Síria – Oposicionista pede armas para conter repressão na Síria

MARCELO NINIO

O que está faltando para os protestos na Síria se converterem em um levante armado, como ocorreu na Líbia?

"Armas", responde um estudante sírio que participou diariamente de manifestações contra o ditador Bashar Assad nas últimas semanas.

"As poucas armas que os manifestantes têm são leves demais para fazer frente ao poder de fogo do regime."

Ao contrário da Líbia, onde rebeldes se apossaram de parte dos arsenais do Exército de Muammar Gaddafi ao assumir o controle de bases militares, na Síria armas ainda são monopólio do Estado.

Segundo o estudante, que pediu para não ser identificado por razões de segurança, embora os protestos até agora tenham sido pacíficos, a escalada de repressão ordenada pelo regime sírio pode reverter essa tendência.

"Precisamos de ajuda externa, de preferência da ONU", disse ele à Folha, do Líbano, onde chegou há dois dias. O estudante está convicto de que os dias de Assad no poder estão contados, mas diz que o temor geral é que ele promova um banho de sangue antes de cair.

"Depois da violência do regime, não há mais volta", diz ele, que suspeita que o número de mortos no último mês seja cinco vezes maior que os 400 noticiados.

"Não são apenas manifestantes. Eu tenho três amigos que serviam no Exército e estão desaparecidos por terem se recusado a disparar contra a multidão", diz o estudante.

Joshua Landis, o mais conhecido especialista em Síria dos EUA, concorda que a escalada de repressão eleva o risco de confronto armado.

O envio de tanques e militares e a prisão de líderes da oposição objetivam não dar chance para a insurreição crescer. "É uma estratégia militar clássica. Ser duro e rápido", escreveu Landis em seu blog, "Syria Comment".

OCUPAÇÃO
Residentes de Daraa, no sul do país, relataram ontem novos ataques por forças de segurança, só um dia após milhares de soldados entrarem com tanques na cidade, cortando serviços e fechando a fronteira com a Jordânia.

O episódio resultou na morte de pelo menos 25 pessoas. Desde março, o número de vítimas passa de 400, segundo ativistas (a imprensa internacional está proibida de entrar na Síria).

Também segundo relatos, 2.000 policiais foram deslocados ontem a Douma, subúrbio de Damasco, um dos epicentros dos protestos.

A violência do regime sírio foi condenada por líderes europeus e pela Liga Árabe.

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