemente adotou um tratado de livre comércio com os Estados Unidos, a Colômbia nem cogita ingressar como sócio pleno no Mercosul, o que a obrigaria a adotar a Tarifa Externa Comum do bloco (TEC). Os diplomatas brasileiros dizem que os colombianos tem um medo inexplicável da concorrência da indústria brasileira (o que é verdade, como qualquer um pode ouvir dos próprios colombianos, no elegante castelhano falado em Bogotá).

O louvável tirocínio político de Santos, que envolveu Cuba e, principalmente, a Venezuela de Hugo Chávez nas negociações com as Farc, é uma das qualidades do colombiano, apreciadas não só em Brasília. Um eventual êxito na desmobilização da guerrilha daria um alento adicional à economia colombiana e liberaria o governo de lá para outras questões. Quem sabe, o estimado presidente da Colômbia se interesse pelo desejo da presidente do Brasil de aproximar mais, de alguma forma, as economias dos dois países.

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